22- Doçuras e amarguras

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Três semanas haviam se passado desde o momento que contei a verdade aos meus pais. Três semanas que nossa relação foi abalada aparentemente de forma definitiva.

Minha mãe ainda trocava algumas palavras superficiais comigo depois que lhe pedi perdão, porém meu pai nem sequer me olhava nos olhos. Eu tentei reestabelecer os laços, mas ele apenas decretou que só me perdoaria se eu deixasse o cristianismo, sendo assim, não houve acordo algum.

O único que se manteve ao meu lado, fisicamente, foi Nathan. Não consigo descrever o quão importante foi para mim tê-lo por perto.

Contudo, nem só de tristezas foram meus dias. Trícia tinha se tornado uma grande amiga quando lhe contei sobre minha conversão, nos aproximamos tanto que até pedi para mamãe fazer dela minha dama de companhia, o que nos deu muito tempo juntas para conversar sobre o Evangelho.

Os dias se seguiram calmos até o momento da viagem para Evanor, onde ocorreria o baile de fim de outono, quando tudo se agitou com os preparativos.

O dia havia amanhecido frio. Apesar do sol brilhar no céu, uma ventania causou leves arrepios na minha pele quando parei no jardim à espera dos meus familiares. Meu irmão foi o primeiro a sair de casa.

— Animada? — Se colocou ao meu lado com um sorriso estampado no rosto.

— Esperamos por isso o ano inteiro, certo? Mal vejo a hora de ver nossos avós, tios e primos.

— Inclusive o tio Philip, a tia Isabel e o... — Fez uma careta fingindo ânsia. —... Theodore.

— Se controle. — Dei risada.

— Vai dizer que gosta desses esnobes? Eu tenho que me segurar para não falar umas verdades toda vez que eles tratam a mamãe daquele jeito.

— Também não gosto deles, mas não dá para tirá-los da família. — Elevei os ombros. — Tudo que me restou foi orar para Deus transformar a mente deles e nos dar paciência.

— Peça paciência extra para mim, não quero ter que tirar aquele sorrisinho do nosso primo com um soco.

Ia repreendê-lo, porém nossos pais finalmente chegaram e nos apressaram para entrarmos na carruagem que nos levaria até o porto.

O trajeto até lá foi silencioso, tudo que me restou foi olhar a passagem de tons alaranjados ficando para trás com o decorrer do tempo.

Mais ou menos uma hora depois já estávamos no navio real a caminho da terra natal da minha mãe.

Eu estava me esforçando para ficar animada, mas vez ou outra uma sensação de medo tentava fazer morada em meu coração. E era do fundo desse mesmo órgão que eu implorava para um certo rapaz não estar naquele baile.

***

— Vocês estão tão crescidos! Estava com tanta saudade desses meus netos de olhinhos puxados. — Vovó Amelie puxou Nathan e eu para um abraço apertado.

— Vai esmagar os garotos desse jeito, Amy. — Nosso avô saiu em nossa defesa, mas também deu um longo abraço quando chegou sua vez.

A recepção no Palácio de Evanor foi totalmente acolhedora, talvez pelo fato de certos parentes ainda não estarem presentes, nossos tios e primos nos encheram de cumprimentos calorosos e perguntas comuns depois de meses sem se ver.

— Está tão linda, Ellen. — Tia Helena elogiou quando estávamos sentadas lado a lado na sala, esperando o resto da família chegar para o jantar.

— Obrigada, tia. Acho que devo isso as suas dicas — disse lembrando das nossas últimas conversas sobre moda e beleza, algo de que ela entendia bem.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora