Josh Beauchamp
A fumaça do cigarro me mataria caso eu deixasse, mas deixo, mesmo que a Dytto esteja gritando diante de qualquer passo mal calculado dos entregadores. Las Vegas sempre foi fria, no entanto, sinto o vento gélido congelar os meus ossos como se fosse a primeira vez (sendo que estamos na primavera). O cigarro chega ao fim. Apago. Procuro um lixo que não existe, abro o bolso do meu casaco jogando o velho amigo ali.
Bateria em qualquer um que falasse sobre aviões, malas, câmeras, flashes, luzes ou idiotices do tipo. Não lembrava de como cinco horas de voo conseguiam ser cansativas. Dou uma olhada no vidro do carro analisando a minha aparência que tinha uma barba por fazer marcando o meu rosto, cabelo crescendo três centímetros a cada dia e a morte entre os meus dentes.Dytto encara tudo frustrada. Ela fica bem de verde, os lábios inchados, olhos arregalados e mãos na cintura, além dos óculos na cabeça. Bocejo apenas em ve-la marcando os itens de viagem na mala, enquanto mais de dez homens se empenhavam em levar tudo para a casa imensa que o Sam resolveu comprar sem motivo nenhum.
Vejo Kim sentada ao lado do caminhão com o tablete nas mãos e o fone no ouvido. Tento fazer com que ela olhe, mas nada acontece enquanto os dois olhinhos andam pela tela lendo algo importante. Me levanto (graças a Deus) e vou até ela em passos lento. Ao me ver revira os olhos mostrando que não queria a minha presença por perto, mas nem ligo pra isso, tanto que continuo andando na sua direção.
- O que foi loira? – pergunto em tom de deboche sentando ao seu lado com as minhas botas grossas e pesadas. Kim tira o fone, me encara e diz sem restrição nenhuma:
- Odeio quando vem falar comigo com esse cigarro – revela me fazendo ri – É sério! Sabia que você está pagando para morrer? – faço uma cara de tédio, dando uma última tragada antes de puxa-lo, apaga-lo e pisar em cima – Melhor assim, Kyle – o “Kyle” sai de uma forma debochada que preciso respirar fundo para não revidar.
- Vai entender quando crescer – digo de forma sábia ignorando o olhar que ela me lança ao ouvir tal afirmação – Tenho uma reunião importante, então espero que o meu escritório esteja liberado até lá – desejo olhando para a janela de formas douradas em volta ansioso por entrar logo ali e nunca mais sair.
- Nossa! Pensei que estivesse de férias – lembra em tom sarcástico voltando a atenção para o celular – Mas estou enganada, como sempre... – ignoro a última fala dela forçando um sorriso de bom irmão como realmente deve ser.
- Voce é tão antipática, sabia? – digo a encarando – Eu não era assim com 17 anos – falo ficando frustrado ao ser trocado pelo celular – O que você faz tanto aí, hein? – pergunto me inclinando.
- Vendo uma entrevista da Any – fala com tranquilidade – Sabia que ela vem pra Las Vegas essa semana? – pergunta sem ironia levando apenas para a esportiva da coisa toda – Vem com o namorado – acrescenta sem me olhar.
Sorrio sem mostrar os dentes. Olho o relógio como quem não sabe as horas, mexo no cabelo antes de levantar dizendo: - Tenho trabalho agora. Divirta- se! – desejo indo para o jardim. Km não fala nada a me ver indo embora, mas sabe o porquê que faço isso. Sabe melhor do que ninguém porque sempre vou embora.
Any Gabrielly tem livros por todos os cantos do mundo. É namorada do cara mais polemico da liga, o grande Charlie Charlie. Participa de diversos e diferentes tipos de concurso, projetos, premiações e outros eventos importantes no universo literário. São apenas essas coisas que eu sei sobre essa tal nova Any Gabrielly.
Certas coisas devem ser deixadas no passado e é esse é o meu lema sobre ela: deixar no passado. Aceno para a minha noiva que sorri animada. Entretanto, não consigo deixar de imaginar de como seria ela naquela neve, escrevendo ou lendo, enquanto tento encontrar o seu ângulo perfeito pra foto. Fecho os olhos, me forço ao me lembrar de que ela foi embora, que ela me deixou ir.
Faço isso há cinco anos, sendo que vai doer sempre e todos os dias. No início, era terrível, angustiante e ruim lembrar quem partiu o meu coração, mas agora... Agora é mais fácil, é mais importante, é essencial, é vital. As lembranças se tornaram buracos inexistentes na minha vida e isso é mais importante do que respirar. Não quero lembrar quem ela era. Não quero lembrar quem eu fui.
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My Teacher - Beauany 2Temp
Teen FictionÉ mais fácil fingir que nada aconteceu. Fingir que durante todo esse tempo só aconteceram coisas boas, pessoas novas e conquistas. Talvez assim, só assim, eu possa esquecer que não aconteceu um final feliz para nós dois. Possa esquecer todas as sens...