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Josh Beauchamp.
Charles não parecia o tipo de cara que gostava de se esconder. Isso ficou claro pra mim quando o vi, parado, com as mãos postas em cima da mesa enquanto encarava o teto. Ele tinha o cabelo grande e as olheiras profundas.  Arregalou os olhos assim que me viu. Que idiota.

Não me deixaram entrar na sala. Na verdade, achei bem inteligente não me deixarem entrar no mesmo ambiente que ele aquele demônio, mas ainda fiquei surpreso com a atenção que estão dando a ele.

Como não estariam? Charles ainda era uma estrela.

Peguei o microfone que o faria me ouvir antes de pôr os fones. Respiro fundo e o vejo fazer o mesmo. Ele me encara, esperando e eu faço o mesmo. Não serei o primeiro a falar. Não consigo. Não sei se tenho palavras para expressar o ódio que eu sinto dele e do que ele fez.

- Diga a ela que sinto muito.

Ele fala e eu fico surpreso. Quase perco a respiração. Não esperava que ele fosse falar algo, mas ele fala. Parece tão surpreso quanto eu.

- Não. Não direi nada a ela.

- A Any precisa...

- Cala a boca! Cala a merda da porra da boca! Nunca mais diga o nome dela, tá entendendo porra? NUNCA MAIS. - Digo em um tom baixo, mas firme. Parece ser bem diferente para ele, já que o mesmo se assusta e afasta o fone.

- Ela é a minha noiva.

- Ela não é a sua noiva. Ela não é sua. Ela não é de ninguém e por Deus, só aceite pagar a sua pena. Você quase a matou.

- Eu NÃO fiz isso. Eu juro que... - Ele começa a chorar. A chorar mesmo. Como um bebê. Ele chora tanto que escuto o som do coração dele batendo forte contra o peito. Naquele momento, sei que ele se odeia.

Se odeia por ter estragado tudo. Se odeia por ter batido na mulher que ama, se odeia por ter perdido o controle, se odeia por ser um viciado e se odeia por não sentir remorso. Eu sei que ele não se arrepende de nada que fez, porque esses caras nunca se arrependem.

- Você fez. Você a machucou. Você enfiou as unhas na garganta dela e agora a Any está sem falar... - Lembro do roxo ao redor da pele dele e fecho os olhos. Dói. Dói em mim. - Ela não consegue andar por causa dos chutes. As roupas da Any estão rasgadas, os olhos dela estão vermelhos, porque as veias foram estouradas e a porra da cabeça dela tá fudida pra caralho. - Eu o encaro e ele está chorando. O choro dele me agonia. Me dá raiva. Me da ânsia. Não é justo ele poder chorar, enquanto eu preciso segurar o choro. - PARA! SEJA HOMEM PELO MENOS UMA VEZ.

- A culpa é sua! A culpa é toda sua! Nós eramos felizes antes de você aparecer, antes daquela maluca aparecer e me contar toda essa merda. Eu nunca saberia, nunca... - Ele prende o soluço. Me perco em meio a frase.

- Que maluca? - Pergunto, mas ele está em silêncio. Dou um soco contra o vidro. - QUE MALUCA? - Ele explode e começa a se debater contra a cadeira.

- A porra da TAYLOR TAYLOR TAYLOR TAYLOR TAYLOR! A PORRA DA TAYLOR. - A minha mão cai contra o meu corpo. Ele continua gritando. - Aquela filha da puta foi me procurar. Pra que? Como ela sabia? Aquelas fotos. Puta que pariu aquelas fotos. Eu não consigo... - Ele joga a cabeça para trás e eu também. - Diga a ela que sinto muito.

Largo o fone, porque não tenho mais nada para escutar. Olho, pela última vez, nos olhos do Charles antes de sussurrar: - Acabou.

Narradora.
Era quase Natal. Taylor costumava pendurar ursinhos de pelúcia ao redor da árvore e, naquele dia, era ainda mais especial. Emily chegaria em poucos minutos e ela estava ansiosa por isso. Arrumou tudo de acordo com o gosto da namorada e esperava que ela gostasse.

A campainha tocou e ela se assustou. Arrumou o suéter e correu até a porta. No entanto, caro leitor, ela não esperava encontrar Josh do outro lado. Ele parecia cansado e o seu olhar encontrou o dela por alguns segundos.

E então, Taylor soube que ele sabia. Josh havia descoberto tudo. Cada pequeno detalhe. Ela abriu ainda mais a porta e ele entrou, porque ele sabia que ela sabia que ele sabia.

Melhores amigos se conheciam.

Josh olhou ao redor. Observou a árvore de Natal e os presentes. Ele analisou a lareira e depois a mulher a sua frente. Riu ao encontrar o quadro da Emily pendurado.

- Como eu fui cego.

- Você apenas me amava. - Ela diz, simplesmente, e arruma as pulseiras ao redor do pulso.

- Você era como uma irmã. Por que fez isso? Por que acabou com tudo? Por que acabou comigo? Com a Any? O que eu fiz pra você? Foi uma vingança? - O choro acumulado estava preso na garganta, mas ele não se atrevia.

- Não. Eu juro, eu juro que nunca foi uma vingança contra você. Nunca foi... - Taylor sentou e segurou as bochechas se sentindo quente. - Você sempre foi como um irmão pra mim, Josh.

- Então por quê? - Ele se aproximou e se ajoelhou na frente dela. - Por que foi atrás do Charles? Por que bateu as fotos?

- Por causa do teu pai. - Josh a encarou e ela sorriu. Sorriu cansada. Sorriu com o peito aberto. - Porque eu não podia deixar isso pra lá. Porque ele era o meu professor quando abusou de mim atrás do carro.

Josh entra em choque. Taylor também entra. É a primeira vez que ela conta para alguém, além da Emily. Para alguém além. É a primeira vez que conta para Josh. Ela pretendia fazer isso antes que voltasse para o Canadá, mas as coisas mudaram.

- O que?

- Eu me aproximei de você querendo me vingar. Querendo fazer com que vocês pagassem por tudo que eu tive que passar, mas você sempre foi tão bom, Josh. A sua mãe sabia fazer torta de morango e lia histórias antes de dormir. Ela era tão boa, Josh. Ela me lembrava você.

"Mas as coisas mudaram quando a Any surgiu. De repente, eu me vi na obrigação de me vingar. Se fazer com que você sentisse o mínimo de dor que eu senti quando ele me jogou que nem lixo, quando ele disse que iria embora, quando ele me tratou como reciclável. Eu precisava te fazer enxergar, enxergar pelo lado da vítima. Da dor. Era necessário."

- Isso...Isso não é verdade. - Ele se levanta. As lágrimas estão caindo, mas ninguém sente.

- É sim. Eu juro que... - ela fecha os olhos e respira fundo. - Eu juro que... Eu tentei contar tantas vezes. Eu... - E então, ela se engasga com o próprio choro. A dor a faz uivar e tudo é pesado demais. Josh não consegue se mover. A vida dele era uma mentira.

Sempre foi.

- Eu sinto muito. Eu não sabia. - Ele sussurra. Ele sussurra tão baixo que nem ele consegue escutar, mas Taylor escuta. - Eu sinto muito.

- Me perdoa, Josh. Me perdoa. Eu nunca... - Mas ele não consegue ficar mais tempo. Na verdade, essa é a última vez que ele ver a Taylor.

No outro dia, ela viaja. Ela e a Emily viajam para o Canadá e depois para Londres. E mesmo depois de anos, Taylor escreve cartas para Josh. Todos os dias.

Ele nunca respondeu nenhuma.

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora