10- A biblioteca

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— Achei que estava brincando quando disse que iria estudar. — Nate se jogou em um poltrona da biblioteca.

— Não mesmo.

Estiquei a mão pegando um livro de história na estante, como precisei mudar os planos, faria algo de produtivo.

— A História de Salun? Tedioso. Passamos anos da infância estudando isso, Ellen. — Revirou os olhos tomando o livro de minhas mãos.

— Você, como futuro rei, deveria amar a história de seu reino.

— O próprio rei está me ensinando tudo o que preciso saber, e muito mais. — Soltou o ar com força. — Você não faz idéia de como minha mente está saturada.

Encarei o homem a minha frente com certa compaixão, papai era bem rígido quando queria, isto é, em grande parte do tempo.

— Tudo bem, nada de história por hoje. — Puxei o livro de volta e ele me retribuiu com um sorriso que fez seus olhos fecharem. — Mas não há nada mais a se fazer aqui a não ser ler.

— Sua mente é extremamente limitada, irmã, há muitas possibilidades quando se usa a mente. — Ele deixou seu lugar e começou a procurar alguma coisa nas estantes.

— Oh, que filósofo. — gracejei.

— Deixe de conversa e me ajude.

— Se eu soubesse o que você está procurando...

— Um livro azul grande e fino — descreveu o objeto de sua procura.

Inspecionei um lado de uma das estantes enquanto meu irmão olhava o outro.

— Ellen — chamou-me certo momento. — O que você tanto faz perto da floresta?

— Ora! Lendo, pensando na vida, essas coisas — menti descaradamente.

— Ah, sério? — Seu tom de voz era cético.

— Deixe de curiosidade, Nathan.

— É preocupação. — Apareceu no fim da estante com um semblante sério. — Sabe que pode me contar qualquer coisa.

— Não a nada para contar, Nate, pare de ser paranóico — apelei, tentando convencê-lo a esquecer aquele assunto.

— Não sou paranóico — respondeu ofendido.

— É o que alguém paranóico diria — brinquei quebrando o contato visual e voltando a olhar as estantes — Olha, acho que é seu livro ali em cima.

— Eu te conheço há dezenove anos — murmurou subindo em uma escada para alcançar o livro.

— Que engraçado, eu também.

— Bom, desde criança sempre fomos muito unidos e contávamos tudo um para o outro, não se lembra?

— Lembro, mas isso mudou há uns cinco anos, Nathan. — Puxei um livro qualquer só para não precisar olhá-lo.

Por um momento ele ficou em silêncio e pensei que não tocaria mais no assunto, porém estava enganada.

— E acha que é culpa minha? — Sua voz soou próxima.

— Eu não disse...

— Mas parece que é o que você está pensando. — Sua seriedade me fez abaixar o olhar. — Vamos, Eleanor, é isso que você estava pensando, certo?

— Que droga, Nate, já disse que não — resmunguei.

— Ótimo, porque nós dois mudamos nesses últimos anos. Eu fiquei focado a maior parte do meu tempo em agradar o nosso pai e você... bom, você parece ter se isolado do mundo tanto quanto pode.

Graça, margaridas e cháOnde histórias criam vida. Descubra agora