Capítulo 75

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[Bárbara Passos]


A segunda feira chegou e eu me sentia incapaz de voltar pra minha casa. Eu preciso de mais alguns dias com meus pais, meu corpo está destruído assim como meu emocional. Eu não havia até hoje experimentado a dor do luto. Resolvi tentar pelo menos deixar meu quarto por algumas horas, pegar um pouco de sol. Amarrei meus cabelos e saí pra dar uma volta pelo bairro, distraída pensando sobre os conselhos que guardei de Antônio quando escuto uma voz quase como um sussurro chamar meu nome. Me despertei do transe quando percebi quem era.
Babi: pensei que já tivesse voltado — falei com a cabeça baixa, evitando olhar em seus olhos. Não esperava encontra-lo novamente, quanto mais vindo até a mim.
Victor: eles voltaram, tive um imprevisto — disse sério.
Babi: entendo — respondi sem rodeios, sem querer esticar o assunto.
Continuamos caminhando lado a lado naquele silêncio esmagador. Logo nós dois que sempre inventávamos assunto. Era estranho toda a aquela situação.
Babi: sinto falta dele — falei olhando em seu rosto agora e ignorando completamente a raiva que senti dele ontem a noite. Eu só precisava desabafar com alguém que compartilhasse o mesmo nível de luto que eu — muita falta.
Abaixei meus olhos para evitar que Victor percebesse as lágrimas se formando neles mesmo que o tremor em minha voz me dedurasse, mas em vão. Ele parou a minha frente e segurando meu queixo me fez levantar o rosto fazendo com que nossos olhos se encontrassem. Seu simples toque em meu rosto desencadeou inúmeras vibrações no meu corpo.
Victor: venha aqui — disse me puxando pra si e me envolvendo em um abraço quando percebeu a dor me atingindo, esse gesto me surpreendeu — ele faz realmente muita falta.

Babi: eu estive longe por um dia... — a lembrança de seu ultimo adeus rondou minha memória me fazendo chorar ainda mais no peito de Victor — um dia, eu deveria ter ficado. Deveria ter levado ele naquela consulta, eu poderia ter evitado isso.

Mais e mais lágrimas se formavam em meus olhos, eu claramente ainda não conseguia aceitar sua ida tão repentina. Victor me apertou ainda mais contra seu corpo, pude sentir seu queixo se encaixar no topo da minha cabeça enquanto sua grande mão adentrava meus fios de cabelo em um carinho.

Victor: shhh! Não se culpe, Barbara. Não foi por falta de cuidados seus com ele — ele disse tentando de alguma forma me acalmar — nós dois sabemos o quão teimoso aquele velho conseguia ser, não aceitaria ser levado a uma consulta por nada nessa vida. 

Ele tinha razão, estranhamente meu corpo começou a se acalmar. Meus batimentos se acentuaram, as lagrimas foram deixando de descer.

Acariciando meu cabelo, por alguns instantes, parecia que estávamos de volta a 4 anos atrás quando esse abraço era o meu preferido, e ainda continua sendo, mas agora o sinto tão distante que dói saber que esse abraço é o mesmo que Mariah recebe todos os dias em meu lugar.

[Victor Augusto]

Foi por instinto, mas quando o cheiro de Bárbara me atingiu naquele abraço precisei apertar meus olhos buscando concentração. Esse perfume costumava ser a minha fraqueza, e pelo visto ainda é. Ah, Bárbara. Porque complicamos tudo?
Preso àquele contato, me forcei a solta-la para voltarmos a caminhar. Eu realmente não queria, mais era necessário para me manter longe de fazer mais burradas com pessoas que eu amava.
Victor: eu recebi uma ligação ontem de manhã — falei com as mãos no bolso encarando o chão.
Babi: eu também, creio que o mesmo assunto. Tem ideia do que seja?
Victor: nem um pouco, o advogado apenas me informou que era algo complexo. Não me surpreende, se tratando de Antônio — falei rindo e encontrei seus olhos nos meus. Esses olhos sempre me faziam perder completamente a linha de pensamento. Vidrado nela, só consegui me tirar dali quando percebi suas bochechas ficando rosadas, ela estava sem graça.
Victor: você visitava bastante ele? — perguntei para aliviar aquela tensão.
Babi: sim, depois que você foi embora ele foi um grande psicólogo pra mim — ela disse direcionando seu olhar a mim enquanto eu continuava a olhar pra frente, tentando me manter firme — mas pelo menos não precisei gastar dinheiro com sessões de terapia.
Ela deu um risada baixa que me contagiou sem sentido algum e quando percebemos, estávamos rindo como idiotas ali no meio da rua. Bárbara como sempre precisava se sentar no chão de tanto que sua barriga doía. Eu por outro lado me encostei no poste e fiquei a observando recuperar o fôlego.
Quando enfim conseguimos parar com a crise de risos, o clima ficou um pouco estranho. Nenhum de nós ameaçava falar, só continuamos caminhando pelo bairro até chegar perto do velho lago que costumávamos nos sentar de frente, palco da nossa última discussão.
Sentados na grama, o vento frio que soprava do lago nos fez encolher entre nossas pernas. Abraçado aos meus joelhos, olhei para Bárbara que estava quase virando uma bola do meu lado.

Victor: quer meu casaco? — perguntei já o retirando do meu corpo.
Babi: não, obrigada — pra variar, ainda continua teimosa.
Victor: já esperava por essa resposta — falei colocando ele em volta de seu corpo. Ela não recusou.
Babi: sempre super protetor — falou bufando.
Victor: sempre tentando enfrentar tudo sozinha — a encarei.
Babi: tive que aprender quando você foi embora.
Sim, eu fui embora. Maldito dia que te deixei aqui e não lutei por você.
Victor: você não precisa me lembrar disso a todo minuto — voltei a encarar o lago. Eu ainda me odeio por ter partido e a deixado. Odeio ainda mais a situação que estamos agora e por ter deixado que outra pessoa entrasse nessa confusão. Mariah não fazia ideia do que acontecia dentro do meu peito antes, menos ainda agora.
Babi: eu preciso, preciso porque também tenho que me lembrar disso. Você se foi e agora parece que nem o conheço mais — suas palavras me acertaram em cheio — ontem você estava aqui me acusando de ter aproveitado sua partida e agora me pede pra não lembrar disso. Realmente, Victor, eu não precisaria me lembrar disso a todo minuto, mas ainda estou quebrada por dentro. Diferente de você.

Enquanto olhava em seus olhos, realmente vi verdade neles. Se ela soubesse o quanto eu também estou fodido com toda essa coisa. Desde quando cheguei aqui e a vi incrivelmente bela e deliberadamente gostosa adotei um personagem, um personagem que tenta a todo custo provar pra si mesmo que não a ama mais e que sua verdadeira mulher o espera do outro lado do mundo, na Alemanha. Mas isso não se passava realmente de apenas um personagem, considerando a força que meus sentimentos por ela vinham a tona toda vez que a olhava. 

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