Eu havia mudado nas últimas semanas, conhecer a Deus vinha sendo maravilhoso e eu O amava cada dia mais.
No entanto a sombra do meu passado às vezes obscurecia minha vida, tornava tudo mais pesado. Como se uma âncora estivesse amarrada à mim, me puxando para o fundo.
Dois dias haviam se passado e o tão esperado baile seria naquela noite, porém não conseguia ficar animada como os outros, tinha certeza que meu passado me encontraria naquele salão.
Eu queria fugir, mas sabia que não era o mais sensato a se fazer. Precisava acabar com aquela confusão dentro de mim antes que ela tomasse proporções maiores.
E foi por isso que recorri a única pessoa que poderia e estaria disposta a me ajudar: Trícia.
A garota estava concentrada na leitura que fazia e eu fiquei a encarando, esperando a hora certa de chamar sua atenção, porém ela nunca parecia vir.
— Por que a senhorita está me olhando? — Abaixou o livro.
— Queria te contar uma coisa. — Mordi o lábio nervosa.
Ela percebeu que era algo importante e veio se sentar perto de mim. Me preparei para lhe fazer uma revelação que era motivo de meu tormento há algum tempo.
— Primeiro eu preciso que você me prometa que não vai contar para ninguém o que te falar aqui, entendeu?
— Você está me assustando, princesa. — Arregalou os olhos.
Abaixei o olhar, porém recobrei a postura no mesmo instante, eu tinha que me controlar.
— Eu cometi um erro bem grande e o peso disso parece nunca me abandonar. — Apertei as mãos no colo.
— Me diz o que aconteceu e vou fazer tudo que puder para te ajudar.
— Eu passei algumas semanas com vários jovens príncipes e princesas em Estaryn. Era para ser apenas um período para aprendermos mais sobre nossas posições na sociedade, mas quando você junta muitos jovens e os deixa sem supervisão por um minuto, bom, coisas podem acontecer.
— Coisas?
— Você já vai entender — afirmei voltando a contar os acontecimentos. — Erick, um dos principes, e eu acabamos nos aproximando nessas semanas, e quanto mais conversamos um sentimento novo ia surgindo dentro de mim. Era impossível não sentir meu coração acelerar quando estávamos próximos, aos meus olhos de garota apaixonada ele era gentil, divertido, o melhor rapaz do mundo.
— Nossa, a senhorita estava realmente apaixonada.
— É, eu gostava dele de verdade e pensei seriamente que ele sentia o mesmo. Contei sobre isso para a Liz e ela me aconselhou a declarar meus sentimentos para ele, o que sei hoje que foi uma péssima decisão, mas eu fiz o que ela sugeriu. O chamei para conversar, eu não estou mentindo quando digo que minhas intenções eram apenas essas, porém as dele ao ouvir meu pedido eram outras.
A moça se mexeu desconfortável, acredito que ela já imaginava o que diria a seguir.
— Fomos até o jardim e eu disse o que estava no meu coração, esperando ser correspondida, óbvio. Você não sabe o quanto fiquei feliz quando ele disse que também gostava muito de mim, mas as palavras não foram o suficiente para ele.
Engoli em seco, a pior parte estava por vir.
— Ele me pegou de surpresa com um beijo, naturalmente fiquei em choque porque era meu primeiro, mas ao invés de afastá-lo eu retribui. — Soltei o ar com força, estava brava comigo mesma. — Foi uma das coisas mais estúpidas que já fiz.
— Calma, todos cometemos erros. — Tentou me tranquilizar.
— Essa era minha desculpa favorita quando meu cérebro tentava suavizar as coisas, porém hoje eu queria ter guardado algo tão especial para alguém que realmente me amasse e quisesse passar o resto da vida comigo. — Foi inevitável não lembrar da conversa com Tulip.
— Esse é o fim da história? — Franziu a testa.
— Quem dera. Continuamos nos beijando, estava nítido que ele tinha muito experiência naquilo e que queria mais do que eu estava disposta a oferecer. Foi no momento que eu percebi isso que finalmente o empurrei para longe de mim. — As cenas pareciam intactas na minha mente. — Ele me olhou sem entender, mas depois sorriu de um jeito malicioso e me perguntou se eu queria ir para um lugar mais "reservado".
— Eu não estou acreditando nisso. — Trícia ruborizou. — O que ele achava que você era? Que homem ridículo!
— Talvez eu tenha dado a entender isso... — Dei de ombros sentindo a culpa cair sobre mim.
— Não, Ellen, você não é assim, ele que parece ser um pervertido! — Apertou minha mão.
— Eu não também não era uma santa, Trícia. — Soltei sua mão ao lembrar de quem eu era antes de Cristo. — Talvez nem hoje eu seja boa o suficiente para sequer sonhar em um dia dividir a vida com um dos filhos de Deus.
— Eleanor? — Chamou com a voz firme e eu olhei para ela. — Todos nós somos pecadores, cada um de nós luta contra pecados diariamente, e é isso que importa, lutar contra o pecado com o objetivo de ser mais parecida com Cristo. Você não é a única que tem um passado que prefere esquecer.
Fiquei um tempo quieta, refletindo no que ela disse.
— Você já terminou? — perguntou com cuidado e eu balancei a cabeça, negando.
— Bom, quando que ele me sugeriu ir a outro lugar eu senti um misto de raiva e vergonha, e é claro que disse não. No entanto ele tentou me convencer, tentou se aproximar de novo, mas eu disse que não era esse tipo de aproximação que queria quando o chamei para conversar. Ele tentou me seduzir com uma conversinha, mas eu fui firme no meu não e isso feriu o ego dele, não aguentou ser rejeitado.
— O que ele fez depois disso?
— Foi embora, mas deixou em mim uma sensação ruim que ainda não me abandonou por completo. Eu achei que o tempo acabaria com esse trauma, mas pelo visto o tempo só fez questão de reacendê-lo. Ele provavelmente vai estar nesse baile e não sei como reagir à isso, e se ele vir falar comigo?
Trícia ficou alguns minutos em silêncio, parecia absorver tudo que acabara de ouvir.
— Você está arrependida? — Olhou em meus olhos e eu assenti sem hesitar. — Então por que fica remoendo isso? Princesa, seus erros do passado foram apagados e seus pecados perdoados no momento em que entregou sua vida ao Senhor! Não há motivos para se culpar por pecados já perdoados, lembre do que Jesus dizia às pessoas que curava: Vá e não peques mais. É sobre sua nova vida a partir da cura, não sobre seus pecados anteriores.
— Eu estou tentando diminuir a graça dEle, não é? — Coloquei as mãos no rosto.
— Sinceramente? Está — segurou minhas mãos, tirando-as do meu rosto —, mas vamos focar em como resolver o problema, não em ficar se culpando por ele.
— O que eu faço? Tudo que eu quero é voltar a sentir paz, não quero que nada tire meus olhos de Deus, muito menos meu passado.
— Você já orou sobre isso? — Balancei a cabeça negando e ela continuou. — Então é isso que deve fazer! Conte para Deus seus medos e ansiedades, entregue tudo nas mãos do único que pode acabar com todos os problemas. Você tem um Pai que te ama, apesar de todos os nossos pecados o Criador do universo nos ama! Por que então não correr para os pés dEle constantemente?
— Tem razão, é isso que farei! — Sorri sentindo a fagulha de esperança reacender dentro de mim.
Trícia me deixou sozinha e eu ajoelhei ao lado da cama. Respirei fundo e fiz uma oração sincera ao meu Deus expondo cada um dos meus medos e mostrando que estava realmente arrependida.
Era impressionante como falar com Deus trazia uma segurança para dentro de nós, fixei um lembrete na minha mente para nunca mais hesitar em contar tudo o que sentisse a Ele, não havia alguém melhor que Deus para curar, reanimar e iluminar nosso caminho.
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Graça, margaridas e chá
SpiritualSérie Redenção: Livro 1 Eleanor Yuna nunca imaginou que atravessar um rio pudesse mudar o rumo de sua vida. A princesa não almejava de jeito algum ser o centro das atenções ou ter que tomar decisões importantes. Estar nas sombras era bem mais confo...