Josh Beauchamp
Existem, aproximadamente, mais de 700 páginas do nosso script que o diretor do nosso próximo filme quer que eu escreva. Respiro fundo tentando achar entusiasmo em alguma merda, mas não encontro nada além da minha própria respiração descompensada a medida que o tempo vai passando. Abro a gaveta procurando a droga da caixa de cigarros que deveria estar guardada ali, mas acabo me deparando com nada.- Mas que... - me levanto indo até a porta e gritando: - Gary? Gary! Suba aqui, por favor - volto para a minha mesa, ficando de pé ao lado da mesma esperando que ele apareça logo. Uns dois minutos depois o vejo passando pela porta, parecendo ter corrido uma maratona.
- Sim? - a voz dele me dava sono. O corte de cabelo parecia de quase 500 anos atrás, se assemelhando ao trajes escuros e o olhar de servidão eterna.
- Você viu os meus cigarros? - não gosto de parecer um viciado, mas preciso entregar essa porta em dois meses e ainda não comecei a ler nem a primeira página das 700 - Eles estavam aqui quando acordei e agora não estão mais. Preciso saber deles urgentemente... - paro de falar quando a minha irmã surge na porta vestida com as roupas de inverno, mesmo que ainda estejamos no verão - Kim?
- Não quero atrapalhar - fala dando de ombros se aproximando da bendita porta outra vez dando sinal que já estava batendo em retirada. Faço sinal para que volte, o que a mesma faz - Não é nada demais. Só preciso que vá me buscar as sete hoje - avisa com um sorriso.
- Ah sim, claro! - coço a nuca fazendo uma anotação mental para colocar um alarme no meu celular quando faltar umas quinze pras sete - As sete, né? Tudo bem, ok - ela assente, parada com as duas mãos postas na frente da bolsa. Gary me observa sem saber o porquê de ainda estar ali - Só peça para comprarem um maço novo - digo sentando cansado.
Ele concorda e sai. Kimberly para encostada na porta me olhando com um sorriso preocupado. Aceno descartando a seriedade com que ela trata certos assuntos. A mesma não aceita, por isso se aproxima e consigo ver que está usando as botas que dei a ela de natal.
- Estamos viajando em férias, Kyle - diz, mas faço que não com a cabeça. Abro a tela do meu computador brincando com o meu anel.
- Aproveite maninha - Não tiro os olhos do computador, mas a escuto suspirar, ao mesmo tempo que bate a porta devagar saindo do meu escritório da mesma forma que entrou.
Kimberly Beauchamp.
A peça é daqui algumas semanas e sinto o meu corpo cansado só de pensar na quantidade de ensaios que terão que ser improvisados de última hora. Arrumo o meu cabelo da melhor forma que posso, xingando por não ter cortado pelo ombro quando o Kyle deixou com que isso pudesse acontecer em um surto de loucura rápido que não tem mais volta.A meia calça roça no meu bumbum, ao mesmo tempo que toca "let me" do zayn na minha playlist sad me fazendo encarar a rua movimentada por trás do vidro da janela, me sentindo uma garota super sensual. Por isso, não percebo a questão toda ao meu redor, sentindo - tarde demais - um toque delicado no meu ombro. Tiro o fone me virando, sentindo o sangue esvair do meu rosto ao encontrar o par de olhos esverdeados sobre mim como naquela vez no banheiro.
- Oi garota do banheiro - O cabelo ruivo está preso em um rabo de cavalo, enquanto o uniforme tradicional foi substituído por um branco que cai muito bem com ela - Não sabia que você estava no grupo B.
O assunto iniciado é tão rápido que me sinto tonta ao responder com um leve movimento de cabeça e depois forçar um sorriso preparando as palavras na minha boca.
- Pois é, comecei a poucos dias - puxo o ar devagar para não deixar óbvio o meu desespero - E você? - a música continua torando no meu celular, tão alto que eu consigo escutar mesmo com os fones afastados. E ela também.
- Há dois anos - ela sorri e aponta pro aparelho nas minhas mãos - Você curte o estilo retraído do Zayn? - pergunta de uma forma tão descontraída que tenho vontade de gargalhar só para provar que possa ser tão ousada quanto ela.
- Eu acho que ele tem a minha vibe - respondo torcendo para que a minha franja tenha caído sobre a minha testa. Ela me olha, sorri e concorda pegando um lado do fone e colocando no ouvido.
Eu tremo. Não escuto mais nada além da respiração dela e não consigo ver mais nada além do olhar sagaz que ela me lança como se travasse um desafio que eu tinha que corresponder. Perco o chão, perco o ar, perco tudo e mais um pouco.
- O meu nome é Thalia - diz pegando o meu celular, destravado, abrindo no bloco de notas e digitando alguma coisa com os dedos apressados. A observo sem palavras. Puta merda! Ela parecia uma personagem dos livros românticos, mas que tinha tudo pra ser a vilã da história, sabe? - Liga pra mim quando puder, Kimberly - pede e eu concordo porque é a única coisa que eu consigo fazer, além de encara-la como uma grande tonta.
Ela é chamada. Thalia. Thalia. Thalia. Olho a anotação que ela acabou de fazer e solto uma risadinha involuntária ao perceber que foi o número de telefone. Tento não parecer entusiasmada, então apenas volto para o meu lugar sem olhar pra trás mesmo que a única coisa que consiga passar pela minha cabeça seja "Se eu olhasse, será que ela estaria olhando?".
...
Oito e meia. Faz uma hora e meia que o meu irmão está atrasado. A escola de teatro já fechou e eu sou a única ali, parada, com uma bolsa nas mãos e um casaco enorme ao redor. Tudo parece está fechado e o Kyle simplesmente não atende o telefone. Penso em pegar um táxi, mas simplesmente não passa nenhum pela rua onde eu estou e por isso fico ali parada no meio fio da calçada.
Que merda.
Faço o favor de ligar para a Dytto, sendo que sempre vai pra caixa postal. Suspiro. Se eu arrumar alguns jornais, talvez eu consiga dormir sem ser congelada no fim do verão de Las Vegas. Estou prestes a me levantar pra fazer isso, quando um carro preto se aproxima com o vidro da janela abaixando revelando uma figura conhecida que tem os olhos atentos na minha direção.
- Any?
Eu tava com tantas saudades de escrever aqui. Tô com o meu coração quentinho :)
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My Teacher - Beauany 2Temp
Teen FictionÉ mais fácil fingir que nada aconteceu. Fingir que durante todo esse tempo só aconteceram coisas boas, pessoas novas e conquistas. Talvez assim, só assim, eu possa esquecer que não aconteceu um final feliz para nós dois. Possa esquecer todas as sens...