11- Arco e flecha

738 168 229
                                    

O barulho dos meus passos sobre a grama entrava em sintonia com o canto dos pássaros e do vento balançando as folhas das árvores.

A floresta de Cristyn era um lugar muito bonito, as imensas árvores produziam uma espécie de peneira sob o sol fazendo com que feixes dourados dançassem em companhia das várias borboletas entre as flores.

Me permiti apreciar mais o caminho naquele dia, sentia que não havia observado o suficiente, naquele momento meu cérebro só conseguia pensar que eu estava em Cristyn, um lugar que eu já tinha almejado conhecer, mas nunca podia.

Depois de um tempo, considerei que já apreciara o suficiente minha pequena aventura e voltei a andar em direção ao meu destino final.

Não via a hora de contar a Tulip sobre minha mais nova descoberta e atualizá-la acerca do avanço de minhas leituras.

Grande foi a minha surpresa ao me deparar com Samuel quando cheguei à clareira. O rapaz parecia concentrado no seu trabalho e não viu minha aproximação.

Tirei o capuz da capa e dei uma ajeitada no cabelo antes de anunciar minha presença.

— Olá! — disse com um sorriso simpático.

— Céus! Que susto — O rapaz levou a mão ao peito e se recompôs antes de voltar a falar. — Ah, é você.

— Evidente.

— Minha irmã não está em casa — avisou antes que eu tivesse chance de perguntar.

— Poxa, esperava encontrá-la aqui — lamentei pensando que havia feito aquela viagem em vão.

— Pode voltar amanhã, tenho certeza que Tulip estará em casa — sugeriu despreocupado.

— Ah, não posso. Amanhã tenho um compromisso muito importante.

— Coisas de princesa? Tipo, passar a tarde tomando chá? — subestimou-me.

Certo, foi nesse momento que perdi boa parte do meu encanto por ele.

— Não, nós vamos visitar a escola de arte para crianças, que por acaso oferecemos ajuda financeira e fazemos uma visita a cada dois meses para ver como estão as coisas. É um projeto que eu particularmente gosto, lá são oferecidas aulas de música, costura, literatura e pintura.

— Ah... — balbuciou visivelmente envergonhado — Desculpe.

— Sem problemas, as pessoas são acostumadas a imaginar as princesas assim. — Fingi um sorriso.

O silêncio voltou a reinar por alguns instantes.

— Se quiser esperar, fique à vontade. — Indicou um banquinho para que eu me sentasse.

Assenti e me acomodei no lugar indicado. Passei a observar o trabalho do rapaz a minha frente de forma curiosa, ele cortava a madeira com agilidade e com um pouco mais de atenção eu percebi que o recosto de uma cadeira começava a surgir.

— Você é marceneiro? — Resolvi perguntar.

— Não, mas meu pai é e me ensinou algumas coisas — respondeu de forma sucinta.

— Falando no seu pai, nunca o vi por aqui... — expus algo que não entendia ainda.

Nesse momento o rapaz me lançou um olhar perscrutador.

— Está viajando a trabalho.

— Entendo — falei cautelosamente.

Era certo, Samuel tinha algo contra mim. O que era uma pena, porque mesmo com seu temperamento eu ainda o achava uma graça!

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora