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"Sinto sua falta" Mensagem de Josh para Any, mas que foi excluída dos rascunhos logo depois.

Any Franco.
Nada. Nenhum personagem ou história nova. Nada. Apenas um vazio e um eco terrível na minha cabeça lembrando que não existe a menor possibilidade de um livro sair naquelas condições.

Desço as escadas do apartamento sem vontade, me enrolando ainda mais no casaco enquanto abro as pernas com o cigarro entre os dentes. Shelby está dando voltas pela sala, indo pra lá e pra cá igual aqueles cachorrinhos perdidos. Agradeço ela saber que preciso de espaço olhando pros prédios brilhantes de Las Vegas.

Escuto a porta ser aberta antes das onze. Tomo um susto jogando o cigarro pela janela o mais rápido que posso para logo depois correr pra cozinha procurando a caixinha de mentos que eu deixo por ali. Jogo cinco logo na boca bem a tempo do Charlie falar alguma coisa pra Shelby e entrar na cozinha com a mesma no colo.

- Oi amor - cumprimenta deixando as chaves em cima da mesa, dando a volta pra depositar um beijo rápido na minha cabeça - As coisas no treino foram uma loucura hoje e o treinador ainda quer que a gente dê um jeito de ir na reunião mais tarde - reclama procurando alguma coisa na geladeira.

- Eu sempre acho esquisito você chamando o Pepe de treinador - digo sentindo o hálito pesado do cigarro saindo finalmente dando espaço para o sabor do mentos. Ele ri do meu comentário sentando ao meu lado.

- Costume - diz prestando atenção no café elaborado e de última hora - Quer ir comigo na reunião? - pergunta em forma de convite concentrado na comida. Penso em aceitar já que eu não tinha nada pra fazer, mas outra ideia vem na minha cabeça, então acabo fazendo que não tocando na mão gelada do Charlie.

- Tudo bem pra você ir sozinho? - o encaro pra ter certeza que a sua resposta vai ser verdadeira. Ele faz que sim dando de ombros, logo depois me olha entendendo a minha preocupação.

- Não vou ter outra recaída - afirma apertando os meus dedos - Prometo.

Isso não me deixa melhor. Odeio promessas. Odeio a forma como elas se quebram logo depois. Por isso apenas assinto fingindo ter escutado apenas que ele iria fazer de tudo para se manter bem. Sem o prometo.

Já são quase nove da noite. Nem me lembro mais o endereço direito do lugar, mas mesmo assim insisto em encontrar nas ruas quase desertas. Não demora nem dois minutos para que a minha busca alcance sucesso quando encontro o barzinho com luzes vermelhas piscando.

É quase atemporal o sentimento que invade o meu peito quando entro no local tocando com o meu sapato meio sujo o piso liso. Um dos seguranças me cumprimenta apontando pra uma das mesas, mas faço que não apenas olhando pro palco. Tem alguém ali se apresentando, mas não sei quem é. Olho ao redor procurando por alguma coisa que não sei, talvez seja por ele, ou talvez não.

- Com licença - me viro encontrando um senhor baixinho me olhando com os olhos brilhando - Você é a Any Gabrielly? - pergunta com um papelzinho na mão.

- Oi, sou sim - respondo corando na velocidade da luz - Aconteceu alguma coisa? - mexo no meu cabelo que já deve estar voltando as origens depois de tanto tempo sem os procedimentos.

-  Queria saber se você gostaria de ler alguma coisa para os nossos clientes hoje - arregalo os olhos diante a ideia - Apenas se você quiser - acrescenta rápido, acho que por causa da minha reação.

- Não, tudo bem, posso sim - digo sorrindo tentando aliviar a tensão que se instalou nos seus ombros. Ele sorri abertamente agradecendo com palavras rápidas, antes de subir no palco anunciando a minha chegada.

Não faço a mínima ideia do que falar, qual texto usar e nem nada. Respiro fundo, tento arrumar a minha postura, ajeitar o meu cabelo e deixar a minha cara menos pálida. Sorrio pra tentar mostrar que está tudo, mesmo que eu esteja a beira de um colapso.

Todos aplaudem quando o baixinho termina o discurso estendendo os braços na minha direção. Vou até ele com o coração pulando no peito ao mesmo tempo que a luz vem no meu rosto, deixando a minha visão embaçada. Não sou a Any Gabrielly nesse palco. Sou apenas a Any.

- Boa noite! Obrigada pela recepção, bem... - passo a minha mão suada pela calça temendo que isso só mostre a minha timidez diante daquela situação - Não tenho nada preparado, mas pensei em mostrar um texto que eu escrevi há muito tempo - a ideia passa rápido na minha cabeça e eu a pego - Então, vamos lá...

Cada pequena vaga ideia
Sentimento de eternidade
Nesse quarto sem almas
Entrego toda a minha sonoridade
Não importa quantas de amor eu tenha que escrever
Nem quantas músicas tenha que escutar
A verdade é que por trás de cada papel
Imagino o seu rosto preso a luz do sol
O seu sorriso misturado a neve
Você preso ao meu lado na cama
Nós dois em um carrossel
Por isso, não importa quantas vezes eu tente mudar
Tudo sempre será sobre você

Nem sabia que ainda me lembrava desse texto, mas me lembro e isso se torna claro na forma como as lágrimas queimam os meus olhos ao terminar. Escuto uma salva de palmas, mas a única coisa que consigo fazer é relembrar cada pequeno pedaço de cada pequeno fragmento. Sorrio olhando para os lados meio tonta. O baixinho chega segurando no meu braço para logo depois me abraçar.

Saio do palco tremendo. Algumas pessoas me cumprimentam e acabo soltando apenas um "obrigada" para todos que passam por mim. Ainda me lembro da escada que leva ao andar de cima e logo que a encontro corro para a mesma rezando para que não tenha ninguém por lá. Seguro no metal gélido temendo que os meus dedos entrem em choque.

Encontro a sala que continua com as mesmas cortinas com a luz da lua entrando a todo momento. Fecho os olhos com a cabeça pra fora da janela tentando respirar. Por favor, sem crises, sem crises, sem crises...Eu só precisava do cigarro. De qualquer cigarro. De qualquer coisa.

- Droga, que merda! - murmuro passando a mão pelo cabelo. Me assusto ao ouvir alguma coisa batendo contra a parede - Meu Deus!

Me viro encontrando um homem, que deve ser bem alto, agachado tentando ajuntar os caquinhos do vaso que ele acabou de quebrar. Parece agitado.

- Desculpa. Que merda! Eu jurava que era de barro ou sei lá...- escuto uma risadinha, mas algo em mim se quebra. Se quebra em mim pedaços. Mais de mil pedaços. Nada sai. Nada entra. Não consigo respirar.

Ele levanta o olhar pra mim e por um milésimo de segundo acho que não me reconhece, mas algo muda. A forma como ele se levanta, como ele coloca as mãos no bolso da calça, como ele ajeita o gorro sem saber o que fazer. Nós dois mudamos. Nós dois nos tornamos novas pessoas, mas nada muda a maneira como os olhos azuis encontram os meus e ficam ali.

- Josh?

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora