48- "Cena bonitinha"

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Partilhar refeições com as pessoas que amava era uma das melhores experiências da vida.

Depois do meu batismo convidei alguns amigos para almoçar conosco e reafirmei a certeza que em momentos como aquele algo especial preenchia o ar.

As conversas, as risadas e a simples companhia me lembravam o quão maravilhoso Deus era e como havia coisas boas no mundo, por sua graça conosco, mesmo depois da queda a vida ainda tinha suas belezas.

Algumas horas depois me despedi deles, bom, quase de todos eles.

— Você vai ao estudo na semana que vem? As meninas vão amar ter sua participação de novo. — Tulip enlaçou meu braço enquanto seguíamos com nossas famílias para a sala, mas ao invés de continuar andando ela me fez parar.

— Já te disse que vou. — Sorri estranhando sua atitude.

— Ah, é mesmo. Só queria ter certeza. — Desviou os olhos para algo atrás de mim antes de voltar a me olhar. — Bom, vamos ter muito para conversar depois, tchauzinho.

— Tully... — chamei ao vê-la me deixar sozinha no corredor de forma apressada.

— Ei. — Uma voz bem conhecida soou atrás de mim e senti meu coração acelerar.

Girei sobre os calcanhares e encarei Samuel.

— Oi. — Apertei as mãos nervosa enquanto abaixava o olhar.

— Podemos conversar?

Respirei fundo e encontrei seus olhos me analisando de forma gentil. Sorri de forma espontânea e assenti com um gesto de cabeça.

Não sabia porque tinha ficado tão nervosa com a aproximação de Sam, nos víamos frequentemente, contudo meu coração ainda precisava aprender a se acostumar a ele.

Seguimos até a sacada e um momento de silêncio se seguiu entre nós. Observei seu rosto e a expressão contida ali denunciava que ele estava refletindo sobre algo. Esperei com paciência até ouvi-lo outra vez:

— Sabe, quando nos conhecemos eu não imaginava que iríamos virar amigos ou sequer pensei na possibilidade de trabalharmos em algo juntos.

— Nem que de Salun até Cristyn nunca vão achar uma equipe melhor que nós? — brinquei, me lembrando do dia do meu aniversário.

— Isso também. — Ele riu. — Foi inesperado ver os nossos dias se entrelaçando, você me ensinou muitas coisas.

— Por exemplo?

— Ter coragem para viver o Evangelho, ainda que tudo e todos pareçam estar contra mim, não ter medo de fazer o certo, de fazer o bem, ainda que seja perigoso e assustador. Eu agradeço muito a Deus por ter te conhecido.

— Nossa, eu não esperava por isso. — Abaixei o rosto sentindo minhas bochechas esquentarem, aquilo estava virando rotina, ainda não conseguia controlar, se é que era possível. — Bom, também aprendi muito com você.

— É mesmo? Tipo o que? — perguntou e eu levantei o rosto.

— A ser persistente, fazer tudo primeiramente para a glória de Deus e a pedir perdão sempre que for necessário. Também me sinto muito grata ao Senhor por ter te colocado na minha vida.

— É bom saber disso. — Apoiou os braços no guarda corpo enquanto me olhava.

Impulsionada por um leve nervosismo por ter os olhos dele em mim, fiz um comentário afim de sanar o silêncio. Até que não foi tal aleatório como no dia da praia.

— Essa situação está parecendo o fim de um livro, quando os personagens relembram tudo que passaram e tem alguma ceninha bonitinha antes da palavra "fim".

Por algum motivo ele achou graça das minhas palavras.

— Só você mesmo para me fazer rir em um momento desses.

Inclinei a cabeça para o lado sem entender o que ele quis dizer.

— Pensando bem, o que você disse faz sentido, porém eu não quero que o fim seja logo após a cena bonitinha.

Meu coração acelerou quando ele estendeu sua mão até a minha e a segurou, não estava esperando por aquilo.

"Senhor amado, o que está acontecendo aqui?" — Arregalei um pouco os olhos. — "Só continua respirando, sem surto."

— Eleanor Yuna, eu não quero viver apenas alguns momentos com você, quero viver minha vida inteira ao seu lado. Com todas as partes, boas e ruins, felizes e tristes. — Seu olhar era tão carinhoso que meu coração deu algumas cambalhotas. — É um sentimento novo para mim, amar alguém desse jeito, mas eu tenho certeza do que quero, por isso preciso saber: Yuna, você aceita se casar comigo?

Abri a boca para responder, contudo parece que as palavras haviam me abandonado.

Então era aquela a resposta de Deus para as minhas orações, para todas as vezes em que perguntei a Ele se Samuel era a pessoa certa para mim ou se meu coração estava apenas tentando me iludir.

Eu estava surpresa demais para que meu cérebro entendesse a pergunta e desse a resposta.

Infelizmente Sam encarou aquilo como dúvida e hesitação.

— Eu sei que não sou um príncipe ou coisa do tipo, sou apenas um plebeu de Cristyn, um homem cheio de defeitos, mas apesar de tudo isso eu tenho o mais importante, amo a Deus e me esforço para dar o meu melhor. Talvez você sempre tenha sonhado com mais e....

— Sam, não estou desdenhando de você — interrompi seu discurso. — Nunca faria isso.

— Eu sei, me desculpe. — Ele suspirou e não aguentei ver sua expressão chateada. — É que seu silêncio está me deixando em pânico.

Respirei fundo e segurei sua outra mão.

— Samuel, pode repetir a pergunta? — Seus olhos encontraram os meus e brilharam intensamente.

— Yuna, você quer casar comigo?

— Quero, muito mesmo. — Abri um largo sorriso para expressar toda a minha felicidade.

— Por um segundo eu achei que diria não. — Riu aliviado. — Esperei tanto tempo para poder te revelar meus sentimentos! Tudo bem, foram três meses, mas pareceu bem mais.

Achei graça do seu exagero, porém eu estava esperando um bom tempo para fazer outra coisa.

— Posso te dar um abraço de verdade agora? Um que não seja de despedida e sem jeito. — Apertei os lábios nervosa.

— Claro que pode.

Ele abriu os braços e eu me aconcheguei no seu peito, sorri ao ter certeza que aquele era meu abraço favorito, o melhor de toda a minha vida.

— Agora uma coisinha atiçou minha curiosidade — disse ao me afastar dele.

— Deixar eu chutar — fingiu pensar —, seria o que seu pai achou quando eu pedi sua mão a ele?

— Exatamente! O que ele disse? Não ficou bravo ou algo assim? Duvido ter ficado na mais perfeita paz.

— Ele me fez um batalhão de perguntas, as quais têm direito de fazer, afinal, quem daria sua preciosa filha sem ter certeza das intenções do pretende? Contudo não houve nenhum problema, respondi tudo e ele ficou satisfeito.

— Sério? Como conseguiu essa proeza? — Sorri desconfiada.

— Sendo eu. — Deu de ombros com superioridade e eu gargalhei ao perceber que estava me imitando.

— Samuel, Samuel... — Balancei a cabeça encenando desaprovação. — Você está bem engraçadinho.

— É porque eu estou muito feliz. — Ofereceu um de seus lindos sorrisos enquanto entrelaçava nossos dedos e me fez suspirar como a boba apaixonada que eu era. — Vem, precisamos contar a novidade à nossa família.

Caminhei ao lado dele enquanto pensava em como Deus fazia tudo de modo melhor do que eu imaginava, cada detalhe da minha vida foi escrita pelo meu amado Criador. Bom, se Ele escreveu, estava pronta para viver cada um desses dias.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora