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Any Franco
O meu camarim parecia pequeno demais nessa fatídica tarde e não sei como agir perto de tanta gente me bajulando ao mesmo tempo. Um dos meus primeiros livros está deixado em uma posição importante na minha estante lembrando a todo o momento o que eu sou e o porquê que pediram a minha presença nesse lugar. Passo a mão pelo meu cabelo sofrendo com um lapso de memória ao sentir a falta dos cachos que foram embora há certos anos.

Uma vez um editor me disse que não existe livro perfeito. Eu ri disso, porque eu sabia que existia. Tinha que existir um livro perfeito. Um livro do tipo J.K, autora da série Harry Potter, onde ninguém pode dizer que não gosta, porque não tem como não gostar. Isso é um livro perfeito que merece ser feito. Já publiquei cerca de dez livros e todos eles concorreram prêmios importantes, nunca sofri esse tipo de crise onde não faço a menor ideia por onde começar e isso é tão terrível.

Por isso a ideia de Las Vegas. Depois de cinco anos é assustador voltar pra uma cidade cheia de memórias afetivas tão ruins e tão... Maravilhosas? Existe uma imensidão entre essas memórias na minha cabeça, já que a maioria começa pelo Josh. Mas também existem as que têm a ver com o meu irmão, a minha melhor amiga, os meus amigos, o nosso grupo e todos os aniversários. O mais triste de me lembrar dele é que todas as boas memórias partiram quando ele se foi.

Sabina entra no cômodo com um coque mal arrumado, o casaco azul em volta dos ombros e um sorriso cínico no rosto parecendo pensar em algo. Espero que ela comece logo falando alguma coisa sobre a entrevista e a fatídica última pergunta, mas ao invés disso, apenas começa a andar procurando comida e quando finalmente encontra se sentar na cadeira ao lado da mesa com as duas pernas pra cima.

- Amo a comida deles – coloca uma colher que tem a quantidade de duas ao invés de apenas uma – Quer um pouquinho? Acho que você anda muito magra... – fala e sei que está mentindo pela forma como os seus olhos rolam esperando que eu diga alguma coisa.

- Não vai dizer nada? – pergunto incrédula – Nada sobre o que aconteceu lá embaixo com aquela entrevistadora que seleciona péssimas perguntas? – arrumo a minha roupa esperando que ela me responda, mas recebo apenas um dar de ombros que me deixa chocada e apenas um pouco com raiva.

- Pra que eu vou perguntar se sei exatamente pra quem foi aquela dedicatória – diz pegando uma maçã – Só fiquei surpresa pelo fato de você parecer tão surpresa com a menção da presença dele – diz pegando uma revista para colocar em cima da coxa.

- O nome dele não foi mencionado, além de você nem saber se tem a ver com ele, né? – faço uma cara feia com o revirar de olhos dela – Talvez seja ele. Podia ser qualquer pessoa... – ela me encara sem acreditar acabo dando de ombros e fechando a minha boca.

- Por que você evita falar sobre o assunto? – ela pergunta com os dois olhos cerrados – Não vai me dizer que você ainda... – antes que ela termine a porta é aberta. Dou uma olhada ficando feliz ao ver quem acabou de chegar era o “Charlie” com um buque de flores amarelas e vestindo a camisa do time de futebol – Charlie! Oi – Sabina cumprimenta acenando com a cabeça na sua direção.

- Oi Saby – ele cumprimenta desviando os olhos de mim apenas por dois segundos – Posso ter um minuto com a grande estrela? – pergunta sorrindo fazendo com que eu sorria também. A minha empresária pega mais comida e sai piscando na minha direção. Avalio o estado do meu namorado que tem o cabelo castanho bagunçado, os olhos claros mantidos na minha presença e as roupas de estilo atlético – E aí princesa? Como foi?

Todos os anos, meses e semanas realizemos o mesmo ciclo. Charlie se senta perto de mim, deixo as flores no vaso, nos olhamos, ele pega a minha mão fazendo carinho no meu dedinho, antes de começarmos a conversar sobre questões importantes que estejam acontecendo nas nossas vidas.

- Sem treino hoje? – pergunto arrumando os fios jogados no seu rosto. Ele faz que não pegando o meu livro que estava servindo de exemplo para dá uma olhada – Tínhamos completado um ano quando publiquei esse. Lembra? – testo e fico feliz/aliviada quando ele faz que sim com a cabeça.

- Odeio o final desse livro – fala rindo me fazendo ri também – Como assim ele vai embora? Os dois simplesmente não terminam juntos? – as perguntas mexem comigo, mas afasto. Afasto todo o tipo de pensamento – Sério que não vai ter nenhuma segunda temporada?  Ou coisa do tipo? – pergunta como um fã.

- Eu acho que a história deles foi eterna e cheia de segundas temporadas – falo olhando para as luzes do teto – Durou o quanto tinha que durar – sinto a sua cabeça no meu ombro – Tudo bem com você? Sem nenhuma crise hoje? – ele não responde, então levanto preocupada – Charlie?

- Sem preocupação, amor – fala me puxando de volta – Eu estou bem, só meio cansado – diz bocejando – Além disso, temos uma viagem pra hoje, lembra? – faço que sim ainda desconfiada.

Charlie tem sérios problemas com drogas e bebidas. Achei uma loucura o fazer ir para Las Vegas comigo – o lugar das festas – Mas não vou consegui fazer isso sem a presença dele por lá. Não somos de dizer “eu te amo” muitas vezes um para o outro, mas mesmo assim eu sinto a sua presença comigo e a minha com a dele. Isso já vale. Isso é amar. É estar junto. É não abandonar.

Eu tenho isso com o Charlie.

Demorou, mas chegou :)

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora