Capítulo 68

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Não sei ao certo o que acontece, mas, quando entramos no carro, a relativa naturalidade que tínhamos um com o outro no estacionamento desaparece e um silêncio desconcertante paira sobre nós. Enquanto saio do estacionamento, o tique-taque da seta preenche o ar, parecendo, de repente, tão alto e ameaçador quanto uma bomba nuclear pronta para explodir. Olho para ela e vejo suas mãos enluvadas fechadas sobre o colo. Ela parece tão desconfortável e tensa quanto inesperadamente me sinto, e me pergunto se isso foi uma má ideia. Ela é claramente independente, mas fui cercado por mulheres decididas a minha vida toda, e ela parece ser mais do que isso. Ela é difícil de decifrar, não que eu sempre tenha sido bom em decifrar pessoas. É fria e quente como uma torneira com comando duplo, e nunca sei o que vou encontrar. Como o que aconteceu na sua casa no sábado. Era quase como se ela nem nos quisesse lá, mas, então, quando entrei na casa depois de mexer no carro, ela e Ben estavam rindo juntos. Fiquei confuso, e não só porque não tinha ouvido Ben rir daquele jeito, bem, desde sempre, mas, meu Deus, o sorriso dela. Ocupou a sala inteira, e fiquei com ciúme - ciúme! - de um menino de 10 anos. Do meu próprio filho. Por ser para ele que ela estava sorrindo daquela maneira.

Massageio a barba cerrada em meu rosto. O que estou fazendo? Acabei de chegar aqui para fazer um trabalho temporário e dar espaço à minha filha e agora estou agindo como se fosse um estudante com uma queda estúpida pela bibliotecária.

- Você está bem?

- Hein? - viro a cabeça. Any está olhando para mim.

- Você fez um barulho. Tipo um gemido.

- Ah... Certo. Estou bem - digo, envergonhado. - Hã... Apenas um dia difícil no trabalho.

- Ah.

Antes que ela tenha a chance de perguntar sobre isso, pigarreio e mudo de assunto.

- Então, hum... Diário de uma paixão - digo. - Acabei ler no trem.

- Você leu? - pergunta ela, e não sei se é imaginação minha ou se seu corpo relaxo um pouco. - Você chorou?

- O que? Não - digo. Um semáforo à nossa frente fica amarelo. Piso no freio. - Porque choraria? Você chorou?

- Sim. Choro toda vez que leio esse livro.

- Toda... - Estreito os olhos para ela. - Espera aí, quantas vezes você leu esse livro?

- Sei lá. Seis ou sete. Mas faz alguns anos que não o leio.

Olho para ela, espantado.

- Por que raios você leria um livro seis ou sete vezes? Não me venha com esse papo de que não sabe o que acontece.

Ela me lança um olhar, um que conheço muito bem por causa de Emma, que dá a entender que é inútil explicar se eu ainda não sei.

- Tudo bem, mas esse livro? - continuo. - É tão cafona. - Estendo a mão em direção ao banco traseiro e tiro meu exemplar da bolsa aberta no chão do carro. Com uma das mãos no volante, uso a outra para virar as páginas até o exemplo que quero mostrar.

- O que está fazendo? Você não pode ler e dirigir.

-Olha, o semáforo está vermelho - digo, passando os olhos nas páginas para achar o que estou procurando.

-Não mais - diz.

Ergo os olhos e, de fato, o semáforo está verde. Olho para ela, e ela está sorrindo. Um carro buzina atrás de nós, e coloco o livro no colo.

- Bem, é a parte em que, na guerra, ele estava com um exemplar de Folhas de Relva no bolso da camisa quando levou um tiro. Lembra?

Ela faz que sim com a cabeça.

- Sim.

- Qual é! Um livro de poesia salvou a vida dele? - pergunto, rindo. - Não dá para ser mais brega do que isso.

Ela ri.

- Tudo bem, sim, talvez seja clichê em alguns detalhes, mas também é uma linda história de amor. É como Romeu e Julieta, só que do nosso tempo.

- Agora Nicholas Sparks é Shakespeare? Ah, meu Deus, isso para mim é uma blasfêmia. Ele deve estar se revirando no túmulo em algum lugar.

Embora devesse estar prestando atenção na estrada, olho de relance para Any. Ela está rendida, com os lábios se abrindo em um sorriso de um lado ao outro do rosto, e sinto um leve arrepio subir pela espinha. O mesmo arrepio que senti quando ela estava sorrindo para Ben, só que agora o sorriso está direcionando a mim.

Meu telefone toca no console onde o deixei. Imagino que seja trabalho e o ignoro. Quando fica em silêncio, pego-o e fico surpreso ao ver o nome da senhora Holgerson aparecer na tela. Sei que estou um pouco atrasado, mas lhe avisei que isso aconteceria às vezes, especialmente nessa semana, já que estou levando Any para casa primeiro. Não, deve ter mais coisa aí. Meu coração acelera quando clico no seu nome. O telefone chama e chama, mesmo ela tendo acabado de me ligar.

Meu coração pulsa forte nos meus ouvidos.

- Merda.

Viro abruptamente o volante, fazendo um retorno em U no meio da rua. Any se segurava na porta para se manter firme, mas, como ponto a seu favor, mal faz um som.

- O quê...

- É o Ben...

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