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Um ano depois.
A posição da câmera não parece muito favorável para mim, mas não me importo muito, logo a Sabina aparece para deixar tudo como deve. Ela sorri na minha direção e eu sorrio na dela, cruzo as pernas e tento puxar o casaco azul que cobre metade do meu corpo para mais perto.

É a mesma jornalista de três anos atrás. Ela está loira agora e parece ter se casado, já que o anel no seu dedo é gigante. Creio que não seja nada ruim avaliar isso, certo? Algo normal. Coisa de escritora.

- Tudo pronto? - Ela pergunta e eu assinto. Tome um gole da água que deixaram em cima da mesa ao meu lado e tento relaxar. Toca Bacu Exu do Blues no rádio que está ao lado da porta. Eu acho esquisito ter um rádio naquele ambiente todo decorado em luxo, mas logo percebe que aquele é o rádio do Josh.

Não o vejo com aquela luz toda me cegando. Sinto um dos meus cachos saindo do lugar e preciso o reposicionar para que tudo fique se acordo com o planejado. Não sei porque estou tão nervosa.

- Any, o a revista quer primeiro agradecer por nos conceder mais uma entrevista. - Ela abre um daqueles sorrisos perolados que denunciam que alguém andou fumando por aí.

- O prazer é meu. Principalmente com o lançamento de mais um livro. - Não penso muito nas minhas palavras ou nas minhas respostas e isso deve me deixar mais a mercê, mas tudo bem.

- Percebi que o seu visual também está diferente. Alguma estratégia dessa vez? - Pergunta curiosa e aperta a tampa da caneta.

- Nenhuma estratégia, na verdade. - Seguro a ponta de um dos cachos. - Eu percebi que não dá pra mudar certas coisas e preferi assim.

- Você fica ótima assim. - Elogia e eu agradeço com um sorriso. - E quanto a sua mudança para o Canadá? Está gostando mais de lá do que de Los Angeles?

- Na verdade, nos mudamos para o Canadá por causa do meu marido... - Ele aparece ao ouvir a menção que fiz. Acena na minha direção e eu aceno de volta. - Ele esta filmando a sequência de A rainha Vermelha e precisa ficar por lá, além disso, eu adorei! Sempre quis conhecer o lugar.

- Já que estamos falando em casamento: me diga, como está sendo essa vida entre esses dois anos? Você e o senhor Beauchamp já se conheciam há muito tempo?

Prendo o lábio inferior com o dente e Josh me observa. Eu já havia respondido essa pergunta antes, mas era sempre muito complicado explicar. Respirei fundo e me ative às minhas seguintes palavras: - Eu conheço o Josh desde os meus 16 anos. Crescemos juntos nas proximidades de Las Vegas, no entanto, tivemos que nos afastar por questões pessoais...Então sim, nos conhecemos há bastante tempo.

Ela demora para escrever tudo, mas assim que o faz, se vira para mim com os olhos atentos.

- A história do seu livro é inspirada na de vocês? Com a garota do celular e as mensagens secretas que são trocadas entre ela e o escritor? - A pergunta me pega de surpresa. Escuto o riso abafado do meu marido lá atrás e preciso me segurar para não rir também.

- Hm, infelizmente, não. Claro que me inspirei no meu marido para a construção do personagem, mas a história não tem nada a ver com a nossa. - Brinco e ela ri.

- Ah, sim! Claro. Como poderia ser? Quem compraria um celular para enviar mensagens secretas, não é? - Concordo com a cabeça e é a vez da Sabina de enfiar uma prancheta na cara para não rir.

- Com certeza...

- E Any, eu prestei atenção na sua dedicatória... - Ela arruma o óculos e pigarreia. - Para todos os amores mais eternos. Você é o meu porto seguro. Minha fortaleza. Essa foi pra quem?

- Para a minha filha.

Sam sai de perto do pai e se aproxima quando me escuta. A adotamos há quase um ano. Os olhos castanhos lembram os meus e o cabelo ruivo lembram o de Josh quando era pequeno. Ela acena na minha direção e e eu peço que se aproxime com o dedo. Ela senta no meu colo e faz carinho na minha aliança de casamento.

- Todas as minhas dedicatórias são sobre ela. - Informo bagunçando a trança do cabelo dela. - Mas todas as minhas histórias são sobre o meu marido.

Josh pisca pra mim.

Caro leitor e leitora, eu poderia explicar com detalhes como será a minha vida daqui pra frente com esse homem, mas eu não acredito que vocês estejam muito curiosos. Foi tudo bem mais normal que a nossa vida antes. Josh não fica mais preso em elevadores e, também, não costuma mais dirigir na chuva. Eu não o pinto mais, mas guardamos as telas bem longe dos olhos da Sam. Ele sabe cozinhar bem melhor agora e eu aprendi a jogar basquete para ensinar a nossa filha.

No entanto, algumas coisas são iguais. Josh ainda diz que me ama quando acorda, ele ainda escreve cartas e bate fotos minhas para pendurar nas paredes de casa. O Josh ainda me puxa de madrugada para um parque de diversões e grita que eu sou a mulher da vida dele.

E de vez em quando, o meu celular apita com a mensagem de um desconhecido. Na verdade, não mais.

Todas terminam com:
Com amor,
Seu professor.

My Teacher  - Beauany 2TempOnde histórias criam vida. Descubra agora