Capítulo 9

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Enquanto Ben está escovando os dentes e terminado de se arrumar para ir para escola, volto a olhar o peixe. Decididamente ele está de barriga para cima agora . Dando-lhe o benefício da dúvida, vou lá e cutuco ele com o lápis, mesmo assim nada acontece. Suspiro. Talvez Ben não repare nisso também.

Meu telefone vibra no bolso. Coloco o lápis na prateleira ao lado do aquário e pego o meu celular.

-Ei, Joalin - cumprimento minha irmã.

Foi por causa dela que me mudei para esse distrito tranquilo a apenas 12 quilômetros de distância da silhueta de edifícios de Manhattan. Nova York em si estava fora de questão por causa do preço absurdo do aluguel e até mesmo de escolas públicas piores, mas eu provavelmente teria escolhido uma cidade mais popular- e populosa - como Hoboken ou Elizabeth se Joalin não estivesse em Lincoln pelos últimos oito anos. É como voltar para para uma época diferente, dizia ela. O centro é tão charmoso, com lojinhas graciosas e vistas deslumbrantes do rio. E as escolas são muito boas. Eu não dava a mínima para o Rio, mas ela me ganhou com as escolas. - e o fato de que eu estaria a poucos quilômetros de distância e poderia aparecer para me ajudar com o Ben se eu precisasse.

- Primeiro dia de aula - diz ela, ignorando as saudações e indo direto ao ponto com o seu jeito de advogada. Sim, meus pais criaram um contador e uma advogada, e , embora muitas vezes nos Digam, em nossas reuniões de família tradicional, o quanto estão orgulhosos de nós, às vezes me pergunto se não estão um pouco desapontados com os chatos que seus filhos se tornaram. - Ele está pronto?

- Quase. Embora eu ache que talvez ele tenha um novo interesse em explodir coisas.

- Não são todos os meninos que têm?

Tento lembrar se alguma vez em minha infância eu já tive vontade de explodir coisas.

- Não acho que já tive.

Ela bufa.

- Não, acho que você estaria mais para um caso à parte no departamento de assumir riscos.

-Ah, é? - pergunto. - Ei, falando nisso... Como foi o salto  paraquedas no fim de semana passado? E a fazenda de cascavéis? Mexeu com muitas delas?

- Haha. Muito engraçado.

- Só estou comentando. O sujo e o mal-lavado, tipo assim.

-Sim, mas não estamos falando de mim.

- Não.- digo. - Ultimamente, parece que nunca falamos de você. - Preocupo meu café na prateleira ao lado do aquário e percebo que o deixei na cozinha.

-Bem, não é a minha vida que está implodindo.

- Obrigado. Isso é muito útil.

- Não há de quê- diz ela. - Mas,sério, como estão as coisas?

- Bem - digo, entrando na cozinha e fitando minha cabeça sobre a mesa. Dou os últimos goles e pego o bule no balcão para encher uma segunda xícara. ( Vou parar na segunda hoje. Claro que diminuir aos poucos é a melhor maneira de acabar com um hábito do que parar de uma vez.) - Não consigo achar as outras canecas de café - digo a Joalin. Depois rio.

Como se as canecas desaparecidas fossem o pior dos meus problemas. Estou a quatro estados de distância da minha ex-mulher e da minha filha, que não está falando comigo. Arranquei meu filho - que, verdade seja dita, não lida muito bem com mudanças - da única cidade que ele já conheceu, dos únicos amigos que já teve, da cidade onde seus pais estão enterrados, pelo amor de Deus, e o estou fazendo ir a uma escola nova com crianças que ele não conhece. Ah, e ele está a fim de explodir coisas.

E o peixe está morto.

- É só por seis meses - diz Joalin, ignorando meu comentário sobre a caneca de café e indo direto ao xis da questão, como sempre faz. - Você fez a coisa certa.

"A coisa certa" . É como um salmão escorregadio que venho tentando pegar com as mãos em um rio durante toda a vida. A coisa certa é o motivo pelo qual Stephanie e eu nos casamos assim que saímos do ensino médio quando descobrimos que eles estava grávida de Emma. A coisa certa é o motivo pelo qual adotei o Ben quando Sina e Noah morreram em um acidente de avião, mesmo contra a vontade de Stephanie. Coisa certa é o motivo pelo qual deixei Emma viver com a mãe depois do divórcio, muito embora nenhuma parte de mim quisesse passar um dia que fosse sem ela.

Porém, a mudança para Lincoln, em Nova Jersey, para que eu possa trabalhar no escritório da minha firma em Nova York como substituto da analista financeira sênior durante sua licença-maternidade - embora eu tenha dito para mim mesmo que isso não só me faria chegar mais perto do sonho de ser um dos sócios, mas que seria bom para recomeçar a vida, seria uma aventura para Ben e nos aproximaria de minha irmã - está começando a aparecer um pouco egoísta e muito como uma figa , e nem remotamente como a coisa certa para qualquer pessoa além de mim.

- Emma - digo, visualizando imediatamente seu nariz arrebitado, os cabelos ondulados cor de caramelo que emolduram seu rosto redondo e seus olhos de boneca. Mas não. Eu a estou descrevendo como se fosse uma criança, não como uma adolescente de 14 anos que é agora, o rosto fino revelando bochechas contornadas, os cachos que estavam ficando lisos. Quando eles se tornou essa pessoa, essa jovem mulher? E como não me dei conta?

Só percebo que eu disse seu nome em voz alta quando a voz de Joalin amolece.

- Ah, Josh - diz ela. - Não acho que Emma esteja muito preocupa agora com o lugar onde você vive.

E, mesmo sabendo que é verdade, não posso explicar por que ouvir isso em voz alta dói tanto.

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Mais um capítulooo.
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Beijos até amanhã 😊♥️♥️

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora