40: Fuga mal-sucedida

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28/04/2018, 4:41PM
11 dias após o sequestro.

Meus olhos se abrem vagarosamente, e eu me decepciono ao ver que acordei viva, dentro desse meu inferno particular. Sinto minha boca seca, e dor nos meus pulsos por estar há tanto tempo algemada, e pelas incessantes tentativas de escapar. Mesmo desacreditada de que eu realmente conseguiria contornar essa situação já há algum tempo, eu no fundo recusava a possibilidade de morrer inutilmente. Se eu fosse cair, seria lutando, e não rendida como uma completa covarde. Mesmo que fosse difícil para eu me manter convicta a essa ideia, ainda mais mentalmente fragilizada como eu realmente estava, todas as vezes que eu dormia e acordava eu me esforçava para permanecer focada e obstinada a sair daqui e voltar para os braços das pessoas que amo.

O lugar estava como de costume: eu estava sentada sobre o colchonete velho, com travesseiros ao meu lado; havia uma mesa de madeira à minha esquerda, bem como duas cadeiras. Tudo feito do mesmo material; à minha direita, tinha uma porta que dava acesso ao banheiro, a qual provavelmente estava trancada. Ele sempre a deixa trancada, a menos que seja necessário para mim usar o cômodo; além disso, a porta diante de mim estava fechada, e por isso eu deduzi que ele estava fora. Quando ele está perto, normalmente a deixa semiaberta ou encostada, se bem que dos últimos tempos para cá ele anda mais agitado e agressivo, sempre esquecendo de fechar a porta. Parecia que havia algo o incomodando, o deixando inquieto... havia que não estava saindo dentro dos conformes, e eu precisaria aproveitar essa sua distração para conseguir sair daqui o quanto antes.

Tive muito tempo para pensar desde quando esse maldito me arrastou para a floresta e me trancou aqui, e nesse tempo aproveitei para analisar todo o cenário ao meu redor, bem como o comportamento do meu sequestrador. Nunca fui burra, sabia que para encontrar o resultado de x eu precisaria multiplicar y com z, e nesse caso, os fatores para que eu conseguisse sair daqui seriam voltados a mim mesma. Já fiquei por tempo demais trancafiada, tempo mais que suficiente para acreditar que Thomas não deu a devida atenção a mensagem que eu o enviei, e que as pessoas já não estavam mais à minha procura, ainda mais depois do que ele fez à Jessy. Minha única esperança estava morta, meus amigos aos poucos estavam se tornando vítimas desse lunático, e de um jeito ou de outro, eu iria sair desse inferno. Eu precisava sair.

Eu já tinha todo um plano arquitetado em mente, mas ainda precisaria contar com a sorte para algumas coisas: quando eu me soltasse das algemas, precisaria contar com a sorte para a porta estar aberta - ou para que eu conseguisse arrombar ela -; para não me encontrar com ele durante a fuga; e também para encontrar o caminho de volta, onde quer que eu estivesse e qualquer que fosse o caminho para sair daqui. Além disso, eu poderia morrer na floresta, mas seria bem melhor do que morrer nas mãos daquele homem perdido em sua própria insanidade.

Tendo plena convicção do que eu faria e disposta a assumir as consequências dos meus atos, eu ergui minhas mãos algemadas até o meu rosto, onde alcancei um grampo de cabelo o qual eu escondia entre as me hás do meu cabelo. O acessório estava torto e desgastado, visto que por muitas outras vezes eu já havia tentado usar ele para abrir as algemas, mas dessa vez eu acreditava que tinha conseguido moldar o acessório de modo que funcionaria.

Alcançando o meio da minha fuga, posicionei com auxílio da minha boca uma das pontas do grampo no buraco da fechadura, e já usando uma das mãos tentei com dificuldade girar o mecanismo e liberar uma das mãos. Pela falta de habilidade e pelo desespero, levei minutos infindáveis, eternos, e cheguei a até mesmo ferir meus próprios pulsos ao ponto de abrir pequenos, mas dolorosos cortes naquela região, mas por fim eu tive um alívio. Escutar o tic da algema destravando e tendo um dos pulsos livres foi uma das melhores sensações que tive ao longo desse tempo todo.

"Esse é o primeiro passo para a liberdade, Hannah Donfort.", pensei e, sem conseguir pensar direito, corri até a porta com a algema ainda presa em um dos meus pulsos, então torci para que estivesse aberta e me alegrei ainda mais com a sorte que tive.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora