Capítulo 47

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Acordo com um sobressalto pela manhã, os cabelos grudados no rosto e o travesseiro molhado de suor. Estava tendo um pesadelo. Com as mãos de Josh. Seus dedos estavam inchados, exageradamente grandes, como em um desenho animado, e tocavam os meus - os envolviam, na verdade - , a ponta dos seus polegares esfregavam os nós dos meus dedos. Eu tentava lhe dizer para parar, que não posso ser tocada, mas era como se eu estivesse debaixo d'água, como se minha boca não obedecesse ao meu cérebro, como se minhas palavras fossem roubadas no ar, incapazes de cumprir seu dever de serem ouvidas. Quanto mais difícil era mover a minha boca, mais eu tentava, até que eu fiquei paralisada de medo, e o pânico consumiu cada nervo do meu corpo.

Sento-me, tentando desacelerar meu coração disparado, mas, enquanto respiro fundo, repassando a cena na minha mente, quase posso sentir o calor áspero dos seus dedos na minha pele. Ou como imagino que seria - faz tanto tempo que não sou tocada. Desde que o doutor Benefield me colocou naquela sala de isolamento plástico quando eu tinha seis anos. Pouco antes de ser diagnósticada, antes do momento no qual meu mundo inteiro mudou. Durante meses e anos depois, tentei me lembrar daquela última interação com minha mãe. A última vez que ela me tocou. Ela apertou meu rosto? Beijou o alto da minha cabeça? Envolveu seus braços em torno do meu corpo minúsculo e me apertou muito? Tenho certeza de que disse algo reconfortante como : "Vai ser só uma semana. Estarei aqui ,querida". No entanto , as palavras não importam. Se ao menos eu soubesse que era a última vez que seria tocada , a última vez que sentiria a palma da sua mão no meu braço, sua respiração no meu rosto, eu teria aguentado um pouco mais, gravado a sensação da ponta dos seus dedos na minha pele. Teria procurado me lembrar.

Só que não foi assim. E agora, sentada na minha cama, a tentativa de lembrar o toque do Josh em meu sonho - realmente senti-lo em minha pele - é o mesmo esforço inútil que fiz por anos tentando lembrar o último toque da minha mãe. E, então, à medida que meu batimento cardíaco desacelera, começo a me perguntar se realmente foi um pesadelo. Pergunto se meu coração estava palpitando porque eu estava apavorada - ou porque foi muito maravilhoso.

- Foi bom o seu final de semana, querida? - Pergunta Louise quando vou para o balcão na segunda de manhã. Ela se vira para olhar para mim e suspira.

- Ah, querida - diz, cobrindo a boca com a mão. A erupção cutânea em torno da minha boca havia diminuído quando olhei no espelho antes de sair, mas algumas manchas vermelhas persistiam e meus lábios ainda estavam um pouco machucados e inchados. Encontrei um tubo de batom na cômoda da minha mãe, mas só serviu para acentuar o problema, por isso tirei.

- O quê aconteceu? - pergunta Louise.

Meus ombros ficam tensos e, em silêncio, castigo-me por não ter preparado uma resposta. Eu esperava que ninguém percebesse.

- Reação alérgica - digo. Uma vez que a resposta não parece satisfazê-la, acrescento: - Batom novo. - porque é a primeira coisa que passa na minha cabeça.

- De que marca? Me lembre de nunca comprar essa.

- Não lembro - digo francamente quando Roger se aproxima do balcão segurando uma caneca de café.

- Bom dia senho... eita! - diz olhando para mim.

- É apenas uma reação alérgica - diz Louise, mandando-o embora com a mão. - E não é de admirar, de verdade. Você sabe o que colocam no batom? Insetos esmagados. Insetos! E chumbo, acho, se não me engano. Li um artigo sobre esse assunto há algumas semanas.

Olho para uma pilha de devoluções sobre a mesa e começo a examiná-las, enquanto a conversa de Louise e Roger se transforma em uma discussão sobre coisas estranhas na comida, como partículas de tapete usado para praticar ioga no pão de forma. Eu me desligo deles, por isso não sei ao certo se ouvi direito quando , cerca de cinco minutos depois , Louise diz:

- Não importa, vamos todos ser demitidos de qualquer jeito.

Minha cabeça vira rapidamente na direção dela.

- O quê?

Ela olha para mim.

- Ah, não ouviu? Marry está em outra briga grande com a cidade, tentando evitar que nossa verba seja cortada de novo. Tínhamos quatro assistentes no balcão, da para acreditar? Mas aquele idiota do Frank Stafford, presidente do Conselho de Finanças da cidade, continua a concentrar o dinheiro no centro de recreação, porque o filho dele joga em um time mirim de futebol americano, e ele está convencido de que o menino vai ser o próximo Ted Brady, que é um quarterback, certo?

- Eu acho que é Tom - diz Roger.

- Ted, Tom - diz ela balançando a mão. - Enfim, ela tem tentado provar que somos importantes para a comunidade, mas o número de visitantes está baixo e os programas que temos quase não têm participantes...

- Podemos mesmo ser demitidos? - interrompo.

- Ah, querida - diz ela, e estende a mão para dar tapinhas na minha mão enluvada. Afasto-me dela. - Não quis alarmar você. - Suspira. - Mas não sei mesmo como vamos manter as portas abertas e as luzes acesas se cortarem ainda mais o orçamento. Já está escasso como está.

Fico olhando para ela, minha cabeça gira. Esse trabalho basicamente caiu do céu, e não posso perdê-lo. Preciso do dinheiro. E, apesar de tudo, estou praticamente à vontade aqui. Não consigo imaginar a ideia de procurar outra coisa, entrar em todos aqueles edifícios estranhos, conversar com pessoas novas. Só de pensar, em torno ameaça aperta meu coração e fazê-lo parar de uma vez por todas.

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