Capítulo 14

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Eu realmente não acredito em auras, energias ou qualquer uma dessas coisas paranormais. Por isso não posso explicar por que repito o ritual na manhã seguinte, e em todas as manhãs desde então, mas o lugar mais longe aonde consegui ir até agora é minha varanda.

Na sexta-feira, depois de comer meus ovos e a torrada, decido que hj será o dia. Vou entrar no carro e ir pra longe de casa. Isto é, se eu conseguir lembrar como dirige. Só tive carteira de motorista por um ano , isso foi antes de minha mãe ir embora e eu não era muito habilidosa. Na maioria das vezes, batia em algo. Uma vez eu acertei um pássaro e vi pelo retrovisor seu parceiro se precipitar do céu do céu, gasnando, horrorizado, com sua morte. Não dirigi por duas semanas depois disso e ainda posso ouvir as granadas agudas se fechar os olhos e tentar o bastante.

Depois do café da manhã, visto-me e desço lentamente a escada, retardando o inevitável. Ao final da escada, dou uns tapinhas no meu pulso,pego a bolsa, coloco as luvas e saio em direção ao ar fresco de outubro.

Estou sentindo como se o mundo fosse muito grande. Como se o espaço ao meu redor não tivesse fim, como o tijolo daquele edifício. Causa vertigem - minha visão embaça, meu coração lateja nós meus ouvidos e minhas palmas ficam escorregadias por causa do suor.

Seguro o corrimão de ferro à minha frente para me equilibrar. Engulo o nó que sinto na minha garganta, querendo que meus olhos ajustem o foco, que minha cabeça pare de girar, que minhas mãos parem de tremer. Eles não obedecem. Tenho a sensação de que vou desmaiar. E depois? Não só estarei do lado de fora, mas inconsciente e vulnerável.

Meu coração lateja mais forte, mas me recuso a desistir.

Sento-me no degrau mais alto, enchendo os pulmões de ar. Então começo as batidinhas. Concentro-me nas batidas monótonas da ponta dos meus dedos até o meu coração desacelerar e minha visão  se restabelecer.

Olho para um lado e outro da rua, procurando por lixeiros, vizinhos passeando com cachorros e crianças em bicicletas. Está vazia. Percebo que estou surpresa por estar vazia. Quer dizer, eu não esperava um desfile ou qualquer coisa, mas esse é um acontecimento monumental. E acho que eu esperava pelo menos alguns vizinhos de queixo caído, com um acinho na mão, olhando, incrédulos, para mim, imaginando coisas que iam desde: Lá está ela. Ela ainda mora aí. Até: Eu pensei que ela estivesse morta. Mas estou sozinha. Talvez ninguém tenha pensado em mim de jeito nenhum.

Levanto-me com as pernas trêmulas, aperto minha bolsa mais firmemente com a mão fechada e fixo os olhos no Pontiac da minha mãe, na entrada da garagem. Posso vê-la tão nitidamente atrás do volante que tenho que examinar pela segunda vez para constatar que ela não está no assento do motorista.

Abaixo a cabeça, e , de alguma forma, meu corpo descerá os três degraus da varanda e , então, seguirá em linha reta até o carro. O cascalho se quebra debaixo do meu salto, e concentro toda a minha atenção no som que ele faz até minhas coxas tocarem o para-choque dianteiro. O contato dá algum tipo de pequeno alívio. Cheguei. Ao carro, pelo menos.

A saia da minha mãe, que estou usando, lustra o para-choque metálico a cada passo que dou até chegar do outro lado do carro. Marcas de ferrugem e de pó agora sujam o tecido bege, mas não me importo. Só quero entrar no carro.

E então estou dentro. Fecho a porta com um tum! e encosto a nuca no assento estofado, coberto de manchas de Pepsi e furos de cigarro - minha mãe nunca parou de fumar, como disse àquele repórter naquele artigo do Times. Eu achava repulsivo, mas agora me conforto com a familiaridade disso. E com o fato de que uma caixa de metal agora me separa do mundo exterior. Expiro.

Então com as mãos ainda trêmulas, coloco a chave na ignição e a viro.

Nada.

Tento de novo.

Faz um cof cof , mas não pega. Inclino-me para a frente e checo o indicado de combustível. O ponteiro pequeno está abaixo do R vermelho. Esse é provavelmente o menor dos problemas do carro depois de ficar parado por tanto tempo, mas esta é extensão do meu conhecimento sobre carros. Se não der partida, coloque combustível.

Tiro a chave da ignição, saio do carro e volto triturando o caminho de cascalhos até a varanda da frente. Subo os degraus, dois de cada vez , abro a porta e entro. Sei que deveria fazer  uma pesquisa no Google sobre o assunto. O carro. Descobrir o que há de errado com ele e como consertá-lo, assim como fiz quando houve um vazamento no vaso sanitária do banheiro do andar superior, e tive que descobrir como substituirá o anel de vedação. Mas chego à conclusão de que vou começar com o combustível primeiro e depois seguir a partir daí. Amanhã. Nesse momento, tiro a saia da minha mãe, me enfio em uma blusa e calça de moletom, e me aninho na poltrona com meu exemplar cheio de orelhas de Longe desde insensato mundo.

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