21- Não negarei minha fé

539 154 241
                                    

Não havia trocado muitas palavras com ninguém depois que voltei de Cristyn, Nathan até tentou me consolar, mas eu não estava sentindo vontade alguma de conversar.

Eu sabia que depois daquela noite tudo iria mudar, quando a verdade saísse da minha boca as coisas ficariam complicadas.

Precisava me preparar, sendo assim, passei as horas antes do jantar orando e lendo a Bíblia, era a única forma de me sentir menos nervosa.

Em certo momento peguei a carta sobre a mesa de cabeceira, ainda não tinha a aberto, queria lê-la após o jantar, contudo a curiosidade estava me vencendo.

"Para a nova Yuna."

Eram as únicas palavras escritas no envelope.

Meus dedos já se encontravam a ponto de abrir o envelope quando batidas na porta me interromperam.

Suspirei desapontada, porém sem outra escolha, guardei a carta na gaveta e fui atender.

— Está pronta? — Nathan perguntou me analisando.

— Sim, mas não precisa me escoltar até a sala de jantar. — Passei por ele e comecei a andar pelo corredor.

— Não entendo porque está brava comigo — resmungou se colocando ao meu lado.

— Só não quero conversar, Nathan, tudo bem? — Eu estava mau humorada? Com certeza.

— Só queria te avisar que estou com você, não vai estar sozinha naquela mesa. — Sua gentileza me desarmou.

— Estou com medo, Nate — confessei parando antes de cruzar a porta que nos levaria ao cômodo.

— Vai ter que ir com medo mesmo, é melhor acabar com isso de uma vez.

O encarei com surpresa pelas suas palavras tão diretas.

— Vou contar depois que acabarmos de comer, não quero passar fome na masmorra — brinquei com minha própria tragédia.

— Seu humor está voltando, vai sobreviver. — Sorriu abrindo a porta para mim.

***

O barulho dos talheres preenchia o ambiente, meus pais até tentaram conversar como de costume, entretanto não tiveram sucesso.

— Alguém morreu e eu não estou sabendo? — papai perguntou olhando para Nathan e para mim.

— Ainda não — Nate comentou em voz baixa.

— Certo, o que vocês aprontaram? — Minha mãe largou os talheres no prato e nos lançou um típico olhar maternal de quando sabe que tem algo errado.

Respirei fundo e me preparei para soltar a bomba.

— Eu tenho duas notícias para dar, uma é boa e a outra ruim, qual querem primeiro? — Tentei enrolar um pouco, mas percebi pelo olhar deles que não funcionaria. — Está bem, as duas se misturam então vou contar a história inteira.

E foi isso que fiz. Lhes contei desde o momento que estava procurando a flor para minha mãe até o dia que Nathan me descobriu. Preferi não contar sobre a ida dele ao território proibido, não queria lhe encrencar também.

— Você está brincando, não está? — Dona Mina arregalou os olhos sem acreditar, mas eu disse que era verdade. Ela apoiou a testa na mão e acrescentou: — Isso é culpa minha, por que fui te mandar para lá?

— Não tente tirar o fardo das costas dela, Mina. — Meu pai cravou seus olhos raivosos em mim. — Então você atravessou o rio, teve contato com o povo inimigo e ainda virou uma religiosa? Qual próxima tragédia será confessada?

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora