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Josh Beauchamp
Pela primeira vez em anos fico sem saber o que fazer. Simplesmente esqueço os cacos no chão preso no rosto que nunca saiu dos meus pensamentos por mais de cinco anos e acho que seria assim até o final dos meus dias. Não tenho noção dos meus movimentos, por isso mantenho os meus braços ao redor do meu corpo temendo que os mesmos pudessem ir em direção à morena. Ela também parece incrédula, aliás, quem não ficaria?

- Josh? – o seu tom de voz parece hesitante e temeroso. Como se tivesse receosa de falar qualquer coisa que pudesse comprometê-la. Arrumo o meu gorro e meu Deus! Como eu queria ter ficado em casa, quieto com todas aquelas sensações distantes do meu corpo como alguém que jamais sentiu nada – Você é o Josh, certo? O Beauchamp? – pergunta agora parecendo mais estressada. Quase acho graça de como ela parece ansiosa por uma resposta.

- É o que ainda diz a minha identidade – respondo me abraçando – Any? Any Franco? – ela parece meio confusa da maneira como eu a chamei, mas não demora tanto assim na expressão duvidosa, pois logo me responde com um sorriso:

- Faz muito tempo que eu não sou chamada assim – revela me fazendo soltar um sorriso rápido também – Desculpa pela forma como eu reagi. Só não esperava te encontrar aqui, hoje e... – ela olha para os cacos no chão – Dessa forma.

Dou de ombros tentando perceber as diferenças. As costas pareciam mais eretas, não como a de uma adolescente que assiste filmes ou ler livros, mas sim de uma adulta que faz histórias. O cabelo está exatamente da forma como a minha irmã descreveu no outro dia. Diferente, não de uma forma ruim, no entanto, continua diferente.

- Pois é – concordo depois de uns vinte segundos torcendo para não ter parecido um lunático – Sabe eu não esperava mesmo te ver aqui e principalmente aqui em cima. Motivo especial? – mordo a língua no exato momento em que a pergunta sai. Talvez eu não tenha entendido o que eu mesmo falei, mas ela entendeu. Entendeu porque os dois olhos escuros voltaram-se contra mim com uma fúria silenciosa contida. Eu adorei a sensação.

- Sem motivos especiais – diz dando de ombros e com um sorriso contido – Além disso, não é como se isso daqui guardasse alguma lembrança que mereça ser revivida, né? – pisco surpreso com a resposta. Temo em ter demonstrado como fiquei chocado, então apenas respiro fundo – O que foi?

- Nada. Queria que tivesse sido alguma coisa? – ela me encara, eu retribuo o olhar e ali tenho certeza o que restou de nós dois: ressentimento. Não amor como nas histórias dos contos de fadas, mas dor, sofrimento que cada um causou na vida do outro e muita mágoa. Ela enfia as mãos no bolso do casaco, me olha com um sorriso que não mostra os dentes e diz com clareza:

- É ótimo saber que você continua o mesmo – não sei o que ela quis dizer com isso, mas não gostei nem um pouco. Cruzo os braços tentando parecer tão forte quanto, mas acabo parecendo mais uma criança mimada fazendo birra (o que não estava muito longe dela no momento).

- Nossa, eu ia falar a mesma coisa – ela sabe que eu não falei isso da melhor maneira, então abre a boca várias e várias vezes, mas nada sai. Sinto que poderia sair mais de 1.000 xingamentos dali, no entanto, a mulher madura não quer se sujeitar a isso – O que foi? Perdeu a língua?

- Olha aqui seu... – a porta se abre o dono do bar aparece e nos encara como se fossemos dois malucos. Aceno feliz da vida por ter conseguido deixa-la com raiva e ainda por cima ter a chance de ve-la guardar a raiva toda pra dentro de si.

- Aconteceu alguma coisa? – ele pergunta. Me viro para a Any que nos encara com os dentes semicerrados.

- Não sei... Aconteceu querida? – sorrio, ela sorri por dois milésimos de segundos antes de andar na minha direção, me encarar, chutar o vidro pro meu sapato e soprar com força:

- Se me chamar de “querida” outra vez, vou enfiar esse vidro no seu útero – ameaço. Arregalo os olhos, não pelo medo, mas surpreso pela ousadia. Não consigo evitar diante da fúria contida nas bochechas vermelhas, me inclino apenas para sussurrar:

- Ah mas, eu nem tenho útero.

- Vai querer ter – afirma séria. Os seus olhos encontram os meus e rapidamente me perco ali. Nos olhos castanhos, na forma como os cílios descem pousadamente pela bochecha dela e como os lábios estão entreabertos deixando a respiração sair – Boa noite – e com isso o meu encontro mais esquisito e aleatório com ela, acaba.

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora