43- Todo o bem que puder

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— ...Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. — Pousei as mãos sobre a Bíblia após terminar a leitura do capítulo 16 do evangelho segundo João. — Eu amo ler os evangelhos e imaginar Jesus andando por esse mundo, ensinando os discípulos, curando as pessoas. É maravilhoso pensar que Deus se fez carne para morrer numa cruz em nosso lugar, fico cada vez mais admirada com tamanho amor e graça.

Dirigi o olhar para meu irmão, o médico havia me dito que fazer aquilo não mudaria nada, mas eu não lhe dei ouvidos, como ele poderia saber?

— Jesus nos deixou o Consolador, Ele está aqui agora, trazendo esperança e paz para o meu coração. — Suspirei em meio a um sorriso. — Me abater não trará nada de bom, certo? Preciso buscar forças em Deus, o único que pode me dar verdadeira paz.

Continuei lendo por um bom tempo na companhia do meu irmão inerte, até a enfermeira ir me avisar que era hora de trocar os curativos.

Já era o dia seguinte e tudo permanecia igual, exceto o silêncio sufocante que tinha dominado o palácio.

Sai do quarto e fui procurar minha mãe, queria alguém para conversar e sabia que ela era a melhor escolha.

Bati na porta do seu quarto e ouvi um "pode entrar" abafado.

— Oi. — Abri um pequeno sorriso sentando ao seu lado na cama.

— Oi. — Deixou o livro em suas mãos de lado e se virou para mim. — Como seu irmão está? Alguma mudança?

— Não, permanece igual, pelo menos aos meus olhos. — Deitei a cabeça em seu colo e suspirei ao sentir seus dedos correndo pelo meu cabelo. — Quero que toda essa confusão acabe logo.

— Se depender do seu pai está apenas começando.

— O que ele vai fazer? — perguntei receosa.

— Está desde cedo em uma reunião com o Conselho, mas pelo que conversamos ele não vai hesitar em atacar o reino vizinho. — Respirou fundo. — Você tem razão, Yuna, essa idéia é horrível! Imagine o que vai acontecer, quantas pessoas vão morrer...

— Mãe, precisamos fazer alguma coisa. — Me sentei de súbito, a encarando.

— E o que faríamos? — Arqueou a sobrancelha.

— Dizer a verdade, que isso só vai pior a situação.

— Não, não vai funcionar. — Balançou a cabeça. — Filha, seu pai está muito bravo, a única coisa que o faria mudar de idéia seria voltar no tempo e impedir o atentado, consegue fazer isso?

— Voltar no tempo eu não posso, porém entender o que realmente aconteceu, isso está no meu alcance. — Sorri tendo uma idéia.

— Não gosto dessa cara de quem vai aprontar.

— Preciso ir em Cristyn e falar com o rei, essa história está muito mal contada.

— Ir até lá e falar com o rei? Você deve ter batido a cabeça e ficado doida. — Deu risada esperando que eu desistisse, contudo isso não aconteceu. — Não mesmo, pare de inventar situações para se colocar em risco.

— Estou disposta a correr esse risco. — Dei de ombros.

— Olha, pense com cuidado, agir por impulso é o que menos queremos agora. — Seus olhos transmitiam seriedade.

— Mas, mãe...

— Mas nada! Me recuso a te deixar fazer algo tão maluco.

— Tudo bem, sugira outra coisa então. — Cruzei os braços voltando a deitar em seu colo.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora