UM - DANIELLA

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Acariciei o tecido grosso e soltei o ar lentamente. Devolvi o macação a caixa e peguei a foto.

A unica foto que tinha de Aurora, ela não tinha aberto nem os olhinhos ainda, acariciei de leve com meu dedo e senti a lágrima trilhar sobre minha bochecha.

Eram 21 anos sem saber nada da minha filha, 21 anos sem saber o paradeiro dela, eu ouvi tantas hipoteses, ouvir que quem a roubou poderia ter levado ela para fora do país mas não, meu coração de mãe se negava a acreditar nessa hipotese, eu sentia que minha filha ainda estava aqui, que ela nunca havia saído de Boston.

Ouvir também que jamais a encontraria, mas a pior era ouvir que ela estava morta, mas nessa hipotese eu também não acreditava, eu sinto aqui dentro do meu peito que minha filha está viva, e está aqui em Boston.

Eu só não sabia onde. Eu nunca desistir, estava fora de questão, eu jamais iria desistir de procurar minha Aurora. Lhe dei esse nome e homenagem a minha eterna amiga, minha Aurora estava viva.

Eu sentia.

- Amiga? - Limpei os vestigios das lágrimas e guardando a foto fechei a caixa e me virei vendo Poppy - Já estão todos aqui.

Suspirei.

- Me sinto mal com vocês se limitando a fazer isso todo ano. - Me levantei guardando a caixa.

- Ai Dani, somos uma grande e extensa família, sua dor também é a nossa, e iremos fazer isso sempre até a encontrar. - Eu encarei minha amiga e sorri. - Vem, vamos. - Disse pondo suas mãos em meus ombros me guiando para fora do quarto.

Lá em baixo encontrei todos que sempre encontro neste dia todo ano. Poppy que havia terminado de descer as escadas ficou ao lado do marido Felipe, e a filha deles a Megan, dividia o sofá com minha filha Mirela, e Agatha. Do outro lado da sala tinha Heitor com Guilherme, e mais ao lado Aron com Isaac. E no outro sofá tinha Caitlin e Kristine.

As unicas que faltava era Belinda e Allyson, ambas moravam no Canadá, Allyson comandava a equipe de Patinação de Boston por lá, e Belinda era professora em uma universidade de lá, já tinha alguns anos que não nos viamos, sentia saudades das minhas filhas mais velhas.

Mas tirando isso, ali estava todas as pessoas que de alguma forma fizeram e fazer parte da minha vida, não nós reuniamos com tanta frequência, até porque cada um tinha os seus afazeres, mas nesse dia, todos os anos, todos eles vinham me dar um pouco de força, todos eles compartilhavam um pouco da minha dor.

Eu suspirei enquanto Gustavo atravessava a sala vindo ficar ao meu lado.

- Obrigada por estarem aqui. - Agradeci sorrindo e segurando as lágrimas. - Mais um ano.

- Com a certeza de que no próximo ela estará aqui. - Agatha falou fazendo muitos concordarem.

- Ou não, ou então será mais um ano em que estaremos aqui de novo.- Kristine falou chamando a atenção de todos.

- Kristine não começa. - Mirela pediu.

- Não chega, olha se ninguém aqui tem coragem de falar, eu falo. - Se levantou.- Todo ano isso, todo ano a mesma coisa, a gente faz uma festa, se reune como se ela estivesse aqui mas ela não está, e se ela morreu mãe?

- Para Kristine. - Megan pediu.

- Não. - Ela gritou mantendo os olhos em Megan.

Por alguns segundos.

- É serio eu tou cansada disso, já parou pra pensar mãe? - Ela caminhou até mim mantendo uma distancia razoavel.

- Não. - Respondi um pouco alterada.- Porque o meu coração de mãe sabe que ela está viva, em algum lugar ela está viva.

Kristine revirou os olhos.

- Chega Kristine. - Meu marido pediu me abraçando de lado.

- Vamos cortar o bolo. - Caitlin disse.

Eu apenas suspirei e encaminhamos para o jardim da casa.

Cantamos os parabéns, recebi abraços, recebi homenagens, me emocionei e logo começamos a comer.

Uma música suave tocava no som que preenchia o ambiente, sorri ao ver Mirela e Megan juntas de Heitor e Isaac sorrindo e trocando brincadeiras.

Apesar da dor em volta desste dia, não tinha nada mais gratificante do que está em família.

Peguei uma taça com suco e caminhei em direção a mesa para me sentar ao lado de Gustavo.

Foi quando eu parei no meio do caminho, senti um aperto no coração me acertar em cheio, escutei os vidros se chocarem com o chão, a taça havia caído.

Gustavo rapidamente chegou ao meu lado e me abraçou segurando minha mão e me guiando até a cadeira já afastada da mesa.

- Oque foi? - Poppy perguntou visivelmente preocupada.

- É que, eu senti um aperto no peito. - Respondi com o olhar fixo. - Como se algo fosse acontecer com alguém muito importante pra mim.

Senti uma lágrima cair, o aperto era grande a ponto de me fazer chorar, e isso me preocupava.

Preocupava muito.

...

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