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Any Franco

"Tentei fazer um bolo de arroz hoje e deu errado! Você ficaria orgulhosa do estrago que fiz na cozinha. Estou quase conseguindo te superar, Kyle." - e-mail escrito da Any para o Josh. Sendo apagado logo depois.

Encaro a tela do meu computador sem acreditar que realmente todas as minhas ideias sumiram. Qualquer história, personagem, miragem, sonho, ilusão ou maluquice seria adorado caso aparecesse por um sopro na minha cabeça e isso me faz ficar mais estressada do que já estava antes.

Sabina não para de falar com o seu bloco de anotações e o celular desligado na bolsa, já que a editora não parava de ligar pedindo a sinopse do meu novo livro. Suspiro sentindo a minha garganta coçar, enquanto o desespero alcança picos desavisados no meu peito. O maço de cigarros guardado de forma sigilosa na minha bolsa grita pela minha atenção e isso me deixa ainda mais desesperada por mais.

- Que tal juntarmos as ideias dos primeiros livros? - propõe arrumando o cabelo, com as duas mãos firmes no joelho e um sorriso preocupado - Ninguém se lembraria ou perceberia, logo não teríamos com que nos preocupar - explica arqueando a sobrancelha como se fosse um gênio.

- Vou fingir que não ouvi isso de alguém tão inteligente como você - falo ficando de frente para a janela - Talvez a mídia,  editora e os jornalistas de boteco não percebessem o seu grande plano, mas os meus leitores perceberiam - a minha voz sai como a de um robô sairia caso as invenções tecnológicas tivessem sentimentos, como o de desespero.

- Esquece quem deu a ideia - se defende com as duas mãos pra cima - Eu tô tentando livrar a sua barra, Any. Não se esqueça que o prazo do seu livro é de apenas um mês - reviro os olhos como quem já está cansada de ser lembrada do óbvio - Estou tentando ser a responsável aqui.

Isso me faz suspirar, encara-la e logo depois descer as minhas mãos até a minha bolsa em buscar da minha salvação que substituiu os calmantes. Coloco o cigarro entre o dentes, tragando o conteúdo com força, enquanto a Sabina faz uma cara de nojo  sem falar nada. Apenas dou de ombros sem falar nada, porque não preciso dar satisfações a ninguém.

O pôr-do-sol está tão bonito nessa tarde. Inaugurando o novo apartamento perto da minha antiga casa ainda não visitada. Qualquer pessoa surtaria com todas essas mudanças rápidas e precisas em poucas semanas, mas não eu. Não dessa vez. No entanto, não fico surpresa quando Sabina se aproxima, arruma o cabelo, me olha e pergunta sem temor:

- O que está acontecendo, Any? Porque é óbvio que o livro não é a sua única fonte de preocupação - deduz com um toque de sutileza que apenas a mexicana teria comigo - Que tal conversar com uma pessoa que vai poder te ajudar ao invés desse maldito cigarro?

Abro a boca com o objeto em questão entre os meus dedos. Sopro uma onda de fumaça no ambiente pronta para inventar uma desculpa quando a porta é aberta rapidamente revelando o corpo de um homem. Me afasto da mesa com o coração disparado. Por um minuto penso que é Chalie, mas não é ninguém além do Pepe - meu irmão mais velho.

- Uou! Errei o endereço e vim parar na cracolandia? - brinca arrumando o paletó, enquanto pega um doce da mesa - Como vai maninha? - dou de ombros sem tirar o cigarro da boca - E você larina? - o antigo apelido deixa Sabina emburrada e despreparada.

- Bem melhor sem a sua presença - solta me fazendo ri. Pepe finge estar desolado colocando a mão no coração - Não venha com o seu drama, campeão! Já conheço a sua peça - diz cortando o que poderia ter sido algo divertido.

- Sem graça - senta na cadeira ao lado dela - Para a sua sorte sou uma pessoa muito elegante que veio a pedido da irmã - diz se virando pra mim - E aí? O que manda? - pergunta roubando outro brigadeiro.

Se passaram cinco anos, mas o Pepe continua o mesmo. Nada mudou. Nem o sorriso, tamanho, cabelo, jeito, forma e nem nada. A diferença é que ele não é mais um estudante da faculdade de Ny, mas sim um dos melhores técnicos da temporada, ou seja: técnico do meu namorado.

- Tem a ver com Charlie e a minha provável consciência pesada - digo jogando o cigarro no lixo - Não sei se foi uma boa ideia ter aceitado que ele viesse junto comigo pra Las Vegas - desabafo recebendo um movimento de cabeça da minha empresária que mostra entender o porquê da minha dúvida.

- Isso é um bom ponto - Pepe diz cruzando os braços - Há um mês, eu diria para que tomasse cuidado e que você era uma maluca sem causa, mas não acho isso no momento - revela me deixando aliviada - Acho que o Charlie está preparado para enfrentar a cidade do sexo, drogas e bebidas - conclui  - Tanto que seja com você.

Concordo mais aliviada. Pego a papelada de cima da mesa sem dizer nada, afinal: o que eu falaria? O Chalie trabalhou duro pra ficar sóbrio, venceu a temporada e está bem. Estamos bem. Vai ficar tudo bem.

Josh Beauchamp

"Está nevando por aqui...Pensei em você. Será que seria um bom momento para ligar?" - e-mail escrito pelo Josh para a Any, mas nunca enviado. Sendo apagado logo depois.

Tento não ficar estressado quando Sam me liga na hora do jantar pra me perguntar sobre o roteiro do nosso próximo filme. Dytto não tenta esconder a irritação de ter sido cortada pelo toque do meu telefone, enquanto Kim apenas suspira olhando pra comida. Digo duas palavras e desligo tentando ser o irmão dedicado e o noivo compromissado com promessas.

- Enfim, o que você estava falando querida? - pergunta fazendo com que ela revire os olhos recomeçando o novo trabalho na empresa de revistas. Mexo na comida do meu prato ficando aliviado quando Kim começa a se entreter com o assunto, rindo das pidas sem graça da minha noiva.

- Eu também tenho uma coisa contar - revela me fazendo parar para escuta-la melhor sendo seguido por Dytto, que parece aliviada de ter sido libertada da pressão que é preencher o vazio das conversas - Eu acho que tentarei a escola de teatro que frequentei quando passei aquele período aqui - conta fazendo com que Dytto solte uns pulinhos.

- Eu acho uma ideia ótima! Nunca te vi atuando e acho que deve ser incrível em um palco, querida - fala encorajando - Além disso, vai ser ótimo para o currículo da faculdade.

- E você Josh? Gostou da ideia? - pergunta com as duas mãos postas. Me curvo sobre a mesa ainda mastigando sentindo a minha garganta fechar da pior forma possível.

- Seria bom - consigo dizer por fim - Acho que preciso tomar remédio pra dor de cabeça - me desculpo, levantando da cadeira sem vontade - Boa noite, mana - desejo beijando a cabeça dela.

XOXO
LAÍS.

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora