43: Uma conversa na madrugada

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29/04/2018, 03:02AM
12 dias após o sequestro.

Não sei o que aconteceu com a Olivia, muito menos o que o sequestrador disse a ela para que ela ficasse naquele estado, mas depois que a chamada se encerrou, ela ficou em silêncio total, com uma expressão vazia, talvez um pouco perturbada. Tentei perguntar algumas vezes para ela sobre o assunto da ligação, o motivo pelo qual ela teve essa reação, mas ela desviou o assunto todas as vezes. Olivia parecia confusa e triste, e era como se ela estivesse dando tudo de si para parecer que não era nada, embora no âmago estivesse desmoronando.

Isso sem dúvida me deixou preocupado. Olivia é importante para mim, mais do que eu mesmo posso calcular, e quando eu a vi naquele estado, me frustrou a impotência que senti. Era como se eu fosse completamente incapaz de ajudá-la nessa situação.

Pouco depois do ocorrido, fomos nos deitar. Já era tarde da noite, e acredito que todos estavam precisando de um descanso. Chester, como um bom cavalheiro, ofereceu seu quarto para Olivia passar a noite, e depois de muita insistência da parte dele ela aceitou. Eu fui para o meu quarto, e juro que tentei dormir, mas nada me tirava da cabeça a preocupação que eu tinha por Olivia.

"Algo grave aconteceu durante aquela ligação", pensei enquanto olhava para o teto do quarto. "Ela sempre me contou sobre as ameaças, e não escondia detalhes dela. Mas nesse caso... há algo de diferente. Talvez ele tenha ameaçado fazer algo com a Hannah? Isso justificaria muita coisa, especialmente ela estar tão receosa para me dizer o que aconteceu, mas eu simplesmente não consigo acreditar nisso. Ela já cogitou a hipótese da minha irmã ter se matado, logo não faria sentido algum ela querer evitar dizer que o sequestrador quer machucar a Hannah. Então... o que ele disse para ela?"

Devo ter ficado por uma ou duas horas apenas pensando no assunto, até que um formigamento tomou conta de mim e eu me levantei e caminhei até o banheiro no intuito de lavar o rosto e tentar clarear as ideias. Manquei por todo o caminho, e senti uma dor no braço que fora machucado quando o usei para abrir a porta. Eu poderia não ter quebrado o braço, mas foi por bem pouco.

Depois que saí do cômodo me arrastei pelo corredor lentamente rumo ao banheiro. A casa toda estava silenciosa como sempre, e eu conseguia escutar alguns barulhos pela casa, e entre eles, ainda nesse mesmo andar, escutei soluços abafados. Caminhei até a origem do som e fiquei diante da porta do quarto onde Olivia estava. Escutei com atenção e percebi que ela estava chorando.

Isso me fez sentir um aperto no coração. Tudo o que eu queria fazer agora era envolver meus braços nela, abraçá-la e protegê-la do que quer que estivesse a ameaçando. Queria fazer com que, do mesmo modo que ela fez comigo, ela tivesse certeza de que eu estou aqui para ajudá-la no que fosse necessário.

Sem nem me dar conta das minhas ações, bati na porta suavemente e falei um pouco baixo:

- Olivia?

*

Desde a maldita ameaça do sequestrador eu não consegui manter o foco. Meus pensamentos iam a mil, e algumas teorias nada agradáveis surgiram pela minha cabeça. Eu não estava nada bem, e a coisa que mais me frustrou naquele momento foi ter que esconder tudo do Jake.

Quando eu me deitei, a situação ficou ainda pior. Eu não conseguia parar de pensar no que aconteceu naquele dia, e mesmo não querendo eu não parava de pensar no Dylan, e em como de repente ele surgiu nessa história toda assim que eu pisei em Duskwood.

"Por que ele começou a exercer um papel principal nas investigações de repente?", pensei deitada na cama. "Não era para ele estar morto?"

Não sei por quanto tempo fiquei sem pregar os olhos, mas toda essa situação me corroeu por dentro. Eu me dei conta de que não havia superado a morte do Dylan, mas que na verdade eu simplesmente estava evitando todo o evento traumático e por isso eu não sofria com isso. Agora, relembrar de tudo pela primeira vez em muito tempo estava me causando muita dor.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora