Capítulo 81

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Deixe a  estrelinha ✨

Sentada no banco da frente do carro de Josh, soo o nariz escandalosamente em um lenço de papel que ele me deu. Ainda estamos no estacionamento da biblioteca, mas não sei exatamente como cheguei ali.

Lembro que ele me disse que estava lá para me levar para casa, e a atitude foi de uma gentileza tão inesperada que comecei a chorar incontrolavelmente, arrancando Louise da sala dos fundos. Imagino que eles trocaram alguns olhares e, então, alguém me entregou meu casaco e minha bolsa e eu segui Josh, passando pela porta da frente, mal conseguindo, em meio às lágrimas, manter os olhos na parte de trás do seu casaco.

Ele está em silêncio pelo que parece ser um tempo recorde, enquanto eu fungo o meu nariz e me desmancho em lágrimas. Quando finalmente começo a me acalmar, limpo o fluxo de muco com o lenço e respiro fundo fundo algumas vezes. Meus ombros tremem. Só então me ocorre a ideia de ficar com vergonha do espetáculo que com certeza, dei.

Olho para ele, sentado imperturbávelmente no banco do motorista, apertando e soltando o volante com a mão esquerda, a direita descansando calmamente na sua coxa. Respiro fundo mais uma vez.

- Me desculpe... Por... Hum... Tudo isso - digo, com a voz ainda instável.

Ele vira a cabeça para mim.

- Não, está tudo bem - diz. - Sinto muito pela sua mãe.

- Bem, já faz uns meses. - Fungo e limpo o nariz novamente. - Acho que tudo meio que me pegou de uma vez. Isso, pelo jeito, parece ridículo.

- Não - diz Josh. - Não.

Ficamos sentados em silêncio por mais alguns minutos.

- Vocês eram próximas? - pergunta Josh.

- Na verdade, não. Fazia nove anos que eu não a via. Eu meio que tinha ódio dela, para ser honesta.

Josh estreita os olhos para mim, e sei que está ouvindo, esperando por mais.

Porém, como explicar minha mãe? Ela fumava, usava blusas apertadas e era obcecada por homens e dinheiro. Ria de mim por prazer. E me tratava como se eu fosse sua colega de quarto. E é quando finalmente dou voz ao que está me incomodando há tanto anos.

- É que... Ela me deixou. - engulo em seco, tentando aliviar minha garganta áspera. - Me deixou quando eu mais precisava dela. Bem quando... - Penso em Beiley e na humilhação, mais sei que isso não é tudo. Não é o que está fazendo minhas mãos tremerem e meus ossos parecerem ocos. E então a mulher e a menina da biblioteca me vêm à mente, e meu peito se despedaça como vidro caindo no chão. - Ela nunca me tocou. Nunca. Não depois que fui diagnósticcada. Quer dizer, eu sei que ela não podia me dar abraços nem beijos com frequência, mas ela poderia ter, sei lá, colocado luvas e acariciado minhas costas ou apalpado minha cabeça, pelo amor de Deus! Ou... Ou... Não sei, me enrolado num cobertor e me abraçado com força. - Sei que estou divagando, mas sou um cano que se rompeu agora, sem nenhum controle sobre as palavras que jorram. - Ela agiu como se eu fosse uma pária. Quer dizer, eu estava acostumada a isso porque as crianças da escola me tratavam assim também. Mas a minha própria mãe...

Rios de lágrimas caem dos meus olhos, misturando-se ao muco que escorre do meu nariz, mas não me importo. Limpo o rosto com a mão enluvada e encosto a cabeça no apoio do banco, deixando as lágrimas caírem, até parecer não restar mais nenhuma. Fungo.

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora