52: Ciúmes mascarado

263 21 33
                                    

Olivia Hawkins
01/05/2018, 11:03PM
14 dias após o sequestro.

A viatura da polícia chegou junto com a ambulância cerca de vinte minutos depois que o Richy encerrou a ligação. Os piores vinte minutos da minha vida, sem sombra de dúvida.

Fomos encaminhados até o hospital de Duskwood, e no caminho Alan recebeu todo o tratamento necessário para permanecer vivo. Conseguiram estabilizar o seu estado, o que já era por si só muito bom.

Enquanto tudo acontecia, eu estava agindo praticamente no automático, e enquanto chegávamos no hospital, memórias daqueles vinte minutos infernais me torturavam continuamente.

Desde o instante em que Richy abriu o armário e aquele corpo em decomposição caiu sobre os seus braços, e depois, quando ficamos com Alan aguardando pelo resgate... quando Alan começou a piorar e perdeu a consciência.

Cada pequeno momento que passamos naquela casa, cada instante eterno que me fazia enlouquecer cada vez mais gradualmente... foi uma das piores torturas para mim. O pavor que eu senti quando imaginei que as pessoas tentando entrar na casa eram, na verdade, o sequestrador... acredito que a única pessoa que poderia entender exatamente o que eu sentia naquela situação seria Richy, que estava tão abalado quanto eu.

Agora, ainda vestida com roupas sujas do sangue do Alan, eu caminhava até uma das salas de reuniões do hospital, vez ou outra movendo o pescoço para os lados, com receio de acabar vendo o maldito rosto mascarado me observando entre as salas intermináveis daquele corredor que parecia estreitar-se cada vez mais... todas aquelas malditas memórias iam e vinham, e acredito que ao entrar naquela sala, minha lembrança ficaria apenas mais vívida ao ser exposta a outro interrogatório.

Passando pelo corredor da sala em questão, vi Richy saindo do local de reuniões. Saindo de lá ele me olhou, mas logo desviou a atenção pro celular. Reparei que suas mãos ainda tremiam, e muito.

Entrei na sala em seguida sem falar absolutamente nada com ele, e me deparei com dois policiais. Ambos bem vestidos, e pelo modo que me encararam, imaginei que desejavam arduamente por respostas.

Fechei a porta e sem mais formalidades me sentei na cadeira diante deles. Uma mesa nos separava.

- Boa noite, senhorita. Eu sou o detetive Linton, e este é o meu assistente, senhor Briggs - disse o primeiro policial. Esse era um pouco menor que o segundo. Bom porte, rosto comprido, cabelos grisalhos, barba bem feita. Ele se inclinou um pouco mais na minha direção, mãos apoiadas na mesa. - Sinto muito se isso te trazer lembranças difíceis. Mas, acontece que precisamos te fazer algumas perguntas.

- Você pode levar o tempo que precisar para nos responder tudo o que temos a dizer - disse o segundo, mais alto e mais jovem. Não sei o motivo, mas não conseguia imaginar que ele era realmente um policial. A aparência me lembrava mais de um bombeiro. - Fique a vontade para levar quanto tempo for necessário para nos responder.

Meus olhos desceram para contemplar o gravador que estavam usando. Era o próprio celular de algum deles.

Permaneci em silêncio por mais alguns segundos, mas logo afirmei com a cabeça.

- A interrogada afirmou positivamente com a cabeça - disse o que era para ser bombeiro.

- Vamos começar... pode nos dizer o seu nome? - perguntou o velho.

- Olivia Hawkins.

- Certo, Olivia, você é moradora de Duskwood?

- Não.

- E onde você mora?

- Goldtown.

- E tem algum motivo em especial para você ter vindo para Duskwood?

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora