Capítulo 73

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Deixe sua estrela✨

- Usei uma blusa - digo. - Hum... Que não é minha.

- Humm. - Ela bate de leve nos lábios com a caneta. - Poderia ser. Especialmente se a pessoa a usou antes de emprestá-la para você.

Penso no cheiro da blusa;nada de cheiro de sabão, mas de um perfume incrível, como ele. Quando ela cogita essa possibilidade, tenho certeza de que essa é exatamente a causa.

- Quando usou pela última vez?

- Humm... Na noite passada.

- Mas a erupção começou antes disso, certo? - E volta a olhar para suas anotações. - Há uma semana?

Sinto um rubor subir pelo pescoço.

- Eu, hã... Meio que a estou usando toda noite. Nunca reagi a isso antes; lençóis ou qualquer coisa de outras pessoas - digo, pensando nas minhas travessuras de infância na cama quente da mamãe e nos vestidos do seu armário que eu colocava para brincar.

A doutora Zhang assente.

- As alergias podem ser estranhas assim. Uma vez peguei um paciente que comeu camarão a vida toda e, de repente, aos 26 anos, quase morreu em um buffet de frutos do mar. É um mistério. Esse é um caso extremo, mas dá para entender o que quero dizer. As alergias, e o que as provacam, podem mudar de modo inexplicável. - Ela apoia o bloco de notas na bancada - Então, que tal isso? Nada mais de pegar roupas emprestadas, a não ser que estejam limpas - diz, abrindo a torneira na pia. - E, por acaso, você não pode lavar esse casaco?

Posso. Penso nisso. E fico  surpresa ao descobrir que a ideia, de certo modo, me deixa arrasada.

A doutora Zhang esfrega as mãos debaixo do fluxo de água e coloca as luvas de borracha.

- Agora, vamos fazer um exame completo, preparar uma receita de hidrocortisona com epinefrina para você seguir em frente. Tudo bem?

Depois do exame, eu me visto e vou me sentar no consultório da doutora Zhang enquanto espero por ela. Tento me lembrar da consulta há 12 anos, com minha mãe sentada na cadeira de plástico ao meu lado. Tenho certeza de que ela estava usando algo bem decotado  e provocativo, mas não consigo visualizar a roupa exata. E percebo, alarmada, que não consigo visualizar a minha mãe. Posso ouvir sua voz, clara como água, mas seu rosto está um pouco embaçado.

A doutora Zhang entra e se senta à mesa, de frente para mim.

- Então - diz. - Any. Não quero causar uma ansiedade desnecessária, mas o que está me preocupando é que sua pele está reagindo ao contato indireto agora.

Olho para ela.

- Por usar a roupa de outra pessoa - esclarece. - Você precisa tomar o máximo de cuidado até que  possamos resolver isso - diz. - Isso significa não tocar absolutamente em nada. Sei que você sabe disso, mas enfatizar nunca é demais. Não temos ideia de como seu corpo vai reagir.

- Tudo bem - digo, mas só o que estou realmente ouvindo é "até que possamos resolver isso", e sei que essa é a parte que ela vai pedir para me examinar. Para me transformar em um dos seus projetos de pesquisa. Essa também é a parte em que vou embora. Mais uma vez.

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora