Capítulo 65

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[Barbara Passos]

Fui despertada com o celular de Victor tocando. Me espreguicei na cama olhando Victor finalmente atender a ligação.
Victor: oi, sim, sou eu mesmo — disse ao telefone.
Fiquei ali ainda extasiada pela noite de ontem observando ele.
Victor: nossa, eu não sabia que seria tão rápido assim. E-eu... — ele se levantou e foi até meu banheiro. O que seria rápido? Permaneci deitada e esperei que ele voltasse, mas algo em sua expressão segundos depois quando retornou para a cama perto de mim me fez ficar receosa.
Babi: o que foi, meu bem? — perguntei tentando captar qualquer outra expressão diferente em seu rosto que pudesse me aliviar.
Victor: Bárbara, nós precisamos conversar — disse sério olhando em meus olhos — antes disso, preciso que você saiba que tentei ir contra isso desde o primeiro momento.
Babi: você está me deixando nervosa.
Victor: meu pai fechou com uma empresa de carros, eles cobrem um salário maior do que a que seu pai paga e vão cobrir todos os custos com... — ele abaixou a cabeça, eu ainda não entendia o problema — com o deslocamento.
Babi: que deslocamento, Victor?
Victor: a sede que meu pai vai trabalhar é em Munique, na Alemanha. Nos mudaremos daqui duas semanas — disse e finalmente pude sentir as lágrimas rompendo a barreira e descendo pelo meu rosto. Victor imediatamente me puxou para seus braços, me apertou forte a fim de me acalmar — escuta, nós podemos levar isso a diante. Eu me formo em dois anos, vou voltar pra você —isso me fazendo olhar em seus olhos — eu vou voltar, Bárbara.
Meu coração estava esmagado com a notícia. Sair de um relacionamento desgastado pela distância e quando finalmente me encontro em outra pessoa e me entrego mesmo com tantos receios, sou pega na mesma armadilha do destino.

Babi: Victor, eu não sei se consigo — limpei as lagrimas que ainda insistiam em rolar livres pelo meu rosto — não de novo, não agora.
Victor: Barbara... — disse segurando meu rosto — nós podemos tentar.
Babi: me deixa ficar sozinha, preciso processar isso tudo — falei retirando sua mão de meu rosto — você me pegou de surpresa.
Victor: eu vou pra casa, a gente conversa quando você estiver pronta — assenti.
Ele se aproximou dos meus lábios, deixou um beijo demorado e se afastou. O ar frio deixado no quarto após sua saída me fez desabar ainda mais contra meu travesseiro. Isso não podia ser sério.

Depois que desabei sob meu travesseiro, adormeci. Depois de algumas horas acordei desejando que tudo aquilo fosse um sonho e que Victor ainda estivesse deitado do meu lado me esperando com aquele sorriso que sempre me despertou arrepios. Mas era real, meu Victor longe de mim por dois anos ou talvez mais, quem sabe, ninguém controla o destino. Parte de mim quer topar isso, aceitar espera-lo, mas a outra parte, a parte que foi machucada ainda está ali me torturando para que eu desista antes que seja tarde e me machuque, de novo. Não sei qual parte devo ouvir, sinceramente, meu desejo no momento era parar de ouvir meus pensamentos.
Levantei da cama e fui pro banho, deixei que a água levasse as poucas lagrimas que eu não conseguia segurar. Depois de alguns minutos finalmente criei coragem para sair daquele box. Passando por minha cama, peguei meu celular com algumas mensagens de Victor.

Whatsapp on • Victor Augusto:

Victor: meu bem, me manda mensagem quando estiver melhor
Victor: eu te amo pra caralho
Victor: a gente só precisa conversar

whatsapp off

Não consegui responder, só deixei meu celular na cama de volta e saí do meu quarto.
Quando passei pela cozinha encontrei  minha mãe mexendo em seu celular na mesa.
Mãe da Babi: Filha, onde vai? — perguntou ao me ver pegando as chaves.
Babi: vou ver como o Antônio está. Volto mais tarde, tudo bem?
Mãe do Babi: ok, Victor vai com você? Mande um beijo pra ele! — disse já se virando para o balcão.
Franzi a testa.
Babi: não, mãe. Ele não vai — falei com a voz baixa.
Saí e fui direto pra casa de Antônio. Alguns minutos na estrada e finalmente cheguei. Bati na porta, não obtive resposta, tentei bater de novo mas antes mesmo de encostar, Antônio apareceu logo atrás de mim com as mãos sujas de terra.

Antônio: bom, a menos que espirito de minha bela esposa ainda esteja aí, ninguém vai abrir essa porta pra você, minha querida — disse com um sorriso no rosto subindo as escadas e abrindo a porta, logo me dando passagem para entrar também.
Babi: vim ver como o senhor estava — falei deixando minhas chaves na mesa e o seguindo pra cozinha — mexendo com sua horta?
Antônio: rosas, decidi plantar algumas mudas ao redor da chácara — disse com um sorriso orgulhoso no rosto — todas vermelhas, do jeito que minha amada gostava.
Babi: espero que floresçam rápido — falei me dirigindo até a janela, fiquei ali respirando o ar fresco que aquele lugar tinha. Antônio se aproximou de mim depois que lavou suas mãos, se encostou na janela e ficou ali por alguns segundos me observando.
Antônio: tem algo te incomodando, acertei?
Babi: é, acho que tem sim — suspirei.

Antônio: vem, vou passar um café enquanto você me conta o que ta te deixando pensativa.
Acompanhei Antônio até a parte de fora da chácara, ele deixou a água esquentando e se sentou do meu lado.
Babi: Victor vai embora — falei finalmente liberando todo ar que eu prendia nos pulmões. Eu precisava muito ter minhas ideias clareadas.
Antônio: o safado nem me contou nada — disse cruzando os braços. Ri do comentário.
Babi: nem ele sabia direito até receber uma ligação hoje de manhã — respirei um pouco juntando os pensamentos — ele vai daqui duas semanas. Alemanha, longe não é?
Antônio: Um pouco. Mas qual o problema?
Babi: não sei se consigo manter outro relacionamento à distância, mesmo sabendo que ele pode voltar, sinto que desenvolvi um trauma quanto a isso, sabe? — suspirei tentando conter as lágrimas.
Antônio: sei sim, querida. Isso deve ser difícil para qualquer um — falou se levantando para pegar a água — abrir mão de ter seu amor sempre por perto para que ele voe para longe é um exercício difícil, e se você não se sente bem para manter uma relação assim novamente, Victor vai te compreender, sei que vai.
Babi: logo agora que tudo tava indo tão bem... 

Antônio: a vida tem dessas, talvez isso seja um teste com vocês dois.
Babi: um teste? — perguntei desdenhando.
Antônio: sim, um teste para ver o quão forte é o fio entre vocês dois — disse voltando até a mim e servindo o café — almas gêmeas costumam carregar um fio vermelho, esse fio vermelho permanece com eles mesmo que não estejam juntos, longe um do outro, com outras pessoas... Babi: que baboseira, Antônio.
Ele continuou, ignorando completamente meu comentário.
Antônio: esse fio sempre vai existir porque ele liga essas duas almas, então se Victor for a sua outra ponta do fio vermelho, ele vai voltar pra você mesmo que deixe ele ir sem amarras — disse ele com um pequeno brilho nos olhos. Fiquei pensativa por alguns minutos.

Babi: ela era sua outra ponta do fio vermelho? — perguntei a respeito de sua esposa.
Antônio: ainda é — respondeu sorridente.
Babi: ainda?
Antônio: nem a morte é capaz de romper esse fio, ela apenas o alarga para que as duas almas se reencontrem em outra vida, minha filha.
Sorri com isso, seja o que for, me deixou esperançosa quanto a Victor. Mas a dor de saber que eu não o teria todos os dias mais ainda estava viva.

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