Capítulo 15

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De todos os homens com quem minha mãe namorou, seu relacionamento mais curto talvez tenha sido com o triatleta que usava calças de Lycra apertadas em todos os lugares, mesmo quando não estava se exercitando. Seu nome era algo aparentemente britânico. Considerando que a única coisa que ele e minha mãe tinham em comum era o modelo preferido de calças, a relação acabou em questão de semanas, até mesmo antes que ela pudesse experimentar a bicicleta que ele comprou para ela. Ela tentou devolvê-la, mas eles não aceitaram sem o recibo, por isso ela a enfiou no galpão de tralhas atrás da casa, onde está desde então.

No sábado, vou ao galpão, quase esperando que a bicicleta já nem esteja lá, embora ache que seja um pouco tolo pensar que ela teria, de algum modo, evaporado. E lá estava ela, ao lado de uma caixa de ferramentas de metal e um saco meio vazio de adubo da única vez que mamãe pensou que talvez fosse gostar de jardinagem.

Depois de remover as teias de aranha do guidom e dos aros, e encher de ar os pneus com a bomba presa ao quadro da bicicleta, eu a tiro do galpão e a levo para o caminho de cascalhos. Tento ignorar as reações físicas agora esperadas que tomam conta do meu corpo: coração acelerado, palmas suadas, visão embaçada.

A mente é superior à matéria.
A mente é superior à matéria.
A mente é superior à matéria.

Porém, minha mente aparentemente não é mais poderosa que a matéria. Preciso de 45 minutos parando e começando, seguindo devagar e passando com a bicicleta pelo Pontiac, para finalmente ir para a rua. Olho em ambas as direções, e sinto uma palpitação quando vejo uma mulher algumas casas abaixo pegar um jornal no quintal. Luto contra a vontade de largar a bicicleta e correr. Em vez disso, fico lá, observando-a colocar o jornal debaixo do braço. Então ela ergue os olhos, olha nos meus e levanta a mão para fazer um pequeno aceno. Estou muito atordoada para me mexer. Faz nove anos que não tenho contato com ninguém. Pessoalmente, quero dizer.

Parece patético, mas não é como se eu não tivesse amigos. A internet está cheia de pessoas que só querem conversar. E, em muitas madrugadas, quando eu não conseguia dormir, eu as procurava. Uma vez eu encontrei uma mulher da Holanda que sabia tipo, 17 línguas estrangeiras e me ensinou a xingar em todas elas.( Minha favorita é o búlgaro, "Kon da ti Go natrese", que, grosso modo, significa: "Seja fodido por um cavalo")

No entanto, estar on-line, e até mesmo ao telefone, é completamente diferente de falar pessoalmente com alguém. Fico imaginando se ainda lembro como fazer isso. Para onde olho? O que faço com as mãos? Felizmente, não esperando que a reconheça , a mulher simplesmente se vira e volta para a porta da frente, como se fosse apenas um dia normal e eu, uma vizinha normal. Deixo escapar um suspiro. Ajeito a alça da minha bolsa ao cruzá-la no meu peito, relaxo no assento, dou um impulso no chão com um dos pés e vou balançando de um lado para o outro até a calçada.

Quem quer que tenha dito " é como andar de bicicleta" para expressar que uma habilidade uma vez aprendida não é esquecida, é um idiota. Aprendi a andar de bicicleta quando criança, e não é nada parecido com isso. Há marcha, por exemplo. E eu não faço a mínima idéia do que fazer com elas. Enquanto estou parada tentando mentalizar tudo oq eu devo fazer, ouço atrás de mim um carro se aproximando. Mesmo andando bem devagar - os pedais estão tão duros que é quase como se estivessem colados no lugar-, entro em Pânico e aperto o freio, sacudindo acidentalmente o guidom e tombando a bicicleta sobre um arbusto ao lado da caixa de correio de alguém.

O carro passa por mim e meu corpo congela, querendo que ele continue. Que não seja um bom samaritano a fim de ver se estou bem. Não é. Espero o carro dobrar a esquina e só então  respiro de volta. Depois me levanto, pego a bicicleta, ajeito novamente a minha bolsa e subo de novo. Depois de mais algumas tentativas, consigo mantê-la fome e , com um estalo de sorte da corrente, os pedais milagrosamente ficam mais fáceis de empurrar. Vou até o fim da rua . No sinal "Pare", viro à esquerda para a Plumcrest e, em seguida, saio do bairro, pilotando cuidadosamente a bicicleta no acostamento estreito.

Os carros passam por mim, a fumaça deles enche meus pulmões, e me sinto exposta, como se estivesse me esquecido de colocar as minhas calças. Seguro no guidom com mais firmeza, os ombros tensos como uma vara de aço. Estou indo ao Wawa, que fica ao lado da CVS,e me ocorre que talvez não esteja mais lá. Como eu saberia se estivesse fechado? Ou ido para outro lugar? Ou pegado fogo? Meu coração bate mais forte, até que faço uma curva e vejo o sinal vermelho familiar em Itálico.

Respirando forte, pedalo até a frente da loja e, com cuidado, saio de cima da bicicleta. minhas virilhas e coxas estão suadas por causa do trajeto, e minhas pernas estão tremendo.

Consegui! Saí de casa durante o dia. Estou em um posto de gasolina. Fecho os olhos e inalo o ar inebriante e tóxico.

Mas, e agora? Fico olhando para a porta de vidro, cuja campainha anunciada a saída de um homem com um boné verde e camisa de flanela. Ele olha pra mim, e olho para baixo. Depois que passa, deixo a bicicleta encostada na porta e entro por onde ele saiu. Ando pelos corredores até encontrar um galão de plástico vermelho para gasolina, levo-o ao caixa e o coloco diante de uma mulher com dentes superiores muito salientes e óculos em formato de gatinho. Ela não olha para mim enquanto pega o galão e escaneia o código de barras.

- Você quer encher isso?

Sua voz me pega de surpresa. E, assim como eu temia, comecei a entrar em Pânico - não sei para onde olhar ou oq fazer com as mãos. Ouço a voz da minha mãe no meu ouvido : Apenas sorria. Porque você tem que ser tão seria o tempo todo? Então, sorrio. Coloco um grande sorriso no rosto, mostrando os dentes para essa mulher que ainda está esperando pela minha resposta.

Ela me encara de um jeito que tenho certeza de que reserva para idiotas, e meu rosto começa a queimar.

- Quer que eu cobre a gasolina para encher isso? - pergunta lentamente. - Ou só vai comprar o galão?

Paro de sorrir.

- Ah, hã. A gasolina também.

Ela faz um sim com a cabeça e aperta algumas teclas da caixa registradora.

-Vinte e um e setenta e três.

Faço a minha bolsa e roço a nota de vinte dólares que está lá desde o ensino médio - não precisei de dinheiro vivo na última década. Porém, uma vez que não é suficiente, deixo- o na bolsa e pego o cartão de débito, tentando não imaginar o saldo cada vez menor na conta. Entrego- lhe o cartão e , se ela nota as luvas ou acha estranho, não diz nada. Apenas passa o cartão na maquininha de o devolve para mim. Viro-me imediatamente para sair, cabisbaixa.

- Seu galão! - grita atrás de mim.

Ah, é verdade! Volto, pego-o com a minha mão enluvada e saio em direção às ambas.

Consegui! saí de casa. Falei com alguém. E agora estou pegando a gasolina. Como uma pessoa normal. Mas, assim que começo a relaxar um pouco e me parabenizar pelas realizações do dia, ouço meu nome. 


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Oi genteeee, como vcs estão?!
E aí quem será que está chamando a Any?!
Espero que vcs estejam gostando da fic.
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Beijinhos até amanhã 😊

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