25- Consequências da aventura

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A viagem estava chegando ao fim. Depois de toda a ansiedade para o baile acabar, aproveitei muito o dia livre que restou.

Passeei com minhas primas e constatei que Julia não era a maior fã de exercícios, não sendo à toa que dançou apenas duas vezes no baile inteiro, também conversei por horas com minhas tias boas e minha querida avó, não deixando de apertar as bochechas do primo Nick de minuto em minuto. E para fechar o dia com chave de ouro, recebi dicas preciosas do vovô para driblar a raiva do papai.

Foi uma estadia realmente proveitosa! Mas voltar para casa era tão bom quanto viajar.

Estávamos no salão de entrada esperando a tia Isabel e Theodore descerem.

— Pelo visto você seguiu o meu conselho — puxei assunto com Nathan.

— Qual? Você me dá tantos. — Sorriu achando graça.

— Até parece que não puxa minha orelha desde sempre. — Revirei os olhos sorrindo com as lembranças das repreensões do meu irmão mais velho. --- Estou falando do conselho sobre se controlar, não tive que apartar nenhuma outra briga entre você e o Theodore.

— Pois é, achei melhor te obedecer, ficar levando repreensão da irmã mais nova não é legal.

Sorri balançando a cabeça, mas feliz pela sua mudança.

— Só espero que não tenha colocado uma cobra debaixo do travesseiro do nosso primo — brinquei por causa da demora deles.

— Deveria ter me dado essa idéia ontem! — Me encarou fingindo seriedade, porém rindo em seguida.

Finalmente os atrasados desceram e pudemos nos despedir já que seria falta de educação ir embora sem dar ao menos um "tchau", bom, não que eles fossem realmente sentir nossa falta.

Depois de longos abraços e uma leve enrolação dos pais da mamãe, finalmente subimos na carruagem e partimos para o porto.

Acenei pela janela e sorri ao ver o castelo ficando para trás.

***

— Lar doce lar! — Nate suspirou aliviado quando entramos no palácio.

— Não vejo a hora de tomar um longo banho e dormir por horas — comentei o seguindo para o andar de cima.

— Filha — minha mãe chamou fazendo-me olhar para trás —, seu pai e eu queremos conversar com você.

Nathan e eu trocamos um olhar de desespero, porém não podia ignorá-los, sendo assim segui os dois até o escritório do meu pai.

Entrei na sala pensando se sairia de lá mais feliz ou mais triste, torcia pela primeira opção.

— Pode sentar. — Ele apontou para a cadeira em sua frente.

Obedeci e entrelacei as mãos no colo à espera da sentença.

— Você reconhece que o que fez ao ir para Cristyn foi errado e muito perigoso? — Me olhou com seriedade.

— Sim, pai. — Abaixei a cabeça.

— Olhe para mim — pediu com um tom de voz calmo e eu o fiz surpresa. — Se compromete a nunca mais cruzar aquele rio?

Meu coração se apertou dentro do peito, queria tanto poder ver meus amigos de novo, porém sabia que se fizesse isso desobedeceria umas das regras mais sérias do reino e ao meu pai também. Precisaria tomar uma decisão difícil, mas que era o certo, e mesmo que minha vontade fosse outra, o certo ainda vinha primeiro.

— Eu me comprometo. — Respirei fundo sentindo toda a dor da decisão.

— Sendo assim, eu te perdôo. — Um pequeno sorriso apareceu no seu rosto.

— Vai aceitar que eu seja cristã também?

Ele olhou para minha mãe que assentiu levemente com a cabeça.

— Sim, mesmo que ache uma decisão não muito inteligente... — Mamãe pigarreou para chamar sua atenção, e ele interrompeu a fala. — Bom, vou ser mais tolerante e aceitar sua decisão. Peço que me perdoe por ter me descontrolado quando contou a verdade.

— Obrigada, pai! — Levantei e lhe dei um abraço. — E é claro que te perdôo.

— Ainda não acabou. Achou que iria fazer algo tão grave e sair sem nenhuma punição? — Sorriu vitorioso com minha expressão confusa.

Voltei para o meu lugar menos contente, contudo sabia que ele estava com a razão.

— Sua mãe e eu pensamos muito e decidimos que você vai passar os próximos meses trabalhando comigo, como uma secretária, fazendo tudo que eu te mandar.

— Meses? — Arregalei os olhos.

— Vamos ver como você se sai e se merece a redução do castigo. — Ele deu de ombros. — Está de acordo, não está?

— É, não tenho outra opção. — Suspirei pensando que seriam meses bem longos, se ele já pegava pesado com o Nathan, imagine comigo que estaria ali por castigo e não dever.

— Ótimo! Te vejo amanhã cedo, agora pode ir. — Sorriu me dispensando.

Saí da sala e dei de cara com o Nathan.

— Você estava ouvindo atrás da porta? — indaguei surpresa.

— O que? Óbvio que não, só estava passando pelo corredor bem na hora que você saiu. — Riu sem graça e eu o encarei incrédula. — Como foi lá dentro?

— Você já sabe! — Revirei os olhos.

— Não deu para ouvir nada, essa porta é muito grossa.

— Então você estava mesmo ouvindo! Ou pelo menos tentando. — Balancei a cabeça reprovando sua atitude.

O deixei para trás andando até as escadas.

— Vamos lá, ele vai te expulsar de casa? Fazer você limpar os estábulos? Não seja perversa, estou curioso. — Me seguiu sem parar de falar.

— Vou trabalhar para ele por alguns meses — soltei de uma vez e ele me olhou com pesar.

--- Destino cruel.

— Pensando pelo lado bom, vamos ser colegas! — tentei ser otimista.

— Você que pensa! — Balançou a cabeça rindo. — Ele vai te colocar para catalogar papéis enquanto eu o acompanho nos compromissos e reuniões do Conselho, é uma tarefa solitária, irmãzinha.

— Pelo visto será um longo inverno — resmunguei imaginando que meu destino era realmente cruel, mas esse pensamento foi seguido de um sorriso. — Bom, eu achei que a idéia da nossa mãe de que eu saísse mais de casa foi cruel, até se tornar maravilhosa. Esse castigo pode se transformar em algo bom também, não pode?

— Depois de tudo que você fez não me surpreenderia.

Comecei a vislumbrar dias melhores e muitas possibilidades de felicidade escondidas no que antes parecia apenas sofrimento.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora