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Any Franco.
Chego em casa no outro dia completamente exausta, mesmo que ter ficado com o meu irmão e a Sabina tenha renovado as minhas forças de todas as formas. Queria poder ficar lá pra sempre, mas todos nós sabemos que fugir do inevitável é meio idiota. Abro a porta esperando que o Charlie ainda estivesse dormindo - como ele sempre faz dia de sábado. Não sei porque me surpreendi tanto com a presença dele sentado no balcão da cozinha com um copo do lado.

- Ah, oi - entro com cuidado deixando as minhas botas no canto. As minhas roupas molhadas estão dentro da sacola, então me encontro com as roupas da Sabina no corpo - Acordou cedo hoje, né?

- Aonde você dormiu? - o tom de voz me deixa tensa, mas continuo arrumando as coisas como se nada estivesse acontecendo, porque nada está acontecendo. Pelo menos espero que não - Any! - o grito acompanhado do baque surdo na mesa me faz dá um pulo perto do sofá o encarando com os olhos arregalados - Que porra você andou fazendo?

- Que porra você tá fazendo? - pergunto tentando me manter firme, mas sem garantia disso - Ta gritando comigo mesmo? - me afasto mantendo as minhas costas presas no sofá.

- Aonde você estava? - parece mais no controle agora se virando com o copo na mão.

- Fui dormir na casa da Sabina ontem - respondo sendo bem sincera - O Pepe estava lá e até jantamos juntos... - paro de falar quando ele começa a vim na minha direção com uma velocidade que se dava em passos curtos - Pode confirmar com ele, Charlie. Por favor, eu não quero brigar - o medo na minha voz é visível. Quase palpável.

Um minuto interminável passa, enquanto o espero terminar a sua avaliação com os dedos pelo meu pescoço, bochecha, olhos, nariz, braços e mãos. A delicadeza era óbvia, no entanto, isso só aumentava a sensação de que eu poderia ser quebrada a qualquer momento caso um pouco mais de força fosse deslocada ali. O sofrimento acaba quando os nossos lábios se chocam em um movimento que me deixa sem ar por poucos segundos, sendo pega de surpresa pelo mesmo.

O hálito de uísque me deixa preocupada e tento dizer alguma coisa, mas Charlie me agarra pela cintura tirando o meu casaco e depois agarrando a minha nuca, enquanto sou levada até o quarto. Tento me afastar apenas para pegar ar, mas acaba que sou recebida com mais um choque real que me deixa estática apenas o acompanhando.

- Não faça mais isso - é a última coisa que escuto sussurrando contra o meu pescoço como uma promessa de amor.

No entanto, eu sei que aquilo não se tratou de uma promessa e sim de uma ameaça. Não faça mais isso. Não faça mais isso comigo ou não sei se terminaremos assim.

Josh Beauchamp.
Corro pelo cercado da minha casa por umas duas horas antes de resolver finalmente parar. Fecho os olhos meio cansado quando finalmente consigo sentar em um dos banquinhos da pracinha observando tudo com muito cuidado antes de sair dali. A minha conversa com a Dytto continua me perseguindo todos os dias e sei que não posso fazer nada quanto a isso, já que seria injusto terminar tudo com alguém um mês antes do casamento.

E eu sabia disso e sabia o quanto isso doía, então não podia deixar que ela passasse pela mesma coisa. Não sou cínico nesse ponto e tudo bem quanto a isso na verdade. Entro na imensa casa me sentindo bem sozinho na verdade, bem mais sozinho do que qualquer outra pessoa. Me sinto preso.

- Senhor Beauchamp? - escuto alguém me chamando. Volto a minha atenção para o nosso modormo que parece bem interessado na minha presença tão quieta na frente de um dos principais quadros que inauguravam eu e a Kim parados na frente de uma lanchonete a beira da estrada - Precisa de alguma coisa? - pergunta solícito como sempre.

- Não, está tudo bem... - digo sério com os passos prontos para ir até o meu quarto quando volto atrás - Gary? Você pode pegar aquela caixa que a minha irmã guardou no depósito? Por favor - peço com os braços na minha cintura. Ele faz que sim com uma expressão confusa, mas logo se vira indo em direção ao quartinho dos fundos.

[...]

Faz quase meia hora que estou parado na minha poltrona do escritório com apenas uma toalha enrolada na cintura, já que não consegui nem ir trocar de roupa para pegar a caixa logo que Gary chegasse. Não entendia o porquê da minha cabeça precisar tanto daquilo, mas precisava e não posso negar algo que parece tão essencial para mim no momento.

- Senhor? - me levanto quase deixando o pano cair fazendo com que o velhinho se assustasse virando a cara - Aqui está.

- Obrigado Gary - agradeço com um sorriso sentindo o meu rosto corando intensamente por nenhum motivo muito específico - Peça pra ninguém me incomodar, ok? - ele concorda movimentando a cabeça em um sinal quase imperceptível. Me sento na imensa poltrona que quase me engole, mesmo que acabe mantendo a minha postura estável. 

Abro a caixa com os dedos ainda molhados por causa do banho, mas isso não impede a minha agilidade no processo. A primeira visão que tenho da sua região interna é a presença de diferentes quadros, cartas, fotos, papéis, até algumas canetas coloridas que deviam ser do estojo que a Kim tanto pediu de aniversário.

Não sei o que eu esperava encontrar quando pedi aquela caixa, no entanto, o sentimento é quase abalável. Mexe comigo de todas as formas diferentes e me quebra de todas as formas diferentes, porque trás lembranças que o tempo tirou de mim. A neve que preenche a paisagem gélida de Las Vegas ao mesmo tempo que o cabelo cheio de ondas, com um sorriso maior que o próprio rosto tocavam o papel gelado.

Esboço um pequeno sorriso quando encontro o papel amarelado e amassado do desenho que a Any fez de mim. Pareço tão mais novo ali. Tão diferente. Tão eu. Não o roteirista renomado, o ex professor de literatura ou o cara que quase foi dançarino em Toronto...Apenas Josh. Era essa a sensação que eu tinha quando estava com ela.

Observo a minha foto com a Dytto que preenche o escritório ao mesmo tempo que deixo a minha atenção recai contra a foto que marca o meu rosto de quem acabou de acordar colado ao lado do dela que tem os olhos quase fechados, por causa do sorrisinho que repuxa os cantinhos das íris castanhas.

Nem penso quando acordo a recordação dentro da minha gaveta ao invés de coloca-la de volta na caixa. Nem mesmo percebo quando vou até o calendário preso na parede e marco com um imenso X vermelho o aniversário da minha irmã que é daqui a uma semana com o pensamento que preciso encontrar o número da assessoria da Any.

Precisamos arrumar os preparativos.



My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora