Capítulo 2

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O telefone está tocando. Tiro os olhos do livro que estou lendo e me imagino não atendendo o telefone, mas sei que vou atender. Mesmo que isso signifique ter que levantar do assento gasto da minha poltrona de veludo e andar 16 passos(sim,eu contei) até a cozinha para pegar o fone mostarda do telefone fixo,uma vez que eu não tenho celular. Mesmo que provavelmente seja o telemarketing, que liga regularmente, ou minha mãe, que liga apenas três ou quatro vezes por ano. Atendo o telefone pelo mesmo motivo de sempre: gosto de ouvir a voz de outra pessoa. Ou talvez goste de ouvir a minha própria voz.
Trimmmmmmmmmmmm!
Fico de pé.
Coloco o livro na poltrona.
Dezessete passos.
- Alô?
- Any?
É a voz de um homem que não reconheço e fico imaginando o que ele está vendendo. Um consórcio? Um novo serviço de internet com downloads oito vezes mais rápido? Ou talvez esteja fazendo uma pesquisa. Uma vez conversei 45 minutos com uma pessoa sobre meus sabores favoritos de sorvete.
- Pois não?
- É o Lenny
Lenny. O marido da minha mãe. Só o vi uma vez - anos atrás, nos cinco meses que ele e minha mãe namoravam antes de ela se mudar para Long Island. O que mais me lembro dele: o bigode que acariciava com frequência, como se fosse um cão leal anexado ao seu rosto. Ele também era formal a ponto de ser estranho. Eu me lembro de ter sentido como se tivesse que me curvar para ele, mesmo ele sendo baixo. Como se fosse da realeza ou algo parecido.
- Certo.
Ele pigarreia.
- Tudo bem com você?
Minha mente dispara. Estou bem certa de que essa não é uma ligação social, já que Lenny nunca ligou para mim.
- Tudo bem.
Ele pigarreia de novo.
- Bem, vou dizer de uma vez. Priscila... Prisci - Sua voz fica embargada, o que ele tenta disfarçar com uma tossidinha, que se transforma em um verdadeiro ataque. Seguro o telefone na orelha, ouvindo a tosse seca. Fico imaginando se ele ainda usa o bigode.
Acabando o ataque de tosse, Lenny inala o silêncio. E então:
- Sua mãe morreu.
Deixo a frase entrar lentamente no meu ouvido e se acomodar ali, como uma bala que um mágico pegou com os dentes. Não quero que vá mais longe.
Ainda com o telefone na mão, apoio as costas na parede forrada de paredes alegres de cerejas vermelhas e vou descendo lentamente até me sentar no piso rachado e surrado, penso na última vez que vi minha mãe.
Ela usava um conjunto de blusa e cardigã roxo dois números abaixo do seu e pérolas. Isso foi três meses depois do beijo que o menino me deu e eu quase morri. Como mencionei, passei o verão praticamente no meu quarto, mas também passei um tempo considerável fulminando minha mãe com os olhos toda vez que passava por ela no corredor, pensando que, se ela não tivesse se mudado de Fountain City, no Tennessee, Para Lincoln, em Nova Jersey, três anos antes, todo o incidente nunca teria acontecido.
Porém, honestamente, esse era o menor dos seus pecados como mãe.
Era apenas o motivo mais recente e mais tangível para ficar zangada com ela.
"Essa sou eu agora", disse ela, girando ao pé da escada. O movimento fez a fragrância enjoativa do seu desodorante corporal de baunilha flutuar pelo ar. Eu estava sentada na poltrona de veludo relendo A Abadia de Northanger e comendo biscoitos finos de chocolate com recheio de hortelã que tirava de um saco plástico.
" Não estou parecendo a esposa de um milionário?"
Não. Parecia a vadia de Junte Cleaver. Voltei a olhar para o meu livro.
Ouvi um som familiar de celefone amassado enquanto ela vasculha a o bolso de trás da calça à procura do maço de cigarros, e o clique do isqueiro.
"Vou embora daqui algumas horas, viu?" Ela soltou a fumaça e se jogou em uma almofada do sofá na minha frente.
Ergui os olhos , ela fez um gesto na direção da porta para a única mala que havia feito. (" É só isso que vc vai levar?", Perguntei naquela manhã, " Do que eu mais preciso?", Respondeu ela. "Lenny tem tudo". E então deu uma risadinha, tão estranha quanto as pérolas e o cardigã que usava e o rodopio que deu.)
"Eu sei", eu disse. Nossos olhos se encontraram, e pensei na noite anterior, enquanto estava deitada na cama e ouvi o pequeno rangido da porta do meu quarto ao ser aberta. Eu sabia que era ela, mas permaneci imóvel, fingindo dormir. Ela ficou lá por um bom tempo - tanto que acho que peguei no sono antes dela sair. E não sei se foi imaginação minha, ou se realmente a ouvi fungando. Chorando. Agora eu me perguntava se talvez houvesse algo que ela tivesse tentando reunir forças para dizer, um momento profundo entre mãe e filha. Ou pelo menos um reconhecimento das suas terríveis habilidades maternais das quais iríamos e diríamos algo banal do tipo :" Bem, pelo menos sobrevivemos , certo?"
No entanto, sentada no sofá, ela apenas travou o cigarro mais uma vez e disse: "Então, só estou dizendo que você não precisa ser tão maldosa"
Ah!
Eu não sabia ao certo como responder a isso, então tirei outro biscoito do saco plástico, coloquei-o na boca e tentei não pensar no quanto odiava a minha mãe. E em quanto odiá-la fazia com que eu me sentisse tão culpada a ponto de me odiar.
Ela suspirou, soltando a fumaça. "Tem certeza de que não quer vir comigo?", Perguntou, muito embora soubesse a resposta. Para ser justa, ela fez essa pergunta várias vezes e de diversas maneiras ao longo das últimas semanas. Tem muito espaço lá no Lenny. Você provavelmente vai ter um quarto inteirinho só para você. Não vai se sentir muito sozinha aqui? Ri daquela última parte- talvez fizesse parte da biologia insta de ser adolescente, mas eu mal podia esperar para ficar longe da minha mãe.
"Tenho certeza", respondi, virando uma página.

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Oii gente, tudo bem com vocês?
Mais um capítulo publicado, espero mesmo de coração que vcs estejam gostando ♥️
Se tiverem alguma coisa errada me perdoem.
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