12- Traumas

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— Uma coisa é atirar uma flecha, outra bem diferente é subir em uma árvore, não vou fazer isso.

Tulip era uma garota aventureira, e doida, e eu tinha acabado de descobrir.

— É só uma árvorezinha, Yuna, e a vista lá de cima é linda! — garantiu com um largo sorriso.

— A queda deve ser linda também — respondi com ironia.

— Não é nada perigoso, eu faço isso desde criança, nunca deu errado.

— Mas eu sou uma princesa, não subimos em árvores — argumentei com a primeira desculpa que passou por minha mente.

— Ora, ora, ora! Temos aqui uma princesa hipócrita se contradizendo. — Samuel não perdeu a oportunidade de zombar.

O encarei com os olhos semicerrados, mas sem nenhuma resposta para a minha defesa.

— Eu saio por algumas horas e vocês já tem até piadas internas? O que está acontecendo? — Tulip balançou a cabeça entre risos. — Deixe de moleza, sei que a senhorita é capaz disso e muito mais, devem haver muitas surpresas dentro dessa caixinha.

Cocei a nuca com nervosismo, pensando em uma saída para aquela situação. Por fim dei alguns passos para trás e balancei a cabeça para os lados, tentando ser firme.

— Tenho certeza que se eu subir aí vou me esparramar no chão em segundos.

— Eu estou aqui em baixo, se você cair, te seguro. — A sugestão de Samuel me fez olhá-lo de imediato.

"Assim eu vou ter que cair, querido." — não consegui evitar o pensamento.

— Mas se eu não conseguir pegar você, do chão não vai passar, garanto. — Então ele pisou na minha felicidade e ainda sapateou.

— Que doce você. — Revirei os olhos mais indignada comigo mesma.

— Ignora o Sam, você vai ficar bem.

— Olha só, eu tenho um trauma, está bem? — confessei cruzando os braços e os irmãos me encararam esperando que eu continuasse. — Eu e meu irmão éramos bastante bagunceiros quando crianças, e um dia inventamos de subir em uma árvore do nosso quintal, eu até consegui acompanhar meu irmão, mas acabei me desequilibrando e tendo o chão como cama. Só que durante a queda um galho fez um rasgo no meu braço.

Ergui a manga da blusa e mostrei a cicatriz de uns cinco centímetros, só para potencializar meu relato dramático.

— Que ótimo! Quer dizer, não o acidente, mas a revelação. — Tulip se apressou a falar. — Veja bem, os traumas precisam ser superados senão acabam virando monstros debaixo de nossa cama, ou pior, dentro da nossa cabeça. Sendo assim, você precisa subir.

— O objetivo era causar comoção, não incentivar sua idéia — resmunguei olhando para ela com descontentamento.

— Vamos lá, princesa! Eu bem sei o quanto Tulip é insistente, chega a irritar, porém quase sempre ela está certa — Samuel tentou me convencer.

Encarei a garota que estava com uma expressão determinada.

— Está bem, eu vou tentar — cedi à pressão.

Tulip comemorou minha decisão do seu jeito enérgico, seu irmão se limitou a um pequeno sorriso de lado.

A garota me instruiu como fazer aquilo da maneira correta e eu a obedeci, mesmo sentindo que estava me jogando de um precipício por vontade própria.

— Não foi tão ruim... — balbuciei quando aquilo terminou, bom, pelo menos a parte da subida havia terminado. — Só não posso olhar para baixo.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora