Any Franco
Kim entra no carro parecendo aliviada. Quase nove da noite e uma menina de 17 anos estava parada em frente uma escola de teatro - fechada - em uma das cidades considerada o centro da perdição. Fecho as mãos em torno do volante com a pergunta na porta da língua quase sendo gritada "Você não tinha ninguém para vim te pegar?" ou melhor "Cadê o seu irmão?". Será mesmo que o grande e magnata Josh Beauchamp não tem tempo nem pra cuidar da irmã? Ou um motorista porque pelo amor de Deus...- Não faça isso - a voz urgente da menina ao meu lado me assusta por alguns segundos, já que a minha mente divagava por outras ideias - Não pense que a culpa é dele, porque não é.
- Kim, o que? Do que você está falando? - a encaro curiosa quando o sinal vermelho ilumina o vidro do meu carro fazendo os outros pararem logo atrás.
- Sei que deve estar achando que o meu irmão é um egoísta que só pensa nele, mas você não imagina o quão difícil as coisas estão lá em casa - explica com a voz embargada. Suspira olhando para as mãos. Piso no acelerador com uma sensação horrível na garganta, quase me queimando.
- Não... - a mentira está vindo, quase saindo. No entanto, mesmo com o pouco tempo de convívio sinto que a Kim me conhece melhor do que ninguém. Mentir seria inútil - Desculpa. Eu não quis pensar mal dele - digo e estou sendo sincera.
Ela assente, concorda e sorri rápido me olhando antes de voltar a atenção para frente. Ela cresceu. Talvez eu não tenha percebido o tempo desses cinco anos, mas encontrar Kim me faz sentir cada segundo que já foi corrido. Ela é a personificação completa dos cinco anos. Me vejo bem ao concluir isso.
- Fica bem ali - diz apontando pra uma entradinha que logo dá lugar a um jardim incrível que têm largos portões logo atrás - Ele gosta de flores.
Faço que sim, perplexa. É enorme. Uma mansão praticamente. Mais do que linda... Extraordinária. Cada toque, folha, rosa, árvore me lembrou dele e isso sim era sensacional. Eu devia estar parecendo uma super fã, mas não tinha como agir de outra forma.
- Aqui? - ela faz que sim puxando o cinto - Bem, está entregue - falo sorrindo enquanto a observo se arrumar. Ela morde o lábio parecendo hesitante.
- Quer entrar? - imediatamente faço que não com a cabeça, entretanto, ela logo se recupera soltando: - Eu gostaria mesmo que você entrasse por dois minutos.
A encaro com os olhos arregalados. Olho pra imensa casa e depois de novo pra ela. Suspira dando de ombros soltando o meu cinto de segurança, arrancando uma dancinha de comemoração dela que me faz ri. Desço tentando não parecer uma completa idiota no meio de tudo aquilo, mas sinto que falho completamente.
- Toma pra você - ela puxa uma das rosas brancas me entregando com sutileza - Eu sei que adora esse tipo.
- Ah! Muito obrigada - solto como uma tola a seguindo pelo extenso caminho até a porta. Apenas quando coloco o meu pé no tapete de entrada me lembro que estou na nova casa do Josh.
Não de um vizinho. Do Josh.
Aperto a flor nem me importando com os espinhos. Eu esperava mesmo que ele estivesse dormindo, trabalhando, que até mesmo tivesse viajado pra bem longe. Fecho os olhos por um instante tentando me acalmar. Não estava preparada depois da nossa pequena discussão.
- Kimberly! - o que parece ser o modormo abre a porta parecendo surpreso. Kim dá de ombros deixando as botas em um canto.
- Boa noite Gary! Essa é a Any - me apresenta como se fossemos melhores amigas. Aperto a mão do senhor que me avalia com cuidado parando na rosa entre os meus dedos - Any, não faça cerimônia...
- Gary? - a voz me deixa estática. Parada na frente da porta enquanto ele desce as escadas com um roupão, o cabelo molhado e desarrumado, além de um cigarro entre os dedos. A própria imagem da perfeição - Kim? Any? O que... - um pequeno lapso parece torná-lo porque ele simplesmente desmorona na escada - Cara, eu sinto muito... - vejo a loirinha dando de ombros com um sorriso.
- Está tudo bem. A Any me trouxe sã e salva - diz parando na frente do cara de quase trinta anos, mas que parece uma criança estando daquele jeito com a irmã mais nova - Vou dormir, ok? - Não parece uma pergunta, no entanto, ele concorda como se fosse - Boa noite Any.
- Boa noite Kim - a minha voz sai contida. Quase sussurrada como se tivesse medo de ser ouvida por alguém. Josh a observa subir as escadas com as costas arqueadas em um sinal de cansaço.
Não sei quem é aquele homem parado com os dois braços postos ao lado do corpo esperando por alguma coisa. Não reconheço o olhar caído, os ombros relaxados e o jeito concentrado. Não conheço aquele Josh. Me sinto péssima por ter pensado mal dele, mesmo que tenha sido uma tremenda falta de responsabilidade com a Kim, não consigo deixar de querer...
Abraça-lo?
- Merda - coloco a mão na boca assim que a palavra indesejada sai. Ele se vira percebendo a minha presença pela primeira vez, de fato. O encaro sem saber se seria sensato sorri ou fazer algum do tipo, então continuo séria.
- Ela ligou pra você? - a pergunta me pega de surpresa. Ela demora a ecoar pelos meus ouvidos chegando até o meu cérebro dez segundos depois, enquanto o Josh me observa com os dois braços cruzados na altura do peito.
- Ah, não! - respondo brincando com as minhas pulseiras - Eu passei por frente da escola, a vi ali sentada e como parecia esperando alguém pensei... - mordo a língua porque ele suspira descendo os degraus indo até uma mesinha que tinha todos os tipos de garrafas - Pensei que precisasse de ajuda.
Ele concorda suavemente enchendo o copo com um líquido vermelho andando até a lareira. Fico ali, parada, com os olhos atentos e a mente confusa. Eu não esperava que ele fosse resolver se embebedar com a minha presença ali.
- As coisas ficará difíceis depois da morte da minha mãe. Kim, trabalho, mudanças, crises e tudo o que o luto pede quando nos agarra - o copo é virado e em apenas dois goles é esvaziado. Enfio as unhas na minha pele quando me abraço desejando estar abraçando ele ao invés de mim.
- Não precisa se explicar pra mim - falo me aproximando alguns passos, mas parando não querendo invadir o espaço dele - Sabe que não precisa.
Josh se vira com a pergunta presa nos olhos azuis "Sei?" e de repente sei que sabe, porque sorri de canto me fazendo sorri também. O meu coração aquece. Reconheço aquele calor. Cumplicidade. A sensação de que eu o conheço mais do que imaginava, mesmo sobre as camadas que o protegem. E tenho certeza, que ele consegue me compreender também.
- Eu só sinto que estou sendo péssimo em assumir isso - diz apontando pra um dos quadros que estavam ao lado da lareira. Me aproximo ficando completamente ao lado dele para analisar melhor a imagem toda. Sorrio como uma idiota ao ver os dois juntos, distraídos, vendo alguma coisa na câmera antiga dele. Os outros quadros eram divididos entre a dona Úrsula, um da Kim pequena e outro dela em um palco, já o o último da fileira... Dytto.
- Ela não acha isso - engulo em seco olhando pra ele - Ela te adora! Te idolatra de verdade - Josh ri na última frase - É sério. Você não está fazendo nada de errado - sinto o seu olhar duvidoso, então logo acrescento: - Não de propósito.
- Concluiu isso em apenas vinte minutos? - pergunta e mesmo com a ironia percebo a esperança de não ser terrível como irmão.
- Percebi isso em cinco anos - retruco sem pensar, mas não recebo nenhuma resposta sarcástica. O meu corpo fica totalmente tenso diante da proximidade. Suspiro louca pra fugir daquela sensação irritante - Preciso ir. Já está tarde.
- É, verdade - andamos lado a lado até a porta. Procuro pelo carinha que me atendeu, mas não o vejo mais por perto - Any? - o encaro tão depressa que preciso de dois segundos pra me recuperar - Não me desculpei por ter sido um total babaca naquela noite.
- Tá tudo bem - digo descontraída.
- Não - ele parece tão sério que me obrigo a ficar séria também - Eu nunca deveria ter dito aquilo. Não sei o que deu em mim e sinto muito por tudo aquilo... - por um súbito de loucura toco no braço dele fazendo com que ele pare de falar.
- Está tudo bem, Kyle - sorrio e ele sorri também. E sinto que realmente está tudo bem.
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My Teacher - Beauany 2Temp
Teen FictionÉ mais fácil fingir que nada aconteceu. Fingir que durante todo esse tempo só aconteceram coisas boas, pessoas novas e conquistas. Talvez assim, só assim, eu possa esquecer que não aconteceu um final feliz para nós dois. Possa esquecer todas as sens...