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Any Gabrielly.

Eu entro em casa sentindo o ar pesado me pegar fazendo com que eu tenha vontade de sair correndo. É estranho pisar naquele chão coberto com umas lajotas brancas demais, quando há algumas horas eu andava pelo tapete macio e vermelho que cobria praticamente todo o quarto de hotel. Sorrio com essa comparação feita na minha cabeça. As vezes pensamos em umas coisas tão sem sentido, mas que depois fazem todo o sentido.

- Charlie? - o chamo e o nome dele sai esquisito dos meus lábios. Tento pensar que é por causa da situação, no entanto... - Charlie? - deixo as chaves em cima da mesa e penduro o meu casaco no apoio que tem perto do sofá. 

O silencio me deixa preocupada. Tento encontrar alguma garrafa de bebida, cigarro, qualquer coisa que denuncie uma recaída ou qualquer coisa do tipo, mas não encontro nada. Ok. Ele pode ter saído pra alguma reunião ou pra um treino de última hora, né? Pego o meu celular que em poucos minutos pode desligar. Corro pro quarto procurando um carregador qualquer e não encontro.

- Mas que diabos? - enquanto reviro as gavetas a procura dele, escuto a tampa do vaso batendo com força. Dou um pulo assustada me virando pra dá uma olhada na porta do banheiro que ficava de frente pra onde eu estava - Char? - chamo e a maçaneta se mexe. Ele aparece logo depois, nu da cintura pra cima e com uma toalha verde enrolada. 

- Gaby - ele pronuncia o meu nome parecendo meio surpreso de me ver ali - Bom dia - deseja e sai andando na pontinha do pé por estar molhado. De repente, esqueço completamente do que eu estava fazendo e do que eu faria assim que o encontrasse - Tudo bem? - pergunta e faço que sim com a cabeça meio desnorteada. Ele parecia tão calmo.

- Aham - murmuro tomando cuidado com que eu falaria - Tá tudo bem com você? - me aproximo devagar. Ele abre o closet e vai abrindo as gavetas internas onde ficam as gravatas - Reunião? - Ele me olha e faz que sim com a cabeça, abrindo um sorriso que não chega aos olhos - Ah sim, entendi... Precisa de ajuda? - eu devo parecer uma mãe preocupada, mas é porque eu realmente estou preocupada. Aquele não era o Charlie que eu estava acostumada.

- Não, meu amor - e pela primeira vez ele resolve andar até mim. Segura na lateral do meu rosto fazendo com que eu o encare e depois me dá um beijo singelo, tão suave que preciso piscar duas vezes pra ter certeza que os lábios dele realmente encostaram nos meus - Quer que eu traga aquela comida tailandesa que você gosta? - os seus olhos são gentis. O peso da culpa cai sobre os meus ombros, porque a única coisa que eu consigo lembrar são das íris azuis do Josh.

- Não, não - faço um carinho nos fios escuros - Você vai se atrasar - lembro puxando as pontas da gravata para arruma-la. Abro um sorriso e ele também. 

Não demoro muito pra terminar de ajeitar a sua gravata e logo depois o ajudo a escolher o terno. Estou explicando sobre como precisamos combinar a camisa de dentro com o restante das roupas quando percebo que os seus olhos estão sobre mim, quase como se estivesse me analisando, abro a boca pra falar alguma coisa, mas ele é muito mais rápido com: - Eu amo você.

Fico espantada com a frase e preciso me segurar pra não chorar. Não consigo dizer a mesma coisa, por isso o puxo para perto e o beijo querendo tirar o seu folego. Depois disso, ele nem parece lembrar que eu não respondi o mesmo.

Mas eu me lembro.

Charlie. 

Eu achei muito específico ela ter pedido pra encontra-la em um restaurante vegetariano. Fico meio apreensivo em ter aceitado encontrar uma desconhecida, mas pelo menos ela não parecia disposta a me matar, já que os assassinos em série sempre procuram um lugar mais reservado do que um lugar com enlatados sem carne.

Número Desconhecido: Preciso falar com você. 

É sobre a sua noiva.

Uma simples frase e eu a encontraria até no esgoto se ela pedisse. Tentei não pensar em nada quando a Any simplesmente sumiu e não dormiu em casa. Eu sinto que estou soando frio, frio como antes de um jogo decisivo de basquete. Um jogo difícil. É isso que o meu relacionamento se tornou: um campeonato. Todo dia é preciso ganhar e fazer cestas.

A sensação de errar é quase cortante.

O lugar é quente, o cheiro de verdura fresca me invade e pela primeira vez tenho vontade de fumar. Faço que não com a cabeça, pegando um copo com água que estava passando pela minha frente em cima de uma bandeja e deixo como resposta dez dólares. Me viro procurando a mulher misteriosa, mas não vejo ninguém que me chame atenção.

- Charlie? - Eu me viro com a voz amigável e encontro uma loira, alta, com olhos que poderiam facilmente serem confundidos com aquelas pedrinhas azuis que se vendem na loja de artesanato em Nova York. Faço que sim, mesmo que seja óbvio, mas ela não se importa com a minha desorientação e estende a mão pra mim - Sou a Taylor, prazer.

- Ahn, Taylor? - ela faz que sim e eu faço que sim a acompanhando - Ok, tudo bem, então... Eu já estou aqui - a mão dela é fria, mas leve, quase como se nunca tivesse pegado em um martelo na vida.

Ela sorri e estende a mão direção da cadeira vazia. Me sento sem tirar os olhos dela. Suéter rosa, brincos brilhantes, botas grossas e um calça legging que expõe muito sobre ela. Os movimentos são delicados, até mesmo quando ela abre a bolsa parecendo ansiosa e me entrega um envelope amarelo.

- Falei que precisava falar sobre a sua noiva - lembra e concordo. Isso. Noiva - Aí dentro estão algumas fotos que podem mudar pra sempre a sua vida, Charlie. Precisa ser forte - pede e por Deus! Preciso de um cigarro. Abro o papel com cheiro de merda bem devagar.

Pode ser uma declaração de amor ou uma carta da Any falando que quer desistir do casamento. Pode ser qualquer coisa, mas meu Deus... A primeira foto me pega como se eu tivesse levado um soco e de repente desejo não ter vindo. Qualquer coisa é melhor do que isso. Any entrando em um hotel com um homem e uma garota. A próxima é dos dois com os corpos colados dentro de um elevador e algumas pessoas de fora, a próxima é da minha garota nua, tão nua que precisa da maldita blusa azul pra cobri-la. Uma blusa masculina. A blusa dele.

- Josh Beauchamp - ela me diz como se soubesse no que eu estava pensando - Roteirista. Acabou de chegar em Las Vegas - explica calmamente tomando o maldito suco verde - Os dois tiveram um passado que parece ter retornado - queria dizer alguma coisa, mas não consigo. As próximas fotos são dele em cima dela. Dela de olhos fechados, enquanto ele a tocava.

Tenho vontade de vomitar.

- Preciso de um cigarro.


My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora