14- Uma perfeita camponesa

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Respirei fundo pela terceira vez para controlar a vontade de quebrar o espelho a minha frente. Definitivamente, penteados não eram o meu forte.

— Por que eu invento de fazer arte logo no dia que meu cabelo está horrível? — resmunguei comigo mesma.

Para completar meu desespero em tentar desfazer o nó que havia se formado naquele ninho de passarinho que outrora foi meu cabelo, alguém resolveu que era uma boa hora para bater na minha porta.

— Já estou indo! — gritei dando um puxão no cabelo, o que só me causou uma dor aguda.

Desisti de tentar e fui atender a porta, eu era uma princesa, ninguém iria zombar dos meus fios bagunçados.

— Céus e terra! O que houve com seu cabelo? — Trícia não disfarçou o espanto.

— Eu resolvi testar algumas coisas, mas parece que não deu muito certo. — Fiz uma careta abrindo espaço para a moça entrar.

— A senhorita quer ajuda? — perguntou inclinando um pouco a cabeça para o lado.

— Eu agradeceria, mas apenas depois de você me mostrar isso em suas mãos. — Me referi ao que deduzi ser meu vestido dentro de uma capa protetora.

— Ah, claro! Eu e minha avó passamos a noite fazendo os últimos ajustes para conseguir entregar no prazo, mas acredito que ficou muito bom.

Era a noite anterior ao festival e fiquei bem aliviada que tenha ficado pronto a tempo.

Um sorriso surgiu no meu rosto ao contemplar o vestido nas mãos da moça, não perdi tempo e o experimentei.

— Está perfeito. — Analisei-me em frente ao espelho com admiração.

O traje que Trícia fez era diferente do que eu usava para cavalgar nos dias normais, o costumeiro conjunto de saia e blusa foi substituído por um vestid azul escuro, indo até pouco acima dos tornozelos e adornado por um belo cinto.

A parte de cima e as longas mangas tinham pequenos bordados dourados nas extremidades. Era simples porém muito bonito, e o melhor, muito leve e confortável.

— Se eu visse a senhorita andando vestida assim pela minha rua, nunca que imaginaria que é uma princesa — ela comentou com sinceridade.

— Ah, é mesmo? — A encarei fingindo seriedade e a moça arregalou os olhos.

— Não foi isso que eu quis dizer, alteza! Bom, foi, mas... — embaralhou-se com as palavras e eu não segurei uma risada, o que obviamente a deixou confusa.

— É brincadeira, eu estou muito satisfeita com minha aparência. — Virei para o espelho sorrindo com o movimento da saia.

— Que alívio, eu pensei que a havia desrespeitado, longe de mim querer fazer isso! — Ela suspirou. — Às vezes eu acabo sendo espontânea demais e não penso no que estou falando e com quem estou falando. Tive até um vislumbre de uma noite jogada no chão de uma masmorra subterrânea fria e assustadora.

— Tudo bem, te deixo a vontade para ser natural comigo, não vou te mandar para a masmorra, afinal, só temos prisões convencionais por aqui — disse vendo a moça empalidecer e tratei de acrescentar. — Nem para a prisão, pode sossegar.

— Seu humor é uma surpresa, achei que a monarquia era mais... — Procurou uma boa palavra enquanto soltava uma risadinha nervosa.

— Carrancuda? Arrogante? — A ajudei e ela concordou hesitante. — Bom, nem todos nós, apesar de eu não ser a pessoa mais simpática do mundo.

— Eu acho a senhorita uma excelente princesa, em todo o sentido da palavra, é gentil, bondosa e bastante simpática. Não esqueço de como salvou minha pele naquele dia em que nos conhecemos. — Suas palavras me deixaram constrangida, mas agradeci pela gentileza. — Mas ainda assim preciso dar um jeito no seu cabelo.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora