26

1.2K 153 89
                                    

Any Franco.

A chuva caia de forma menos intensa do que antes, mas a sensação de que as gotas tocariam as nossas costas com tanta força que acabaríamos morrendo perfurados até chegarmos ao carro. Me encolho toda, por causa do frio, olhando para os meus dedinhos que estavam para fora, já que os meus sapatos estavam molhados até o último fio. Josh estava com a cabeça tombada para o lado observando alguma coisa que vinha depois do meio fio – o que impossibilitava a minha missão de iniciar uma conversa.

- Vamos jogar alguma coisa – digo de repente o fazendo me encarar confuso – Vamos ver quem consegue falar mais citações – ele ri depois de uns cinco segundos da minha fala. Dou um soquinho no ombro do loiro oxigenado – Começa você.

Ele para pra pensar brincando com os anéis ao redor dos seus dedos. Arqueia uma das sobrancelhas e depois se vira com os lábios entreabertos como se fosse um soltar um suspiro, mas ao invés disso diz: - "Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos" – dá de ombros – Pequeno Príncipe.

- Pequeno Príncipe? – pergunto surpresa. Ele faz que sim sorrindo.

- Foi o primeiro livro que eu li – revela e sinto o meu coração quentinho com o que ele acabou de compartilhar – Agora, é a sua vez.

- "Quando eu acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que mudei muitas vezes desde então" – cito – Alice no País das Maravilhas.

- Pra melhor ou pra pior? – pergunta me fazendo piscar algumas vezes, confusa com a pergunta – Você disse que mudou desde manhã – os seus olhos azuis me observam com uma profundida que sinto um medo tremendo dele ter descoberto todos os meus segredos.

- "Por você, faria isso mil vezes" – evito olhar para ele, então apenas assinto com a cabeça – O caçador de Pipas.

- "As vezes, se apaixonar é a atitude mais corajosa que alguém pode ter" – digo me lembrando da época que eu era completamente fanática pela Seleção sabendo todas as falas de có e sorteado. Mas com o passar do tempo acabou que essa foi a única que ficou na minha memória – A Coroa.

- Meu Deus! – ele se curva rindo – Que decadência Any – arregalo os olhos, enquanto o leso se curva quase uivando de tanto de ri – A Coroa com aquela chata da... – ele se vira mais sério – Qual era o nome da antipática?

- Eadlyn! – praticamente grito diante do fato dele não saber quem era a a rainha da série – Seu preconceituoso pragmático – murmuro meio revoltada o fazendo ri ainda mais. Vou joga-lo no asfalto se ele não parar.

- "Você está livre para amar sem qualquer obrigação" – evito um sorriso crescendo. Conhecia aquela frase, o Josh vivia repetindo ela durante as aulas – A Cabana.

- "Você pode passar a vida inteira sem perceber que aquilo que procura está bem na sua frente" – e por Deus. Os nossos olhares se encontraram e tudo dentro de mim gritou em alerta. Eu nunca acreditei naquelas histórias bobas que depois de tanto o amor continuava vivo dentro de você. E eu sei que isso não é verdade, porque as pessoas mudam. Eu mudei. Ele mudou.

E. Merda. Seria muito fácil me apaixonar pelo novo Josh se eu continuasse brincando daquele jeito.

Ele se levanta ficando quase na minha frente olhando para a chuva torrencial que nos prendeu naquilo tudo. As luzes da lanchonete estavam praticamente apagadas, as ruas vazias, sem contar com nós dois. O observo sem saber o que fazer, totalmente imersa a toda aquela besteira que gritava dentro de mim diante daquela situação toda.

- Sua vez – lanço. Ele não diz nada, continuando em silencio – Josh, se você não falar nada vai perder o jogo – o tom desesperado na minha voz deixava bem claro que não era com o jogo que eu estava preocupada – Precisa falar alguma coisa – Qualquer coisa. Por favor.

- "Eu quero que ele feche os braços em volta de mim e jogue as chaves fora, porque aqui é onde ela pertence e estou com medo de que ela me deixe novamente" – cita ainda de costas – Medo.

- É "ele" – falo baixinho – É "ele" no livro. Não "ela" – eu sei que não tem nada a ver, mas o fato dele ter mudado o pronome deve significar alguma coisa. Não deve? Me levanto indo para o lado dele que fica tenso ao meu lado.

- Sua vez.

- "Seja qual for a matéria de que as nossas almas sejam feitas, a minha e a dele são iguais" – não o encaro, mas sei que as íris azuis queimam sobre o meu rosto. As lágrimas queimam e como dói, porque eu sei que as nossas almas estão bem distantes uma das outra.

- Eu achei que seria você pra sempre, Any – a frase me deixa sem ar. Me golpeia com força no peito - Eu achei que tivesse encontrado algo que pudesse ser tão forte quanto o que nós dois vivemos e Deus sabe que não é mais daquele jeito, porque você é tão diferente do que eu me lembrava... – me viro ficando frente a frente – E eu também, mesmo tendo feito de tudo para voltar ao que eu era.

- Josh – seguro os seus braços o tocando. Finalmente – Eu sei que eu não tenho direito de exigir nada que venha de você e nem o contrário, mas eu passei todos esses dias tentando encontrar o garoto que eu deixei ir – que merda. As lágrimas já estão escorrendo, silenciosas, mas eu nem me importo – Talvez eu nunca encontre, mas nunca vou desistir de procurar da mesma forma que você nunca desistiu de mim.

- Eu não amo você – ele diz em um sussurro e eu assinto, porque também não – Mas também nunca senti nada assim por ninguém. Por cinco anos, eu tentei não lembrar, mas desde que eu te encontrei a única coisa que eu quero é lembrar de tudo – os seus dedos passeiam pelo meu rosto e meu Deus... Finalmente – Eu vejo você.

E antes que eu possa falar alguma coisa, os lábios urgentes tocam os meus em uma noite chuvosa em Las Vegas, as nove da noite ao mesmo tempo que um raio rasga o céu. 

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora