32: Os perseguidores

373 32 79
                                    

25/04/2018, 7:56PM
8 dias após o sequestro.
Dia em que Lilly lançou o vídeo.

A reunião estava prestes a começar. Na sala, além de mim haviam mais outros conhecidos da academia, pessoas com quem eu passei pouquíssimo tempo, e quando tínhamos interações normalmente falávamos sobre mulheres ou sobre o último jogo da temporada de basquete, normalmente acompanhados de maços de cigarros e garrafas de cerveja.

Eu terminava de tragar o meu cigarro, e soprei a fumaça de minha boca enquanto amassava a ponta que sobrou no cinzeiro, que já estava quase cheio. Eu não era o único fumante naquela sala, e todos pareceram querer descontar o estresse no vício. Não que eu queira julgá-los, afinal, eu mesmo estava fazendo isso nesse exato momento.

Haviam alguns novatos dessa vez, deveriam ter pelo menos quatro, a maioria especializados em computação e programação, além de uma série de outras modalidades que os tornariam essenciais em sua missão, se bem que eu não estava tão otimista para isso.

Eu não era um dos mais velhos no caso, mas os quatro anos que eu participo nessa caçada incessante já me fizeram acumular experiência mais que suficiente para chegar a conclusão de que nosso alvo é praticamente um fantasma. Desde quando conseguiu escapar por nossas garras, esse cara simplesmente desapareceu. Não deixou um rastro sequer sobre seu paradeiro, o que é impressionante. Todas as buscas que fazemos não nos leva a lugar nenhum, bem como cada pista, que pareceu ser colocada minuciosamente para que nós não o encontremos. É como correr atrás do próprio rabo, e todos os outros, exceto os novatos, já sabiam disso.

As reuniões que eram feitas de início traziam uma ponta de esperança, e criavam em cada um de nós o sentimento de que estávamos perto de encontrá-lo, mas no fim era sempre a mesma coisa: as pistas não levavam a lugar nenhum, parecia que ele simplesmente tinha deixado de existir. Gradualmente, as reuniões se tornaram menos cativantes e mais monótonas, e todos aproveitavam a situação para encherem os pulmões de fuligem enquanto escutavam por uma hora o nosso chefe passar as informações, bem como eu mesmo estava fazendo.

Porém, dessa vez, algo pareceu diferente. Não sei ao certo, mas talvez pelo modo como o chefe entrou, com um olhar firme e autoritário, com aquela atitude de liderança inspiradora... de certo modo, isso me fez pensar que algo tinha acontecido dessa vez, e muito provavelmente não seria correr atrás do vento. Não dessa vez.

Essa poderia ser a nossa revira-volta.

Rapidamente os que ainda fumavam apagaram as pontas dos cigarros e esperaram sentados pelas orientações. Reparei que os novatos estavam tensos, muito provavelmente esse seria o primeiro grande caso deles.

"É como uma pintura do passado", refleti enquanto olhava distraído para os jovens. Isso me fez sorrir levemente, me lembrando do meu início como um agente, mas não tive tempo para ficar distraído dessa forma, haviam coisas mais importantes que o passado naquele momento.

- Reuni vocês aqui porque tenho boas e más notícias - o chefe comentou, deixando sobre a mesa uma pasta que eu reparei que ele estava carregando somente agora. - Porém, antes das explicações, quero os relatórios das análises até agora - de repente ele começou a me encarar. - Agente Hernandez, pode nos dar o seu relatório?

- Sim, agente Keen - concordei com um tom de voz firme, então me levantei, e olhei uma pilha de papéis que antes servia como apoio para o meu braço antes de encarar os demais agentes, que também me olhavam. Os novatos pareciam bem mais atentos que os demais, se pudessem provavelmente estariam tomando nota de tudo o que eu iria falar. - Eu, junto com os agentes Lee, Harris e Malik somos os responsáveis pelas investigações em New York. No ano passado foi descoberto por meio de meses de perseguição e monitoramento um possível esconderijo do alvo no estado do Missouri, na cidade de St. Charles. Posteriormente, fizemos uma invasão ao provável local, que seria um quarto de um hotel pouco conhecido pela cidade, onde aparentemente não havia nenhuma anomalia até repararmos que numa lixeira havia um recibo da compra de uma passagem de avião até a cidade de New York; imediatamente fomos para lá, e obtendo acesso às gravações das câmeras de segurança do aeroporto descobrimos a direção pela qual o suspeito que correspondia ao perfil de Jake seguia. Levou algum tempo, porém conseguimos traçar uma rota de seu movimento, e descobrimos por meio disso, até perdermos o seu rastro por falta de gravações (lembrando que estávamos em dois dias de atraso em comparação ao tempo em que foi prevista a chegada do suspeito na cidade), encontramos um aparelho celular de modelo muito antigo, deixado pela pessoa em um dos locais em que foi visto. Examinando o conteúdo no celular, não se obteve informações, exceto pelo fato de que, arquivados à sua memória, tinham documentos relacionados à alguns dos atentados cometidos por Jake em seu passado. Se quiserem saber mais, podem observar esse relatório que foi escrito sobre o acontecimento, embora o essencial já foi dito.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora