Capítulo 101

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Maratona 5/?

Deixe a estrelinha

UM DOS BENEFÍCios de morar sozinha é não ter ninguém para testemunhar seu comportamento mais patético. Naquela noite, ignoro os dois telefonemas de Sabina- dois para  meu celular e um para meu
telefone residencial (que imagino ser dela, embora suponha que poderia ser uma operadora de telemarketing querendo discutir sabores de sorvete) - e me entrego a minha própria fossa. O traje? O casaco de moletom de Wharton, de Josh, já sem o cheiro dele, uma vez que lavei. Mesmo assim levo o colarinho ao nariz, inalando sua memória. Em seguida, vou para a cozinha e faço uma travessa de rabanada capaz de alimentar uma família de seis pessoas e a levo para o sofá. Ligo a TV, levando pão à boca com uma das mãos e trocando os canais com a outra, até que paro em um documentário sobre o Projeto Montauk. Paro no meio da
mordida, lembrando-me de Aja ao ver os alienígenas. Começo a chorar e a assoar o nariz freneticamente, minhas lágrimas se misturando com o açúcar e a canela grudados nos meus lábios.

Sinto falta dele, mais do que imaginava que sentiria. E sinto falta de Josh, embora me odeie por isso. É tão lamentável, tão infantil, como se estivesse de volta à escola, sonhando acordada com Bailey. E veja o
estrago que isso fez. Mas, principalmente, odeio me sentir mais sozinha do que já me senti nos nove anos em que realmente estive sozinha.

Quem me dera nunca ter saído de casa. Apenas ter deixado o dinheiro acabar e morrido de fome quando a comida acabasse também. Teriam me encontrado quando o despejo fosse o último recurso – talvez eu teria até aparecido no The New York Times outra vez: "Garota que não podia ser tocada morre em cima de milhares de livros."

Exausta, estico-me no sofá e levo o colarinho do casaco de Josh ao meu nariz ranhento novamente, consolando-me com o único lado bom de toda essa confusão: pelo menos descobri as coisas sobre Josh antes de
tentar a imunoterapia. Não posso acreditar que cheguei a considerar ela. E se tivesse funcionado? Sem dúvida, não teria dado tempo. Ele já estaria em New Hampshire há muito tempo. Mas, na teoria, se tivéssemos
podido nos tocar, se eu tivesse sentido a força dos seus braços em volta de mim, a barba áspera do seu queixo no meu rosto, seus lábios secos e rachados nos meus – em vez de só ter imaginado – isso teria sido muito pior. Não teria?

Agarro o tecido do casaco e o aperto cada vez mais, esperando que a tensão latejante na minha mão diminua a dor aguda do buraco de ilusão que se abriu em meu peito.

Mas isso não acontece.

NO DOMINGO, DESPERTO do meu sono com uma batida brusca na porta.

Sei que é Sabina . Venho ignorando seus telefonemas há quatro dias e
ela deu uma passada na biblioteca ontem enquanto eu estava na sala dos
fundos. Pedi a Roger que lhe dissesse que eu não estava lá.

- Mas acabei de falar: "Ela está na sala dos fundos. Vou chamá-la"- respondeu ele.

-Diga a ela que você se enganou.

Ele revirou os olhos, mas fez o que pedi.

Sei que preciso encará-la em algum momento, e imagino que este seja
o melhor de todos. Enfim, melhor do que fazer uma cena na biblioteca. Desço correndo as escadas e abro a porta de uma só vez para...

Josh. Ele dá de cara comigo, começando com meus olhos arregalados,
meu queixo caído, e depois mais caído.

-Bela camiseta diz.

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora