Capítulo 37

572 69 14
                                    

Encho a boca com o último pedaço de sanduíche sob seu olhar atento e mastigo lentamente, enquanto amasso o papel-manteiga, fazendo dele uma bola. Engulo, depois viro para encontrar seus olhos.

- É verdade.

- O que o Bailey disse?

- Não, o lance de eu ser de outro planeta.

Ela ri, e sinto um calor se espalhando por minha barriga, diferente do calor que sentia tomar meu rosto. Gosto de ouvi-la rir e saber que foi por algo que eu disse. É como a satisfação de plantar uma semente e depois colher os seus frutos, mas melhor.

- E aí? Sério. O que isso significa? Você não pode, tipo, tocar as pessoas?

Tenho uma sensação espetacular de déjá vu, minha cabeça parece voltar no tempo e estou sentada em uma pedra no pátio da minha escola do ensino médio olhando para os olhos curiosos de Bailey, no lugar da Sabina.

Sinto algo no estômago.

Eu me forço para voltar para o presente.

- Sim, esse é o ponto principal - digo.

Os olhos de Sabina se arregalam.

- Então você pode morrer ao ser tocada?

Dou de ombros.

- Hipoteticamente. Na maioria das vezes , só tenho uma erupção feia na pele. Tive choque anafilático algumas vezes quando criança, mas foi antes de ser diagnósticada, por isso não sabem se foi muito contato pele a pele que sobrecarregou meu sistema ou se eu, de alguma forma, ingeri células cutâneas, como dividir uma maçã com minha mãe ou algo assim. - Faço uma pausa. - E aí, é claro, houve o que aconteceu com o Bailey. O problema é que as alergias são imprevisíveis. Havia uma garota que era alérgica a leite , então os pais dela cuidavam para que ela nunca tomasse leite. Então, em um café da manhã, a jarra de leite virou e parte do líquido espirrou no braço dela, e ela teve um choque anafilático e morreu. Bem assim. Os pais da garota não conseguiram chegar no hospital a tempo.

- Meu Deus!

Conheço um monte dessas histórias de horror. Minha mãe as contava para mim, como se fossem histórias que outros pais liam para os filhos na hora de dormir. Eram para ser advertências, mas só conseguiram me aterrorizar.

Depois de mais alguns minutos de silêncio, ela diz:

-Eu gostaria que o Bailey tivesse isso. Uma alergia a pessoas.

Levanto as sombrancelhas para ela. Quem desejaria isso a alguém?

- Ele me traiu quando éramos casados - diz ela. - muito, eu acho.

Ah.

- Eu sinto muito.

- Eu também. - Ela encolhe os ombros, depois volta a prestar atenção em mim. - Você quase morreu mesmo?

Faço que sim com a cabeça.

- Nossa - diz ela. Ficamos sentadas em silêncio no carro enquanto isso é assimilado.

- Espere, e depois? Você não voltou para a escola. Não estava na formatura. É como se tivesse desaparecido da face da Terra. Algumas pessoas disseram que você realmente havia morrido, mas eu sabia que teria saído algo no jornal. - Faz uma pausa. - Para onde você foi?

Meus lábios se separam enquanto ela fala, depois secam com minha respiração lenta. Não posso acreditar que ela notou minha ausência na escola. Na formatura. As pessoas ficavam olhando para mim no ensino médio como se eu fosse uma coisa rara, mas não pensei que alguém tivesse me notado alguma vez. Era uma sensação estranha: ser vista, mas ser invisível ao mesmo tempo. Sempre me senti um pouco como uma aparição. Lá, mas não lá. Enfim, até Beiley me beijar. Depois, eu me senti uma tonta.

E, então, pergunto para mim mesma: Ela me procurou no jornal? Procurou minha morte? Sinto um calafrio diante da morbidez. Sabina está olhando para mim, esperando, os cílios cheios de rímel se projetando nos olhos redondos.

- Realmente não fui em lugar nenhum - digo. - meio que fiquei em casa.

- O quê... Por alguns meses?

Eu me projeto, a região dos meus ombros ficam tensos.

- Um poço mais.

- Quanto tempo?

Hesito novamente.

- Nove anos.

Seus olhos se arregalam.

- Nove? Mas, sério, você saiu né? Você não tinha que trabalhar? Só não entendo por que ninguém viu você. Porque eu não vi. Ou ouvi falar de você. Essa cidade não é extremamente grande.

Ocorre-me uma citação do meu professor do sexto ano : " Quem está na chuva, é para se molhar." Respiro fundo e chego à conclusão de que posso me abrir completamente com Sabina.

- Eu não saía de casa de jeito nenhum. Nunca. Para nada. Fiquei meio eremita, reclusa. O que você quiser chamar. E aí meio que fiquei um pouco agorafóbica, acho, e não conseguia sair de casa. Para nada. Porém, tive que sair. Fiquei sem dinheiro e precisei trabalhar. Ainda não gosto de estar fora de casa - gesticulo para a cafeteria à nossa frente - como é o caso aqui. Com outras pessoas. A biblioteca tem sido o suficiente.

Mantenho os olhos fixos no meu colo, esperando sua reação. Com o canto do olho , todavia, vejo que Sabina é uma estátua. Está em silêncio por tanto tempo que me pergunto se me ouviu. Ou se o tempo está, de alguma forma, sendo manipulado e o que parecem minutos para mim não passam de segundos para ela. Viro um pouquinho a cabeça na sua direção para dar uma olhada, e é quando ela fala.

- Então - diz. - Você não vai, tipo, à Starbucks? Ou ao cinema? Ou arrumar o cabelo?

Levanto as sombrancelhas para ela.

- Parece que arrumo o cabelo?

Ela sorri.

- Enfim, eu não poderia deixar que arrumassem meu cabelo nem que eu quisesse. Não posso ser tocada, lembra?

- Aí, meu Deus, então você nunca foi a manicure? - Ela olha para as próprias unhas brilhantes, com esmalte cintilante roxo.

- Não.

- Ou fazer uma massagem?

- Hã-hã. - Faço que não com a cabeça.

Então seus olhos ficam grandes e ela estende a mão como se fosse me deter , embora eu não estivesse fazendo nada.

- Espera. Aí, meu Deus! Você nunca fez sexo.

Ela sussurra a palavra "sexo", o que me parece engraçado, considerando que ela quase gritou a palavra "foder" em uma biblioteca alguns dias atrás. Estou perplexa com o jeito que decide quando quer ser discreta.

Nego com a cabeça.

Ela suspira e leva a mão ao peito, as unhas feitas se estendem sobre seu coração, como se para se certificar de que ainda está batendo.

- Você não tem vontade?

Reflito sobre essa pergunta como se ninguém nunca tivesse me perguntado isso. Principalmente porque ninguém nunca me perguntou isso.

- Eu não sei - digo.

Porém, então, lembro aqueles adolescentes se devorando às escondidas entre as estantes na biblioteca, e meu corpo lateja da cabeça aos pés, e me pergunto se , talvez, isso não seja verdade.

___________________✨✨__________________

Oi meus amores , como vcs estão?!
Espero que tenham gostado do capítulo!

Me Desculpe se tiver algum erro.
Não se esqueçam da 🌟 pois me motiva demais!
E também compartilhe com os fãs de Beauany que amam uma fic assim como a gente 😊
A

hh!! Deixe aqui nos comentários oq está achando ou qualquer dúvida que tiverem!
Eu não sei vcs, mas estou amando essa amizade das nossas amadas larinas!
O próximo capítulo será preocupante e emocionante! Aguardem!
Beijinhos amo vocês! ☀️💙🌙✨

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora