6- Quatro saberão o segredo

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Uma semana depois e eu já estava inquieta.

Minha mente oscilava entre a certeza de que deveria esquecer a idéia absurda de voltar a Cristyn e a vontade imensa de o fazer urgentemente.

Durante aquela semana tive que lidar com meu cérebro fazendo listas infindáveis de prós e contras, todo o tempo. Não importa se no caminho para algum compromisso real ou deitada em minha cama, tomando o tempo em que deveria estar dormindo.

Não compreendia o motivo de tanta agitação, normalmente eu me renderia a todos os contras e ficaria quieta em meu canto, sem correr risco algum.

Mas o que mudou? Por que eu desejava de forma quase incontrolável pender de uma vez para os lados positivos?

Sete dias depois eu desisti de tentar entender e apenas fui.

Disse a minha mãe que estaria no campo lendo um livro, e obviamente ela me apoiou na idéia, isolei a voz da minha consciência me chamando de mentirosa.

— Você é a única que sabe a verdade, Estrela. Como lida com tamanha responsabilidade? — Também isolei a voz me chamando de maluca enquanto acariciava a crina de minha égua.

Quando cheguei ao meu destino, amarrei Estrela a sombra de uma árvore e caminhei até o ponto onde havia atravessado na outra vez que estive ali.

Dessa vez não caí, o que levei como um bom sinal.

— Em que enrascada eu estou me metendo? — me questionei ao adentrar a floresta.

Foi um golpe de sorte não me perder entre tantas árvores iguais e logo avistei a casa no meio da clareira.

"Que maluquice eu fiz! — pensei assim que bati na porta de madeira. — Melhor voltar para..."

Mas não tinha mais volta, antes de eu concluir meu pensamento uma mulher desconhecida abriu a porta.

— Olá? — Ela franziu a testa ao me ver, seus traços eram parecidos com os da garota que conheci uma semana antes, julguei que fossem parentes.

— A Tulip está? — perguntei com a voz oscilante.

— Quem deseja saber? Desculpe a pergunta, mas acho que nunca te vi por aqui... — Me observou com atenção.

— Sou a Yuna... — Iria fazer uma apresentação detalhada, mas somente a menção do meu nome foi suficiente para que ela perdesse a expressão de desconfiança.

— Ah, é claro! Que bom te conhecer, eu me chamo Johanna. A minha filha falou de você, pode entrar e ficar a vontade. — Abriu um sorriso e me conduziu para dentro de casa. — Espere um minuto, vou chamá-la.

Ela então chegou a porta de um cômodo e chamou a filha, esta logo veio até nós.

— Você voltou mesmo. — constatou com surpresa.

— Eu disse que viria, então... — Dei de ombros um pouco nervosa.

— Fico muito feliz por isso! — Se sentou no sofá que estava a minha frente me convidando a fazer o mesmo. — E então? Você leu?

— Li, e foi um amontoado de sensações. Eu me surpreendi muito com o que encontrei, tanto que fui além dos capítulos que você me disse para ler. Entendi algumas coisas, mas outras não, mesmo depois de ler e reler, então resolvi anotar essas dúvidas para que me explicasse, se não tiver problema.

— Problema algum, deixe-me ver. — Estendeu a mão e lhe entreguei o caderno que tinha em mãos.

Aproveitei o tempo que a garota lia meus questionamentos para, discretamente, observar o espaço ao meu redor.

A janela presente na sala enchia o ambiente de luz, refletindo em alguns vasos de vidro contendo muitas flores, inclusive margaridas azuis, os móveis de madeira escura eram muito bonitos e combinavam com as paredes do mesmo material.

A mesa que sentei no dia em que estive ali pela primeira vez dividia a sala da cozinha muito bem organizada.

— Suas dúvidas são interessantes, já compartilhei de algumas delas e posso responder a maioria, mas tem umas que temo não ter uma resposta que seja suficiente, mas vou me informar para te responder, se você quiser — Tulip começou a falar e deixei de examinar o lugar.

— Quer que eu volte? — Não consegui conter uma risada nervosa.

— Por que seria um problema? Você é muito bem vinda, querida — a mãe dela interpôs com gentileza.

Olhei para Tulip sem saber o que responder, pelo visto a mulher não fazia idéia da minha nacionalidade, o que era um ponto positivo pois mostrava que a garota não saiu espalhando o que houve, talvez eu pudesse lhe dar um voto de confiança.

Batidas na porta interromperam o momento de tensão, pude ouvir o suspiro de alívio da moça a minha frente quando a mãe foi atender a porta.

— Certo, eu não disse a minha mãe que você é Saluniana, e quando ela voltar vai querer uma explicação... — Me olhou com um leve desespero. — Posso contar?

— Não sei, ela lidaria bem com isso ou vai me enxotar daqui com uma vassoura? — Eu quis saber e ela achou graça da minha pergunta. — Que foi?

— A dona Johanna é um exemplo de hospitalidade, não conheço pessoa mais improvável para fazer algo desse tipo do que ela. — Pude perceber como admirava sua mãe.

— Está bem, pode contar, mas acho que já ultrapassamos o limite de pessoas guardando esse segredo. — A careta que ela fez me preocupou. — Só nós três iremos saber, certo?

— Nós três mais um. — Sorriu desconcertada. — Eu tinha que contar a alguém, e acabei escolhendo meu irmão, ele saberia clarear meus pensamentos, Sam é bom com essas coisas. Ah, falando em Samuel, ele me fez pensar em uma coisa mal explicada em tudo isso.

— O quê? — indaguei receosa com sua resposta.

— É que ele me disse que só seria geograficamente possível que você chegasse até aqui se fosse moradora do castelo, eu achei muito improvável, para não dizer maluquice, que uma princesa tivesse estado na minha casa, mas tinha que perguntar. —Mirou seus olhos em mim e acredito que minha expressão assustada em companhia da falta de palavras foi o que a fez levar a mão a testa bagunçando completamente sua franja. —É brincadeira, não é?

— Não... — Decidi contar a verdade. — Eu sou mesmo a princesa de Salun, Eleanor Yuna, prazer.

Tulip ficou muda, apenas me olhando com descrença, até enfim parecer cair-lhe a ficha.

— Uau, isso realmente está acontecendo...

— O que houve? — Nesse mesmo momento sua mãe retornou para junto de nós.

— Se eu contar é capaz da senhora não acreditar.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora