42: Lembranças de um trauma

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26/08/2013, 3:10PM
Anos antes do sequestro.

Faltando menos de um semestre para que eu me formasse formalmente como especialista em casos investigativos, o mentor designado para lecionar uma matéria em especial - o qual estava afastado desde o começo do ano letivo por razão até então desconhecida - finalmente havia dado o ar da graça, de modo que agora todos os alunos deveriam pagar a carga horária dessa matéria por meio de reposições, as quais começaram justamente no dia em que eu iria em uma entrevista de emprego para trabalhar provisoriamente como garçonete em um restaurante. Saí da academia de treinamento com certa pressa quando finalmente a turma foi liberada. A reposição de aula havia consumido um tempo muito precioso para mim, e se eu não me apressasse acabaria perdendo minha entrevista de emprego.

No meio do caminho até a saída da academia, cumprimentei alguns amigos, colegas e professores que cruzaram meu caminho entre a escadaria e os corredores, e quando me dei conta havia chego no estacionamento, e pouco depois já estava dentro do meu carro vermelho, prestes a dar a partida no motor quando senti meu celular vibrar em um padrão específico.

Suspirei irritada e tirei o aparelho do bolso. Vi que Dylan estava me ligando, e atendi. Deixei o aparelho no viva-voz sobre o banco do meu lado e terminei de dar a partida no carro agindo praticamente no automático.

- E aí, cabeção - quando o carro ligou, comecei a dirigir para fora do estacionamento.

- Ollie, precisamos conversar - a voz de Dylan estava estranha, ele parecia ofegante, desesperado ou algo assim. Isso me preocupou muito, embora eu apenas tenha erguido uma sobrancelha expressando dúvida.

- O que aconteceu?

- Nada, não aconteceu nada... - ele respirou fundo e eu escutei ele praguejar um palavrão em voz baixa - eu, eu só queria dizer que eu sei que sempre fui um idiota com você. Sempre que eu fico irritado eu acabo descontando em alguém, principalmente em você e-

- Dylan, já falamos sobre isso muitas vezes - o interrompi, irritada com o assunto sendo levantado novamente. - Você era uma criança quando tudo aconteceu, é óbvio que você não conseguiria entender-

- Não me interrompe, por favor. Eu quero dizer que eu sei que eu errei. Eu errei como filho, droga, por minha causa o pai tá todo f*dido da cabeça; e eu errei como seu irmão, Ollie, eu nem sei qual é o nome do seu primeiro namorado, caramba! E eu falhei como pessoa também, eu... eu sei que sou um humano de merda. E eu quero pedir desculpa, por tudo. Por favor, me perdoa.

Essas palavras de Dylan me deixaram ainda mais preocupada. Meu coração começou a acelerar enquanto o medo do mesmo evento de anos atrás se repetir me consumia com cada vez mais intensidade, enquanto eu me esforçava para prestar atenção nas ruas para não causar nenhum acidente.

- Que droga você tá falando? Dylan, você tem noção de tudo o que você está dizendo?

- Eu... eu sei, é loucura. Mas você precisa me entender, Ollie. Não dá para negar tudo o que eu fiz, eu... por favor, entenda - apelou.

- Se você explicasse, seria bem mais fácil de entender - comentei. Soltei uma das mãos do volante para pentear os cabelos para trás, sentindo meus músculos ficando tensos.

- Tudo bem... eu, eu tô voltando pra Goldtown, chego mais ou menos no fim da tarde. Continuamos essa conversa presencialmente, tá?

-... Tá legal. Te espero na minha casa.

- Ok. Eu amo vocês dois.

Dylan em momento algum de toda a sua vida havia dito abertamente que amava eu ou meu pai, ele sempre costumava mostrar por meio de ações do que com palavras assim, e por isso naquele momento eu tive certeza de que havia algo muito errado acontecendo quando ele pronunciou tais palavras. Tive um mal pressentimento na hora, mas decidi o ignorar. O que quer que estivesse ocorrendo, eu sabia que só iria descobrir quando ele voltasse.

Caso: Hannah DonfortOnde histórias criam vida. Descubra agora