41- Planos

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O almoço foi muito agradável, a mesa estava repleta de pessoas que amavam o casal e desejavam muitas felicidades para a vida deles.

Aquela conhecida atmosfera de aconchego e alegria estava ali, indício de quando a maioria das pessoas reunidas tinha a vida eterna dada por Cristo fluindo dentro de si.

Depois de comer e conversar por um bom tempo, uma música começou a ser tocada e não demorou para as pessoas se contagiarem e irem dançar.

Me contentei em dedicar minha atenção à taça de suco em minhas mãos e por isso não reparei em certo rapaz se aproximando de mim.

— E então, gostou da cerimônia? — Samuel se sentou na cadeira vazia ao meu lado. Pisquei os olhos algumas vezes, surpresa com sua chegada e um pouco lerda demais para responder. — Está tudo bem?

— Ah, claro! — Apoiei as mãos no colo. — Eu amei a cerimônia, normalmente acho elas enfadonhas, mas essa foi muito especial, era nítido que Deus estava presente.

Ele concordou com um aceno de cabeça e desviou o olhar para algum ponto aleatório antes de o voltar para mim.

— O Miguel me deu uma resposta, disse que tem grandes chances de Cristyn aceitar a proposta. — Abriu um sorriso.

— Isso é maravilhoso! — exclamei alto demais e precisei tapar minha boca. Ele riu. — O final feliz está tão perto.

— Sim, não vejo a hora de tudo estar resolvido e poder ter a segurança de comemorar.

Um curto tempo de silêncio se seguiu até ele voltar a falar.

— Posso fazer uma pergunta pessoal? — Parecia sem jeito, o que raramente vi acontecendo.

— Pode. — Estreitei os olhos, com receio do que viria.

— Quais seus planos para o futuro?

— Não costumo fazer muitos planos a longo prazo — inclinei a cabeça para o lado enquanto pensava sobre o assunto, e uma boa resposta cruzou minha mente —, mas eu sei que quero crescer em Cristo, fazer mais pelo Reino, às vezes me sinto meio presa naquele castelo.

— Como assim? — indagou interessado.

— Eu não posso sair pela rua pregando o evangelho, nem posso participar de todos os eventos da igreja, tampouco visitar os irmãos. — Suspirei sentindo um aperto no peito, porém sempre que sentia aquilo, algo maior se alastrava em minha mente. — No entanto, Deus traçou minha vida e decidiu por um título de princesa em mim, e se Ele me plantou naquele castelo, é lá que vou florescer, não posso desprezar as possibilidades que isso abre, posso fazer muitas coisas para ajudar as pessoas.

— Com certeza você não está naquele castelo à toa, o Senhor sempre sabe o que faz. — Ele sorriu, concordando comigo.

— Pois é, nosso Deus é soberano e cuida de nós até nos mínimos detalhes, seja lá o que Ele tem para mim, eu quero viver, confio na Sua vontade. — Elevei os ombros com tranquilidade. — Mas e você? Quais os planos do senhor Samuel para o futuro?

— Acho que nós dois pensamos de forma bem parecida — deu uma risada baixa —, gosto de não depositar muita expectativa no futuro, viver o hoje para a glória de Deus, sem sofrer pelo incerto.

— É isso mesmo. — Sorri o analisando com dúvida. — Gostei muito de falar sobre isso, mas eu estou levemente curiosa sobre o que desencadeou esse assunto.

— Eu recebi uma proposta do meu chefe, ele quer me passar a administração da mercearia. — Soltou o ar com força. — Isso está martelando na minha cabeça tem dias, foi totalmente inesperado, pelo menos para mim.

— Sam, é uma oportunidade muito boa, quer dizer, você gosta de trabalhar lá, certo?

— Gosto.

— Então! Não entendi o problema.

— Acho que estou com medo de fazer a escolha errada — confessou me encarando sério.

— Quer minha opinião? — Arqueei uma sobrancelha.

— Seria bom. — Sorriu fracamente.

— Olha, eu acho que daqui a pouco você está aí, administrando um estabelecimento, crescendo profissionalmente, casado, com filhos, e muitas outras aventuras que devem vir pela frente. A vida é assim, Sam, é normal evoluir, Deus vai colocando novos desafios na nossa caminhada cristã, desafios esses que nos aperfeiçoam em santidade, nos tornando mais parecidos com Seu Filho Jesus e O glorificando em tudo. Não tenha medo de crescer, Deus vai estar com você em todo momento.

— Eu sei que você está certa, porém, e se houvesse outra opção entrando em conflito com esse emprego? Uma coisa bem diferente. — Sua expressão refletia a sua confusão interna.

— Bom — pensei um pouco —, você já perguntou ao Senhor qual a melhor escolha?

— É a pauta principal das minhas orações.

— Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará. — Os versículos brilharam em minha memória.

— Salmos 37:4 e 5, isso que é uma moça virtuosa, aconselhando com a Palavra — havia um tom de divertimento na sua voz que me fez rir. — Mas falando serio, obrigado, era isso que eu precisava lembrar. Só preciso descansar no Senhor e pensar com clareza sobre o próximo passo.

Concordei com ele, mesmo não fazendo idéia de qual era essa outra opção.

— Então foi isso que te deixou tão distante ontem? — Apertei as mãos no colo. Ele assentiu e eu suspirei aliviada. — Por um instante eu achei que tinha alguma coisa a ver comigo, que estava chateado ou sei lá.

— Não estou chateado com você, não mesmo. — Ele deu uma leve risada enquanto balançava a cabeça.

— Isso é ótimo. — Sorri para ele.

— O que vocês dois estão fazendo aí? — Tulip apareceu perto de nós.

— Conversando. — Sam deu de ombros encarando a irmã.

— Ah, conversando... — Ela apertou os lábios e intercalou o olhar entre nós. — Já acabaram ou eu estou interrompendo?

— Terminamos — garanti.

— Sendo assim, não vou deixar vocês dois aí parados. — Segurou nossas mãos e nos levou até onde as outras pessoas dançavam animadas.

***

Uma hora depois eu me despedi de todos e fui embora, acompanhada de Samuel.

Dessa vez a caminhada não foi silenciosa, meu amigo e eu conversamos sobre vários temas diferentes, mas principalmente sobre nossas vidas, opiniões e sonhos. Eu estava amando conhecer mais o Samuel, era muito bom que tudo tivesse voltado ao seu lugar.

Algum tempo depois cruzamos o rio e chegamos à Salun. Bastou alguns passos para encontrar meu pai nos esperando.

— Filha! — Ele veio até e envolveu seus braços em volta do meu corpo.

— Eu só fiquei fora por um dia e o senhor já sentiu tanta saudade? — brinquei estranhando seu abraço apertado.

— Eleanor, você está bem? — Examinou-me de cima a baixo.

— Claro, pai. — Segurei seus braços o escancarando preocupada. — O que aconteceu?

O observei abaixar o olhar e meu coração se apertou.

— Pai! — chamei sua atenção. — Me diz, o que houve?

— Aconteceu um atentado ao navio em que seu irmão estava — segurou meus ombros —, e o Nathan não está bem.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora