Any Gabrielly.
Estamos esperando na frente do camarim, já que não queremos invadir o espaço pessoal que a Kim parece ter construído ali. Josh está um pouquinho mais a frente com um buque de flores na mão e um sorriso nervoso que quase me faz ri. A gola da camisa do loiro está toda dobrada me dando vontade de arruma-la o que certamente seria uma péssima ideia devido todas as circunstancias atuais.
- O que foi? - pisco sem entender quando a pergunta é feita por ele a mim. Os seus imensos olhos azuis me encaram curiosos e acabo percebendo que devo estar com cara de idiota pensando em tudo aquilo.
- Nada - digo torcendo para aquilo bastar, o que graças a Kim, acontece - Kimberly Beauchamp! - a chamo pelo nome sobrenome a fazendo ri. O cabelo parece ter passado por um terremoto e o vestido que antes estava devidamente passado parecia molhado nas pontas me deixando com um ponto de interrogação na testa.
- O que vocês acharam? - a voz tensa me deixa sorridente por ter a resposta correta para aquilo, mas espero Josh responder. Eu acho que a resposta dele importa muito mais do que a minha. O loiro me encara e depois se vira pra irmã que parece ter o coração na mão.
- Foi perfeito. Não teria como ser melhor - diz a abraçando logo depois. Fico de coração quentinho. Kimberly sorri e se afasta me olhando. Me aproximo para abraça-la pondo o meu queixo sobre a sua cabeça.
- Não cresce tão rápido - digo e ela ri. Josh solta uma risadinha e sei que ele deve estar pensando o mesmo pela forma como solta um suspiro me olhando logo depois.
- Vou pensar no seu caso - brinca se virando assim que uma ruivinha surge na porta do camarim - Posso ir comer com o pessoal? - Kim não solta a mão da minha cintura, mesmo olhando para o irmão que parece surpreso com a pergunta, mas concorda logo depois - Obrigada Kyle! - saltita feliz para longe de nós dois.
- Fomos esquecidos - digo dando uns tapinhas no meu vestido. Ele dá de ombros com um sorriso de lado.
- Eu sabia que um dia isso aconteceria. Me preparei por 34 anos... - diz me fazendo ri.
- Como se você não tem nem 30? - pergunto o fazendo dá de ombros pela segunda vez tombando a cabeça ao me olhar e de repente me sinto como se tivesse 17 anos sentindo o meu coração esmurrando no peito após uma aula dele.
- Quer ir comer alguma coisa? Talvez sushi, mas também se quiser outra coisa - convida me fazendo ter que morder o lado da minha bochecha para evitar um sorriso.
- Vamos, essa peça me deixou com fome - digo me virando para a porta de saída sendo seguida a pulos por ele.
- Nossa, nem me fala - diz me acompanhando, lado a lado, quase com as nossas mãos se tocando - Teve uma hora na peça...
E assim, eu passei meia hora ouvindo Josh Kyle Beauchamp contando cada passo da peça que havia deixado ele com fome ou muito 'Uau'. E pode ter certeza, que tinha sido a melhor meia hora em cinco anos da minha vida.
Josh Beauchamp.
Já deve ser quase nove horas da noite quando percebo que ainda estamos na ponte. Deixei o meu carro estacionado em uma rua próxima do restaurante para andar com a Any até o apartamento dela que não ficava muito longe. Era tão esquisito escuta-la falando sobre tudo, até sobre os livros novos, Sabina e Pepe que ainda estavam naquela indecisão, casamento do amigo em algumas semanas e sobre o aniversário da Kim daqui a dois dias.
Tenho vontade de segurar a mão dela, mas paro. A aliança ainda está no meu dedo e ela também tem uma no dedo dela, o que simboliza que "Não! De jeito nenhum eu posso tocar na mão dela". Any para de falar e eu nem percebo. O silencio vira um bom assunto até que ela para nas grandes correntes que sustentam a ponte e olha para o céu reflexiva.
- Quando eu tinha 17 anos, isso aqui - aponta para a visão na nossa frente - Era completamente idiota, sem graça e horrendo, sendo que hoje em dia eu só desejaria poder voltar pra essa visão dos infernos - diz rindo da última parte, mas depois fica triste. Quase solitária.
- "E ela, de repente, percebe que sente falta de casa. É triste ter a noção do quanto amamos as pequenas coisas quando as perdemos"- cito a fazendo me olhar surpresa e com uma onda de emoção diferente passar pelos olhos castanhos dela.
- Você leu? Pensei que não tivesse lido nenhum - o sorriso cresce e tenho vontade de ter lido aqueles livros mais cem vezes para decorar cada pequena vírgula - Foi a minha estreia. Foi tão estranho, porque eu só escrevia para o meu computador e de repente todo mundo sabia o que eu pensava.
- Bem vinda ao sucesso - digo me apoiando. Solto o ar pesado - Quando eu comecei foi tão esquisito, porque eu não queria ser roteirista - ela me olha de forma surpresa e dou de ombros - Eu gostava da sala de aula, mesmo que o salário seja mínimo, enquanto o de agora é dez vezes maior.
- Então por que parou de lecionar?
- Porque não fazia mais sentido.
E era a verdade. Não fazia mais sentido eu preparar as aulas, ir pra escola, conversar com os pais, alunos, provas, peças escolares, testes, trabalhos e coisas do tipo. Não fazia mais sentido, então eu só parei.
- Mas você amava. Não amava?
- Amava - respondo a olhando de lado e vendo que a mesma movimentar a cabeça em concordância, como se me entendesse - Mas as vezes precisamos deixar o passado pra trás - termino a vendo concordar com a cabeça.
- Tem razão - diz e sei que quer falar alguma coisa, mas o celular toca ela se inclina, ler a mensagem rapidamente e depois vira pra mim - Preciso ir.
Faço que sim, porque de uma certa forma eu já sabia que ouviria isso. Ela começa a andar até a rua ao lado sendo seguida por mim até que um táxi aparece, eu faço sinal e o carro para na nossa frente. Ela não se vira, nem fala nada por uns bons dez segundos antes de olhar pra mim com aqueles imensos olhos.
- Obrigada por hoje, Kyle - é diferente ouvir esse nome saindo dela, por isso acabo sorrindo. Ela abre a porta do carro pronta para entrar, mas de repente volta atrás me olhando. O meu coração dispara quando sinto os lábios dela no canto dos meus lábios e por Deus como eu queria ter segurado a mão dela - Até.
- Até.
Observo o carro sair do meu campo de visão. Dou um pulo por algum motivo. Começo a andar sem parar de pensar em mãos, beijos, lábios, peças, romeu e julieta, noites, amar ou não amar, sushi, vestidos vermelhos e Any.
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My Teacher - Beauany 2Temp
Teen FictionÉ mais fácil fingir que nada aconteceu. Fingir que durante todo esse tempo só aconteceram coisas boas, pessoas novas e conquistas. Talvez assim, só assim, eu possa esquecer que não aconteceu um final feliz para nós dois. Possa esquecer todas as sens...