Respirei fundo pela terceira vez para controlar a vontade de quebrar o espelho a minha frente. Definitivamente, penteados não eram o meu forte.
— Por que eu invento de fazer arte logo no dia que meu cabelo está horrível? — resmunguei comigo mesma.
Para completar meu desespero em tentar desfazer o nó que havia se formado naquele ninho de passarinho que outrora foi meu cabelo, alguém resolveu que era uma boa hora para bater na minha porta.
— Já estou indo! — gritei dando um puxão no cabelo, o que só me causou uma dor aguda.
Desisti de tentar e fui atender a porta, eu era uma princesa, ninguém iria zombar dos meus fios bagunçados.
— Céus e terra! O que houve com seu cabelo? — Trícia não disfarçou o espanto.
— Eu resolvi testar algumas coisas, mas parece que não deu muito certo. — Fiz uma careta abrindo espaço para a moça entrar.
— A senhorita quer ajuda? — perguntou inclinando um pouco a cabeça para o lado.
— Eu agradeceria, mas apenas depois de você me mostrar isso em suas mãos. — Me referi ao que deduzi ser meu vestido dentro de uma capa protetora.
— Ah, claro! Eu e minha avó passamos a noite fazendo os últimos ajustes para conseguir entregar no prazo, mas acredito que ficou muito bom.
Era a noite anterior ao festival e fiquei bem aliviada que tenha ficado pronto a tempo.
Um sorriso surgiu no meu rosto ao contemplar o vestido nas mãos da moça, não perdi tempo e o experimentei.
— Está perfeito. — Analisei-me em frente ao espelho com admiração.
O traje que Trícia fez era diferente do que eu usava para cavalgar nos dias normais, o costumeiro conjunto de saia e blusa foi substituído por um vestid azul escuro, indo até pouco acima dos tornozelos e adornado por um belo cinto.
A parte de cima e as longas mangas tinham pequenos bordados dourados nas extremidades. Era simples porém muito bonito, e o melhor, muito leve e confortável.
— Se eu visse a senhorita andando vestida assim pela minha rua, nunca que imaginaria que é uma princesa — ela comentou com sinceridade.
— Ah, é mesmo? — A encarei fingindo seriedade e a moça arregalou os olhos.
— Não foi isso que eu quis dizer, alteza! Bom, foi, mas... — embaralhou-se com as palavras e eu não segurei uma risada, o que obviamente a deixou confusa.
— É brincadeira, eu estou muito satisfeita com minha aparência. — Virei para o espelho sorrindo com o movimento da saia.
— Que alívio, eu pensei que a havia desrespeitado, longe de mim querer fazer isso! — Ela suspirou. — Às vezes eu acabo sendo espontânea demais e não penso no que estou falando e com quem estou falando. Tive até um vislumbre de uma noite jogada no chão de uma masmorra subterrânea fria e assustadora.
— Tudo bem, te deixo a vontade para ser natural comigo, não vou te mandar para a masmorra, afinal, só temos prisões convencionais por aqui — disse vendo a moça empalidecer e tratei de acrescentar. — Nem para a prisão, pode sossegar.
— Seu humor é uma surpresa, achei que a monarquia era mais... — Procurou uma boa palavra enquanto soltava uma risadinha nervosa.
— Carrancuda? Arrogante? — A ajudei e ela concordou hesitante. — Bom, nem todos nós, apesar de eu não ser a pessoa mais simpática do mundo.
— Eu acho a senhorita uma excelente princesa, em todo o sentido da palavra, é gentil, bondosa e bastante simpática. Não esqueço de como salvou minha pele naquele dia em que nos conhecemos. — Suas palavras me deixaram constrangida, mas agradeci pela gentileza. — Mas ainda assim preciso dar um jeito no seu cabelo.
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Graça, margaridas e chá
SpiritualSérie Redenção: Livro 1 Eleanor Yuna nunca imaginou que atravessar um rio pudesse mudar o rumo de sua vida. A princesa não almejava de jeito algum ser o centro das atenções ou ter que tomar decisões importantes. Estar nas sombras era bem mais confo...