Capítulo 83

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[Bárbara Passos]


Atordoada com tudo aquilo, peguei meu carro e dirigi de volta a minha casa. Enquanto estava na estrada, as palavras de Victor se transformaram como um eco dentro da minha mente. Não era coisa da minha cabeça, ele também estava com os mesmos desejos que eu todo esse tempo, mas não foi exatamente isso que me fez desabar de chorar segurando o volante. Ele estava noivo. Victor não teria tomado essa decisão se não a amasse de verdade. Droga — gritei, deixando que várias lagrimas rolassem pelo meu rosto.
Resolvi parar no acostamento e evitar que minha visão embaçada me colocasse em alguma furada. Debrucei sob o volante e chorei forte, tudo que guardei durante esses dias estava saindo agora.
Depois que minha respiração juntamente com minha mente se acalmaram, voltei a dirigir e logo cheguei em casa indo direto pro chuveiro. Depois de um banho quente, deitei-me na cama e fechei os olhos tentando entender tudo o que havia acontecido mais uma vez. Eu o perdi, definitivamente o perdi. Achei que pudesse conseguir convence-lo de que ainda temos uma chance, mas não posso lutar contra seus sentimentos por Mariah.
Ele estava tentando fazer a coisa certa, e eu o respeito por isso. Mas ao mesmo tempo, se eu não tivesse ido embora naquela hora, eu não tenho certeza se poderíamos ter evitado ferrar com seu noivado. Hoje me provou que qualquer conexão que existiu no passado entre nós estava muito viva ainda, e forte.
Ele pegaria um voo de volta para Alemanha ainda nesta semana, e simplesmente não havia tempo suficiente para resolver todos esses sentimentos.
Toda essa coisa não me deixou dormir, quando o relógio na cabeceira da cama mostrou 02:02 da manhã, o visor do meu celular se acendeu com uma mensagem de Victor. Horas iguais, que coincidência — resmunguei baixo. (N.A: alguns acreditam que horas iguais representa sintonia, conexão entre duas pessoas) "me desculpe pelo jeito que derramei as coisas em você hoje. Perdi o controle, sinto que estou enlouquecendo"
Não é só você — cochichei sozinha para o celular.

whatsapp on • Victor Augusto:

Babi: está tudo bem, você tem todo o direito de estar assim.
Victor: posso te ligar?
Babi: sobre o que quer falar?
Victor: qualquer coisa, só preciso ter certeza que você não me odeia.
Babi: ok


whatsapp off

Desliguei e logo em seguida veio sua ligação. Respirei fundo antes de atender.

call on • Victor Augusto:

Victor: oi — disse baixo, parecia envergonhado.
Babi: porque não consegue dormir?
Victor: muita coisa na cabeça, e você?
Babi: o mesmo motivo. Já sabe quando volta pra Alemanha? — perguntei, mesmo com a dor em minha voz de saber que muito provavelmente quando ele voltasse pra Alemanha dificilmente eu o veria ou ouviria falar dele.
Victor: amanhã — disse baixo.
Babi: nossa, eu achei que... — fechei meus olhos contendo as lagrimas se formando — achei que gostaria de ver como a casa ficaria depois de pintar.
Victor: eu gostaria, mas não posso — sua voz ainda estava baixa, parecia esconder seu desânimo e frustração — realmente não posso ficar mais tempo aqui.
Babi: vocês já marcaram a data?
Victor: vai acontecer em seis meses.
Babi: você realmente ama ela, não é?
Victor: ela é uma das melhores coisas que me aconteceu, então, sim. Eu a amo — escutei ele respirar fundo.
Ouvir essas palavras me machucou de tantas formas que seria difícil me recompor depois disso.
Babi: me deixe te levar até o aeroporto amanhã, ficarei feliz em fazer isso — na verdade isso iria me destruir mais ainda, porém poderia ser a última vez que eu iria vê-lo.
Victor: tudo bem, vejo você amanhã então.

call off

Assim que desliguei, exausta de chorar, adormeci. Uma boa noite de sono e um coração sem sentimentos era tudo que eu precisava, mas eu não tinha nenhuma dessas opções a vista.

Meu alarme despertou as oito da manhã. O voo de Victor era as dez horas, antes do almoço, conforme ele me mandou no whatsapp. Tomei um café forte pra acordar a mente, mas tudo que eu conseguia era pensar em como estou tendo forças pra fazer isso novamente, depois de quatro anos. A resposta é simples, estou no automático. Minha vida está tão bagunçada que as vezes parece que nada mais me surpreende, nada mais pode me machucar.
Quando a tela do celular acendeu com uma mensagem sua dizendo que estava pronto, suspirei tentando reunir minhas últimas forças e sair de casa.
Victor: bom dia — disse abrindo a porta quase como um sussurro quando estacionei meu carro em frente sua casa.
Babi: bom dia — minha voz estava rouca, talvez de tanto chorar na noite passada.
durante o trajeto até o aeroporto não trocamos nenhuma palavra, mas eu podia senti-lo olhando pra mim. Eu estava intencionalmente tentando não olhar para ele porque eu tinha certeza que ele seria capaz de ver a tristeza nos meus olhos.
Paramos em um sinal vermelho, enquanto eu batia meus dedos sob o volante para conter a ansiedade, a tela de seu celular que estava sob o painel do meu carro se acendeu com uma mensagem. Mariah.
"Estarei te aguardando, mal posso esperar até que esteja comigo de novo. Tenha um voo seguro. Eu te amo"
lamentei ter olhado, porque essa mensagem solidificou a ideia de que esse era realmente o fim.
Quando estávamos saindo do carro na calçada em direção ao terminal, o vento forte jogou meu cabelo para o ar. Agarrando meus próprios braços em instinto, eu estava de frente pra ele. Nenhuma palavra saia da minha boca, eu mal conseguia olhar em seus olhos. Olhei para o céu, para os lados, para as pessoas saindo de seus táxis, menos para Victor. Eu sabia que assim que nossos olhos se encontrassem, eu estaria o perdendo. Mais uma vez.
Victor: olhe pra mim — seu tom de voz era extremamente rouco.
Eu balancei a cabeça e me recusei na primeira lágrima caiu. Continuei tentando conte-las olhando para longe dele. Isso estava sendo pior que a primeira vez. 

Quando finalmente cedi e encarei seu rosto, me surpreendi ao ver seus olhos molhados também.
Babi: está tudo bem — falei, limpando meus olhos — Como você disse ontem, ela é a melhor coisa que te aconteceu, não é? Seja feliz! Eu estarei aqui torcendo por você, sempre.
Victor: Bárbara, eu não disse isso — falou chegando mais perto, segurando meu rosto com suas mãos forçando meus olhos a encarar os seus — eu disse que ela é uma das melhores coisas, assim como você foi.
Retirei suas mãos do meus rosto e encarei o chão.
Babi: você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Espero que um dia eu possa também dizer que você foi uma das melhores. Mas por enquanto, é só você.
Victor: tudo isso é bagunça horrível. Estou acabado por dentro, Bárbara — disse fechando os olhos passando as mãos pelos cabelos em frustração — eu a amo — seus olhos encararam os meus — mas amo você também, porra amo pra caralho. Eu não havia me dado conta disso até te ver de novo naquela maldita capela.
Ri com raiva.
Babi: ela tem a vantagem, você vai se casar e esquecer de mim novamente. Isso vai simplificar as coisas — falei dando passos para trás voltando para o meu carro.
Victor: Bárbara... não vá embora assim.
Babi: não sou eu quem está indo embora, Victor.

(capítulo inspirado em uma parte do meu livro favorito "meio meio irmão"- Penelope Ward)

Voltei para casa pensando em como a vida poderia ser cruel. Nada fazia sentido, mas eu teria que levar pra frente assim como da última vez. Mais uma vez.

um mês depois

Depois que Victor voltou para a Alemanha, tentei voltar a minha nova rotina morando sozinha. Antes de voltar, me certifiquei de deixar a casa de Antônio limpa e a casa ao lado pronta para ser alugada. Os detalhes de tudo enviei para Victor pelo email. Infelizmente eu precisaria manter contato com ele por conta disso, mas tentei tratar tudo da maneira mais profissional possível, assim como ele.
Hoje especialmente estava uma noite fria, eu estava enrolada no meu cobertor tomando meu velho vinho enquanto respondia alguns emails de clientes do escritório. Meu celular bipou com uma mensagem, um número desconhecido.

whatsapp on • número desconhecido:

xxxx: Oi, espero que não se importe. Carol me passou seu número a algum tempo.
xxxx: resolvi chamar hoje porque estou na cidade
Babi: desculpa, mas quem é? Não tem foto
na mesma hora a mensagem foi visualizado e a pessoa já estava escrevendo.
xxxx: sou eu, Bruno.

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