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Any Gabrielly.

Quando chego em casa, as luzes estão todas apagadas e fico feliz por ter conseguido fugir de uma maratona do Charlie chateada pelo horário que cheguei. Não tiro o vestido, na verdade, continuo com ele rodando pela sala ouvindo apenas o barulhinho do meu salto encontrando o piso. Em condições normais, eu me acharia maluca por ter saído daquela forma no início de um inverno em Las Vegas, mas ao invés disso, me sinto ótima.

Me sinto energizada. Correria mais dois mil quilômetros naquela neve pesada caso pudesse. Passo o dedo pelo pó preso nas laterais da lareira, mas nem penso em acende-la deixando apenas que o sujo se instale no meu dedo para que depois eu possa limpa-lo no meu vestido. Alguns quadros estão espalhados, sendo que a maioria se trata de fotos minhas com o Charlie, ou apenas minhas. Ele nunca gostou de ser fotografado.

Me sento na mesinha próxima a varanda, abrindo o computador que estava deixado com cuidado ali. As notas estão inacabadas e daqui a pouco vai começar a nevar, outra vez, pela forma como o céu se encontra. A Any de 17 anos grita dentro de mim, mas eu a ignoro, porque finalmente entendi.

Não tem como voltar atrás. Não tem como eu voltar a ter dezoito anos, porque eu tenho 25 e isso que é importante. Eu preciso saber viver com esses 25. Preciso ser feliz com os meus 25 e todas as coisas boas que eu posso fazer com essa idade.

Por isso, apago completamente as 78 páginas que eu tinha escrito para o novo livro. Vou até a cozinha para pegar café, afinal eu tenho uma nova história para recomeçar.

Josh Beauchamp.

Chego em casa quase seis da manhã e nem sei como isso aconteceu. Só não estou cansado ou com dor de cabeça, apenas sinto os meus pés gelados e o meu cabelo pesado pela quantidade de neve que deve a ver ali. Deixo o meu casaco em uma cadeira que fica ao lado da porta e ando até o sofá para me deitar.

- Bom dia senhor Beauchamp - escuto a voz do Gary, o que me faz sorri, já que provavelmente ele deve ter me esperado a noite toda - Deseja um chá ou algo mais forte? O senhor tem uma reunião em apenas um hora. 

- Não, mas obrigado - digo e preciso me inclinar para ver se ele conseguiu entender. Pela forma como ainda mantem as mãos na linha do peitoral como um bom mordomo sei que ainda não - Venha cá Gary - peço e ele se aproxima com cuidado. Acho graça e o puxo para que sente do meu lado - Já se apaixonou alguma vez?

Ele arregala os olhos por trás daquele óculos feio, mas realmente estende a sua visão para o outro lado da sala, pensativo. Abre a boca diversas vezes até que finalmente solta um suspiro e me olha dizendo: - Eu tinha 22 anos e trabalhava em uma loja na esquina de uma rua do Texas. Ela sempre passava por ali com uma sacola imensa me dando a sensação de que se tratava de uma garota rica que odeia gente pobre, como eu - se acusa e nós dois rimos - Mas ela era tão bonita que nem me importava, então um dia resolvi jogar uma bola de ping pong na cabeça dela o que foi horrível, já que ela chorou tanto que eu pensei que tivesse quebrado a testa dela.

Gary tem um sorriso sonhador que me dá um aperto no coração.

- Ela é a sua esposa? - pergunto apontando para a aliança no dedo dele. Gary fica sério, mas depois sorri, mas de forma triste.

- Era e sempre será - diz e eu entendo - Há quinze anos perdi a minha amada Rose e a dor foi tão insuportável que tive vontade de nunca ter jogado aquela maldita bolinha para chamar atenção dela, mas depois, senhor Josh, eu percebi que  nada que não nos cause um pouco de dor não merece ser vivido.

O seu olhar encontra o meu e de repente sei. Solto um suspiro resignado de quem sabe que terá que dá adeus a alguém. Me levanto, me virando apenas para dá um beijo no alto da cabeça do meu velhinho antes de sair até o escritório.


Querida Dytto, 

Quando chegar quero que leia essa carta com todo o carinho que eu sei que existe no seu coração. É sempre doloroso ter que se despedir de alguém, ou colocar um ponto final em um roteiro de um filme (não importa se for de ação, drama ou comédia), mas sempre machuca. Profundamente. De qualquer forma.

O que eu quero dizer é que, Dytto, você me deu uma eternidade e uma linda história de amor que, talvez, de outras forma teria uma final eterno e feliz, mas não assim. Não com essa sensação de que estou tirando a oportunidade de você ser amada a cada batida do coração e me tirar a oportunidade de amar alguém a cada batida do meu coração.

Isso não significa que eu não te amo. Eu amo sim e por isso machuca ter que deixar tudo isso pra trás, mas espero que voce entenda. Entenda o motivo que me faz ir.

Obrigado por tudo, 

Josh.

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora