51: Um problema atrás do outro

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Olivia Hawkins
01/05/2018, 09:31PM
14 dias após o sequestro.

Cleo estava ajudando as mulheres do grupo da igreja na venda dos bolos, bem como havia me dito, e Richy pagou para mim um pedaço de bolo de chocolate e frutas vermelhas. O melhor doce que eu já comi na minha vida, sem dúvida alguma.

Conversamos um pouco ao nos encontrarmos, embora eu não pudesse seguir com as minhas investigações como eu gostaria. Me limitei em um diálogo simples, sem levantar questões tão aprofundadas com Cleo enquanto torcia para reconhecer alguma peculiaridade no seu comportamento em meio a um diálogo superficial, e rezava para isso, de algum modo, me auxiliar nas investigações.

Em meio ao bate papo monótono, fomos interrompidos por algo: chamas surgiam ao longe, erguendo uma cortina densa de fumaça negra aos céus daquela noite que deveria ser alegre e comemorativa.

A igreja estava pegando fogo. Um alvoroço começou quase que de imediato. Reparei que pessoas ergueram suas câmeras e passaram a filmar a cena.

A atenção de todos no festival se desviou ao lugar, e o caos se tornou ainda maior quando uma das mulheres da igreja exclamou, em desespero:

- Ah, Deus! O pastor Wolf ainda deve estar lá dentro!

Nisso o alvoroço passou a aumentar ainda mais. Pessoas começaram a se aproximar as pressas da igreja, e nisso eu esbarrei a todo momento por pessoas diferentes, desesperadas para chegar na igreja o quanto antes, basicamente sendo empurrada pela multidão até o centro do conflito. A essa altura, já tinha me distanciado de Richy e Cleo ao ponto de não conseguir vê-los ao meu redor.

Comecei a tentar me enfiar no meio das pessoas procurando por algum rosto conhecido, porém logo desisti. Seria impossível diante dessas circunstâncias que tendiam apenas a piorar. Alcancei o meu celular, pensando em ligar ou mandar mensagem para algum deles, mas meu foco mudou completamente ao receber a mensagem de um número desconhecido por mim. Se tratava de um arquivo de vídeo, e mais nada.

Naquele momento, senti certo medo, como se minha intuição já indicasse a tragédia eminente, porém mesmo assim abri a conversa com o número e passei a assistir a gravação.

O vídeo retratava um lugar escuro, precisei até mesmo aumentar o brilho da tela do celular para poder compreender melhor o que estava acontecendo. Com uma visão um pouco melhor, senti minhas pernas falharem ao me deparar com uma cena simplesmente horripilante.

Ele estava gravando o corpo de uma pessoa, um homem caído no piso de madeira de uma casa. A pessoa estava muito ferida, e havia muito sangue no chão. Mal podia afirmar que a pessoa estava realmente viva levando em consideração o seu estado físico.

Em dado momento, perto do fim do vídeo, a pessoa - que se arrastava pelo chão com persistência, lutando para tentar fugir dali -, foi impedida por um dos pés do sequestrador. Ele pisou força nas costas dele, e segundos depois o desferiu uma série de chutes.

A gravação se encerrou durante os chutes. Por sorte, meu aparelho estava sem áudio, senão eu poderia acabar atraindo a atenção indesejada das pessoas ao meu redor.

Eu estava em choque, tentando processar a situação diante de mim. E foi enquanto eu ligava um ponto com o outro que o número me enviou mais uma mensagem:

[¿?¿ está agora online]
[¿?¿ anexou um vídeo]

[¿?¿] Se você não aparecer aqui agora, eu mato ele.
Sabe onde me encontrar.

[¿?¿ está agora offline]

Levei alguns segundos para processar o que acabei de ver, e me achei infinitamente estúpida por não ter compreendido rapidamente a informação. Cada segundo seria importante, caso eu quisesse salvá-lo.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora