Graça, margaridas e chá

5- Uma viagem surpreendente

— Princesa, por que demorou tanto? Já estava começando a me preocupar — Joe falou quando viu que eu me aproximava.

— Foi mais complicado do que eu imaginava achar essa flor. — Mostrei as belas margaridas em minha mão.

— A senhorita se machucou? — Examinou minha mão enfaixada com uma preocupação que quase beirava o desespero.

— Não se preocupe, Joe, foi um machucado de nada — Mas que me apavorou no momento. —, já dei um jeito nele.

O guarda passou mais alguns minutos discursando que deveria ter me acompanhado e outras lamentações, porém minha mente estava no encontro com a garota de Cristyn e com o livro em minha bolsa.

O que aquilo significava? Que implicações teriam em minha vida?

A ficha começou a cair, eu havia cruzado a fronteira, de longe era a coisa mais louca que fiz em todos os meus dias. E então, o que viria a seguir?

— Vamos fazer um lanche antes de voltarmos — sentenciei enquanto descansava à sombra.

Comemos e depois de descansar voltamos para o castelo, o caminho de volta foi bastante tranquilo exteriormente, mas os meus pensamentos não se aquietavam.

"Jesus, bíblia, pecados... O que será tudo isso? E por que é tão intrigante?" 

Desejava respostas para todas as perguntas que minha cabeça formulou, sem falar em como o reino além do rio era um território curioso para mim.

Assim que chegamos ao nosso destino, corri para guardar a bíblia em meu quarto, só depois fui ao encontro de minha mãe. A encontrei conversando com uma das empregadas e fiquei à uma certa distância a esperando.

— E então, como foi? — perguntou curiosa e me conduziu a sala para conversarmos.

— Consegui suas flores e ainda irei ter um machucado para adicionar na história. — Mostrei minha mão.

— O que houve? — Arregalou os olhos tomando-a entre as suas.

— Acabei escorregando, mas está tudo bem. — A tranquilizei. — Preciso confessar que foi muito difícil achar essas margaridas, seja sincera, a senhora fez de propósito, não foi?

— Eu? É claro que não — negou veementemente.

— Acredito. — Sorri com ironia. — Mas não importa, foi uma aventura e tanto! Além de que eu não lembrava o quão bonito nosso quintal é, com certeza vou voltar muitas vezes.

— Nossa, eu não imaginava que você iria gostar tanto, mas isso é ótimo! — disse com entusiasmo.

"Minha aventura secreta contribuiu e muito." — acrescentei nos meus pensamentos.

— Bom, aqui estão suas flores e minha passagem para bem longe de uma xícara de chá. — Entreguei o ramalhete colorido.

— Vão ficar lindas na sala de jantar! — Sorriu admirando as flores em suas mãos.

Conversamos mais um pouco até eu pedir licença com a justificativa de tomar um bom banho. E foi isso que eu fiz.

Depois de devidamente limpa, me joguei na cama sentindo cada músculo do meu corpo doer, eu não estava nada acostumada com "aventuras" e muito menos com quedas.

Tentei dormir um pouco, mas o sono parecia fugir de mim então me lembrei do livro guardado em minha gaveta.

— Vejamos o que temos aqui. — O abri na primeira página. — No princípio criou Deus os céus e a terra...