26- Coração teimoso e brilho eterno

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4 meses depois...

— É finalmente primavera! Dá para acreditar, Trícia? — Me debrucei no parapeito da janela podendo sentir a brisa perfumada tocar meu rosto, as belas flores do jardim já desabrochavam em pleno esplendor.

"Deus é tão bom!" — O pensamento logo veio a minha mente diante de tanta beleza.

— Foi um inverno rigoroso, mas depois dele sempre vem a primavera, não é? — A moça sorriu e eu concordei. — Agora me deixe terminar de arrumar seu cabelo.

— O sol derretendo a neve, a grama verde começando a reaparecer — sentei-me em frente ao espelho —, tudo isso não parece poético para você? Te lembra algo?

— Sim! — respondeu compreendendo minha linha de raciocínio. — É como a vida, certo? Depois das longas noites frias de inverno, o sol vem e aquece até as partes mais frias, trazendo de volta cor às nossas vidas.

— Nossos pensamentos estão compatíveis. — Ri a olhando pelo reflexo.

Me despedi dela quando seu trabalho terminou e fui para onde começava o meu.

— Bom dia, Joe! — cumprimentei o guarda parando em frente ao escritório do meu pai.

— Bom dia, princesa. — Sorriu fazendo uma reverência e barrando minha passagem. — Não pode entrar.

— Por que? — Ri confusa. — Tenho que fazer meu trabalho.

— Ordens do rei. Ele e seu irmão estão conversando sobre algo sigiloso, me pediram para não deixar ninguém entrar.

— Vão demorar muito?

Antes que ele pudesse responder meu irmão abriu a porta e me olhou surpreso.

— O que faz aqui? — Fechou a porta atrás de si.

— Eu trabalho aqui. — Cruzei os braços estranhando sua atitude.

— Verdade. — Riu sem graça. — Enfim, já vou indo, bom trabalho.

— Ei, o que estavam falando de tão sigiloso lá dentro? — Minha curiosidade falou mais alto.

— Como você disse, é sigiloso. — Piscou para mim e foi embora, me deixando com cara de boba.

Ignorei a risadinha do Joe e entrei no escritório do meu pai.

— Bom dia, querida. — Me cumprimentou com os olhos fixos na folha em mãos. — Só preciso que organize essas informações sobre a mesa e está liberada.

— Só isso? Sinto que estou a ponto de ser demitida — brinquei me sentando em frente à papelada.

— Mas na verdade é isso mesmo — disse e conseguiu minha atenção. — Seu castigo já durou muito tempo, hoje é seu última dia aqui.

— Para mim não é mais um castigo, estou aprendendo muito e de brinde passo mais tempo com o senhor. — Sorri e ele retribuiu.

Havia aprendido muito sobre a política do reino nesse período, ouvido de perto os problemas e como eram resolvidos, lido cartas de representantes de diversas partes do reino e entendido sobre os desejos do povo.

Mas eu tinha uma motivação particular para gostar tanto do trabalho. Era através dele que eu fazia minhas pesquisas à procura de informações para desativar o tratado. Vinha sendo uma tarefa árdua, parecia que nenhuma autoridade tinha algum dia tido vontade de desfazer o documento.

Talvez nenhum deles tenha encontrado o que eu encontrei. Provavelmente não tinham sequer visto o que eu vi, ansiado pelo que eu ansiava.

A cada dia eu ficava mais frustrada e cansada de sonhar com o dia que aquele maldito conflito caísse por terra, orava incessantemente por isso, mas já estava começando a acreditar que só reveria meus amigos no dia que Cristo buscasse sua igreja.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora