44: Problemático e esquisito

272 21 40
                                    

29/04/2018, 06:05PM
12 dias após o sequestro.

- Desculpa não ter avisado antes, Olivia, mas eu trouxe o Thomas para ir com a gente.

Cleo me avisou assim que eu cheguei no Rainbow Coffee para irmos até o apartamento da Hannah, e me surpreendi quando o vi junto com ela. Essa foi a segunda vez que eu vi Thomas desde quando cheguei em Duskwood, e confesso que olhar para ele me fez ter um misto de sensações, visto que nosso último encontro não fora lá tão agradável. Além disso, eu não sabia se ele ainda tinha a mesma perspectiva de dias atrás sobre a Hannah - e sobre meu envolvimento no caso de seu desaparecimento -, o que aumentava ainda mais minha tensão próxima à sua presença.

Marquei de me encontrar com a Cleo no mesmo dia depois que cheguei do esconderijo do Jake e do Chester, e como ela estava trabalhando, acabamos por conseguir nos encontrar somente quando já estava para anoitecer. Não consegui fazer muita coisa durante o dia, que se resumiu em fritar meus neurônios ao pensar em mil teorias para solucionar o caso e, também, descriptografar a nuvem da Hannah sem o menor êxito. Fiquei sozinha na casa de Jessy desde quando cheguei pela manhã, visto que ela fora buscar Dan e provavelmente estava com ele até agora, e Jake não me mandou mais mensagem alguma ao longo do dia; não era como se ficar sozinha me incomodasse, mas, na verdade, eu queria ter uma companhia ao longo desse dia, somente para não precisar me dar ao luxo de fazer o trabalho árduo e frustrante de descriptografar.

Depois que eu disse que não havia problema algum em Thomas ir conosco, começamos a andar até o apartamento da Hannah. Por algum tempo, ficamos em silêncio, mas logo Thomas puxou assunto:

- Olivia, posso te fazer uma pergunta? - sua voz estava séria, e eu reparei que ele alisou a barba com uma das mãos.

- Claro - respondi.

- Você acha mesmo que a Hannah está viva a essa altura?

Confesso que essa questão levantada mexeu comigo. Não como se eu tivesse dúvidas, mas na verdade, me irritou imaginar que Thomas duvidava que sua namorada estivesse viva. Sem dúvida, ele estava fragilizado com toda essa situação, e era nítido que pouco a pouco ele estava perdendo suas esperanças.

"Como o próprio namorado dela pode duvidar tanto que a Hannah está viva?"

- Não, eu estou prestes a invadir o apartamento da sua namorada em busca de qualquer resquício de informação porque ela está morta - falei com ironia e suspirei.

- Você sabe o que tinha no casaco da Hannah - falou com mais firmeza, um pouco alterado, mas não ao ponto de causar um escândalo. - Você até pôde vê-lo pessoalmente! Não posso sequer me dar ao luxo de ter medo pela minha namorada?

- Thomas, eu sei que você está com receio, mas você precisa entender que pensar em coisas assim vai te fazer vacilar, e se você vacilar, vamos perder um tempo precioso que poderíamos usar procurando pela Hannah, e aí sim as chances de encontrarmos ela com vida diminui - procurei manter a calma, embora esse seu pessimismo realmente me frustrasse.

Thomas ficou em silêncio por um pouco, mas logo disse, com uma voz meio embargada:

- Me prometa que você vai encontrar a Hannah, Olivia. Por favor.

- Eu te prometo, Thomas - falei.

Por um instante, o vi sorrir enquanto pareceu limpar uma lágrima da face, e por mais um pouco o caminho seguiu silencioso, até que eu me dei conta de algo incomum por onde passávamos.

- Por que estão decorando as ruas? - perguntei.

- Isso faz parte de um evento anual - explicou Cleo, se pronunciando pela primeira vez desde a breve discussão que tive com Thomas. - Todos os cidadãos de Duskwood decoram a frente das suas casas e as ruas para uma feira que terá depois de amanhã. É algo tradicional da cidade os moradores começarem a preparar tudo com antecedência, embora eu nunca tenha me aprofundado em saber o motivo disso.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora