Que beleza, quatro pessoas sabiam a verdade sobre mim.
Dona Johanna teve uma reação semelhante a da filha, choque.
— Tudo bem, mãe?
— Tudo ótimo — disse colocando o copo de água, de forma meio trêmula, sobre a mesa de centro — Então, você é uma princesa, e ainda por cima de Salun!
—Sou sim. — Balancei a cabeça em concordância. — E vou entender completamente se a senhora não quiser que eu venha mais aqui.
— Que besteira, garota. — Abanou a mão no ar, dispensando minha sugestão. — Lá em Atos 10:34 e 35 o apóstolo Pedro diz que Deus não faz acepção de pessoas, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo. Se Deus, que é santo e perfeito, não faz acepção de pessoas, que direito tenho de fazer? Ele nos aceita independente se nossa nacionalidade, se o temermos e fazermos o que é justo! Não se preocupe, Yuna, ser Saluniana não será impedimento algum para que frequente nossa casa ou para se achegar a Deus.
As palavras da mulher tocaram meu coração e fiquei sem saber como responder tanta gentileza.
O que fazia aquelas mulheres serem tão bondosas com uma pessoa que mal conheciam? Ainda mais com uma de quem deveriam sentir aversão.
A fé delas parecia ser a resposta, algo no que elas criam as fazia ser tão peculiares.
— É bom saber disso. — Sorri constrangida e resolvi mudar de assunto. — E então, Tulip, quais respostas pode me dar?
— Vejamos... — Correu os olhos pela folha do caderno. — Que tal essa: Por que Deus permite que coisas ruins aconteçam com pessoas boas? Uma pergunta clássica, já a fiz no início da minha caminhada cristã. Tudo bem pra você?
— Claro!
— Me sinto tentada a te resumir tudo em uma só frase: Deus é soberano e sabe o que é melhor. Mas vou explicar direitinho — disse tomando fôlego para começar um monólogo. — No princípio o mundo era perfeito, sem morte ou pecado, Adão e Eva tinham tudo o que precisavam, a única árvore de que não podiam comer era a do conhecimento do bem e do mal, se o fizessem, morreriam. Tudo ia bem, até eles descumprirem esse mandamento de Deus, e aí as coisas ruins começaram a acontecer, dor, morte, pecado.
"Mas Deus não exterminou a humanidade, Ele tinha um maravilhoso plano de redenção, contudo o ser humano passaria a sofrer as consequências de sua desobediência, podemos ver isso em toda a narrativa bíblica. Com o pecado enraizado em nossos corações, fomos afastados daquela comunhão perfeita do início, e os desastres e coisas terríveis que acontecem nesse mundo também são resultado da Queda, mas Deus não nos abandonou, Ele seguiu cumprindo Seu propósito e cuidando de nós, abençoando nossas vidas mesmo sem merecermos. E afim de nos salvar da morte eterna, Deus enviou Seu Filho Jesus para levar a culpa dos nossos pecados, morrendo na cruz, mas ressuscitando ao terceiro dia."
— É necessário que entendamos que Deus é bom e justo para sabermos que o sofrimento dos Seus filhos não é em vão. — Tulip pegou sua bíblia sobre a mesa e a abriu. — Em 2 Coríntios 4:16 e 17 diz o seguinte: pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno. Os sofrimentos que os cristãos enfrentam aqui na terra serve para seu crescimento espiritual e não é nem comparado com a glória de reinar com Cristo eternamente!
— Conheço duas histórias que exemplificam isso muito bem — sua mãe tomou a palavra. — Uma é bíblica, a de José, você já leu essa?
— Sim, foi uma das minhas preferidas, na verdade, gostei muito de todo livro de Gênesis — respondi me lembrando de como minha mente viajava por aqueles relatos impressionantes.
— Também amo! É tão maravilhoso ver como Deus conduziu graciosamente o povo de Israel em direção a redenção — Tulip comentou com um sorriso largo no rosto.
— Pois é. E na história de José não é diferente, quando começamos a leitura ficamos imaginando porque Deus permitiu que aquele jovem fosse vendido ao Egito pelos próprios irmãos, mas lá na frente vemos o quanto José foi moldado e cresceu espiritualmente nessa fase difícil de sua vida. E mais para frente vemos claramente que Deus colocou José no Egito para que o povo de Israel fosse sustentado durante a grande fome que a Terra enfrentou, o sofrimento dele certamente não foi em vão.
— Confesso que fiquei imaginando o porque de um Deus tão bom permitir tamanho sofrimento na vida de alguém, mas olhando por esse ângulo, no fim das contas foi algo bom. Nossa! É surpreendente como Deus conduz a vida dos Seus servos por meio de caminhos que visivelmente são terríveis, mas no final, tudo fica bem — comentei reflexiva. — E a outra história?
— Essa eu ouvi ainda jovem, é sobre uma princesa, assim como você, que se chamava Anna. Ela conheceu a Palavra de Deus de forma inesperada...
— Assim como você — Tulip observou e eu balancei a cabeça em afirmação, inesperada era a palavra certa. — Pode continuar, mãe.
— A jovem princesa teve sua vida transformada quando se rendeu aos pés do Senhor, e segundo os planos de seu pai ela seria a chave para reconduzir o reino incrédulo aos caminhos de Deus. Mas, no dia de sua coroação como rainha, Anna foi sequestrada por um rei perverso que ouviu sobre a boa fama da moça e a roubou para reerguer seu reino em ruínas.
— Que horror! — exclamei com indignação.
— Contudo a princesa não estava sozinha, ela tinha o Senhor ao seu lado e foi graças a Ele que ela conseguiu enfrentar as dificuldades que surgiram. Lá Anna conheceu Aaron, o filho do rei perverso, e o que deveria ser apenas um casamento arranjado se tornou uma bela amizade.
— Own... — Tulip e eu dissemos ao mesmo tempo causando o riso coletivo.
— Certo, deixem eu terminar. Quando Anna foi presa, por causa de uma acusação falsa, tudo pareceu perdido, mas esse grande momento de aflição foi usado pelo Senhor para que Aaron se achegasse a Ele e de quebra a mentira sobre a morte de sua mãe viesse a tona. O fim é lindo, Anna e Aaron se casaram, agora por livre e espontânea vontade, e com o auxílio de Deus abençoaram grandemente os dois reinos. Todo o sofrimento não foi em vão! — Johanna finalizou com ênfase.
— Uau, a explicação de vocês foi melhor do que eu imaginava. Obrigada, de verdade. — Sorri para as duas.
— Não precisa agradecer, é sempre um prazer falar sobre Deus — a mais velha respondeu e sua filha concordou.
Olhei através da janela e percebi que já fazia muito tempo que estava ali, parece que sempre que o assunto era esse o tempo voava sem que notasse, eu precisava voltar antes que saíssem à minha procura.
— Preciso voltar para casa, foi uma conversa muito agradável, vocês são excelentes companhias.
— Que pena, a conversa estava ótima, mas compreendemos sua decisão — Tulip assentiu com seu olhar doce sobre mim. — Você aceitará o convite de retornar?
—Ainda estou com receio...
— Olha, no sábado, se Deus quiser, vamos ter um encontro abençoado aqui em casa com umas moças da igreja, você seria muito bem vinda. — Piscou os olhos castanhos com expectativa.
Bom, por que não? Teriam se passados alguns dias, e, sinceramente, nunca desconfiariam de mim fazendo algo além do esperado.
— Tudo bem, eu venho!
— Ótimo! — Comemorou com um sorriso de orelha a orelha. — Posso te encontrar na margem do rio às duas da tarde, que tal?
Concordei com sua sugestão e me despedi das duas, a jovem moça me acompanhou até o limite da fronteira.
— É, Estrela, essa situação está saindo do meu controle... — comentei quando cheguei onde a égua estava amarrada. — Mas quer saber? Eu não estou nem um pouco incomodada, na realidade, estou feliz por essas mudanças, e falar sobre este Deus da bíblia é tão bom que nem sei descrever. Não faço idéia do que está me acontecendo, mas não quero que pare.
Voltei para casa com o coração alegre e ansiando por mais daquilo.
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Graça, margaridas e chá
SpiritualSérie Redenção: Livro 1 Eleanor Yuna nunca imaginou que atravessar um rio pudesse mudar o rumo de sua vida. A princesa não almejava de jeito algum ser o centro das atenções ou ter que tomar decisões importantes. Estar nas sombras era bem mais confo...